Meninas-mães: os desafios da maternidade para crianças e adolescentes

Meninas-mães: os desafios da maternidade para crianças e adolescentes

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:42

Aos 19 anos, Cintia Cavalcanti teve seu primeiro filho. Nesse período difícil de transição entre a adolescência e a fase adulta, muitas transformações ocorrem, e na vida de Cintia não foi diferente. Grávida, teve de parar os estudos no final do ensino fundamental, quando já se preparava para entrar no médio. O namorado foi o primeiro a aceitar a gestação. Tanto que, de desempregado, arranjou forças para começar a trabalhar, já visando o bem-estar da futura família.

Mas não era bem assim. Cintia não desejou uma gravidez tão repentina. Era jovem, queria aproveitar; se lançar em uma juventude que ainda aflorava em seus nervos, embriagados de adrenalina. Por isso, pensou em abortar.

A decisão de Cintia é comum entre muitas adolescentes. Segundo o Ministério da Saúde, o aborto nessa fase é responsável por 7% a 9% do total, sendo que a maior incidência se dá justamente na faixa dos 17 aos 19 anos. De acordo com dados de 2008, de 12,7% a 40% das adolescentes nessa idade tentam abortar antes de uma decisão segura de manter a gravidez.

Cintia pensava assim porque desejava ser alguém na vida. Mas a gestação a impedia, pelo menos naquele momento. Apesar do pensamento fixo em realizar o aborto, após completar 3 meses de gravidez, aceitou o fato de que seria mãe. O problema foi os pais dela, que de tão decepcionados se recusaram a aceitar – por um período – o destino que a filha traçara para si.

Já a mãe, de tão triste ficou doente, foi internada e pensou em se matar. Desgostou-se da vida, da filha, do futuro neto. Mas, como amor de mãe é maior do que o amor à própria vida, pensou nas dificuldades que a filha “de barriga” e inexperiente poderia passar sem o apoio da família.

O apoio dos pais ajudou Cintia na criação do filho. Mas quando ela pensava que estava voltando ao seu rumo, a vida lhe deu um baque. Assim que o bebê nasceu, o namorado foi morar na casa dos pais dela. Estava feliz por se tornar pai, mas apenas 2 anos depois do nascimento da criança, morreu afogado. Foi um choque, ela diz. E como todo choque geralmente produz luta, essa foi a única saída para se fazer presente como mãe, já que como mulher estava ausente.

Menina e mãe

Com apenas 12 anos, K.P.S. teve o primeiro filho, recentemente, em Goiás. E nem foi porque não conhecia os métodos contraceptivos, ela queria mesmo engravidar. “Eu sabia como prevenir, mas queria ter um filho. Quando contei para minha mãe, ela não acreditou. Aí fizemos o teste”, contou a menina em entrevista ao Diário da Manhã Online, de Goiás.

Cleine Pereira, de 28 anos, é dona de casa e mãe surpresa com a personalidade da filha.  “Quando soube que ela estava grávida, fiquei muito preocupada. Ela é magrinha demais. Graças a Deus, está bem”, diz.

Cursando a 6ª série do ensino fundamental, K.P.S., que engravidou aos 11 anos e 3 meses, teve de abandonar a escola este ano. O namorado, de 16 anos, agora é marido. Os dois já estão morando juntos em uma casa dividida com outra irmã, que, do mesmo modo, está casada prematuramente, aos 14 anos. K., agora uma mulher, fala que cozinha e arruma a casa. Mas, como não deixou de ser criança, brinca também.   Diferentemente dela, que engravidou porque desejava ser mãe, a gravidez na adolescência quase sempre acontece por desatenção. Cintia, por exemplo, conhecia os riscos, sabia como se prevenir, mas não se importou no momento. O resultado foi um desvio de rota na vida da jovem, cheia de ambições e expectativas para o futuro. Mas Cintia superou a fase ruim. Voltou a estudar após 4 anos do nascimento do filho e o cria agradecida a si mesma por não ter abortado. Mesmo não tendo com quem deixá-lo, estudava à noite e se virou como pôde para voltar ao sonho de onde havia parado. Foi uma guerra, diz ela. Mas é na vida de guerras que se conhece a árdua batalha de um soldado lutador.    

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