Professor alemão entregou crianças órfãs a pedófilos durante 30 anos para ‘experimento’

Um estudo realizado pela Universidade de Hildesheim descobriu que as autoridades de Berlim apoiaram essa prática.

Fonte: Guiame, com informações do DWAtualizado: segunda-feira, 22 de junho de 2020 às 13:26
Autoridades de Berlim chegaram a apoiar o experimento do professor alemão Helmut Kentler, dando subsídio aos pedófilos que se prontificavam a adotar crianças através do programa. (Imagem: Getty Images)
Autoridades de Berlim chegaram a apoiar o experimento do professor alemão Helmut Kentler, dando subsídio aos pedófilos que se prontificavam a adotar crianças através do programa. (Imagem: Getty Images)

A partir da década de 1970, o professor de psicologia Helmut Kentler conduziu seu polêmico "experimento". As crianças de rua em Berlim Ocidental foram intencionalmente colocadas com homens pedófilos, sob a suposição de que esses homens poderiam se tornar “pais adotivos especialmente amorosos”, segundo argumentou Kentler.

Um estudo realizado pela Universidade de Hildesheim descobriu que as autoridades de Berlim toleraram essa prática por quase 30 anos.

Helmut Kentler (1928-2008) ocupava uma posição de liderança no Centro de Pesquisa Educacional de Berlim. Ele estava convencido de que o contato sexual entre adultos e crianças era “inofensivo”.

Para agravar a situação, os escritórios de bem-estar infantil de Berlim e o Senado do governo fecharam os olhos para o perigo existente nessa visão e até aprovaram as colocações do professor Kentler. Os pais adotivos (pedófilos) até receberam um subsídio de assistência regular.

Há vários anos, duas das vítimas se apresentaram e contaram sua história, desde então os pesquisadores da Universidade de Hildesheim vasculharam arquivos e conduziram entrevistas.

O que encontraram foi uma rede entre instituições educacionais (o escritório estadual de assistência social à juventude) e o Senado de Berlim, na qual a pedofilia foi "aceita, apoiada e defendida".

Negligência

Fato é que o próprio Kentler mantinha contato regular com as crianças e seus pais adotivos (pedófilos), mas nunca foi processado. Quando suas vítimas foram apresentadas, o crime existente em suas ações já havia expirado judicialmente. Esse fator também impediu as vítimas de receber qualquer indenização até o momento.

Os pesquisadores descobriram que vários dos pais adotivos eram acadêmicos de alto nível. Eles falam de uma rede que incluía membros de alto escalão do Instituto Max Planck, da Universidade Livre de Berlim e da notória Escola Odenwald em Hesse, na Alemanha Ocidental, que esteve no centro de um grande escândalo de pedofilia há vários anos. Desde então, a escola está fechada.

A secretária estadual de Berlim para questões de jovens e crianças, Sandra Scheeres, considerou as conclusões "chocantes e horríveis".

Um primeiro relatório sobre o "experimento Kentler" foi publicado em 2016 pela Universidade de Göttingen. Os pesquisadores declararam que o Senado de Berlim parecia não ter interesse em descobrir a verdade.

Agora, após o escândalo das denúncias, as autoridades de Berlim prometem investigar o caso.

Repúdio

A ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves comentou a notícia e repudiou a relativização da pedofilia.

"Inacreditável! Hoje me deparei com esta terrível notícia. Aqui reitero que não descansarei em minha jornada na defesa das crianças e neste sentido serei intransigente na discussão sobre a relativização da pedofilia. Nem tentem falar comigo sobre isto", destacou.

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