Mudar de ares nas férias é saudável para o desenvolvimento de qualquer criança. Quem não se recorda das brincadeiras com os primos na praia, da farra com a turma na fazenda ou de visitar um parque bacana com a família do melhor amigo na infância? No entanto, as agruras da vida moderna nem sempre permitem que os pais que não conseguiram uns dias de folga desfrutem de tais momentos na companhia dos filhos. A alternativa é permitir que a criança encare sozinha a temporada de lazer. Mas será que ela está preparada para viver essa experiência pela primeira vez? Para descobrir a resposta, confira os dez fatores que você precisa levar em consideração antes de começar a preparar a mala.
1. CONSIDERE A IDADE CRONOLÓGICA
Segundo a psicopedagoga Teresa Helena Schoen-Ferreira, do Setor de Psicopedagogia do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não é aconselhável que crianças na faixa dos 5 ou 6 anos viajem sozinhas. Crianças muito pequenas não têm a coordenação motora totalmente desenvolvida. Além disso, não possuem uma capacidade ampla para organizar as próprias roupas e objetos, por exemplo, nem para se lembrar de determinadas informações, diz.
2. AVALIE A MATURIDADE EMOCIONAL
Seu filho se sente independente? Tem facilidade para se comunicar? Quando quer perguntar algo para um estranho, por exemplo, ele mesmo faz a pergunta ou pede para você fazer? É organizado com as próprias coisas? De acordo com a psicóloga Suzy Camacho, de São Paulo, são as questões básicas que devem ser levadas em consideração no momento de avaliar o grau de autonomia da criança. Por desenvolverem a fala mais rápido, em geral as meninas são mais independentes e apresentam uma maturidade precoce, comenta Suzy, que é autora do livro Guia Prático dos Pais (Ed. Paulinos). Mas é claro que existem muitos meninos novinhos que se viram bem sem a ajuda dos pais.
3. FAÇA EXPERIÊNCIAS ANTES
Segundo a psicóloga Maria Teresa Reginato, de São Paulo, conhecer outros ambientes e hábitos enriquece a vivência com a noção da diversidade da cultura e do comportamento humano. Melhor que seja a partir do momento em que a criança já se expressa verbalmente com desenvoltura, mas o treino na casa de parentes pode começar mais cedo, pondera a especialista, que mantém o blog www.facaterapia.blogspopt.com. Para Suzy Camacho, o ideal é começar com uma noite fora, na casa de uma tia ou de algum amiguinho. Se a criança não chorar ou pedir pelos pais, é um bom sinal. A partir daí, pode ir aumentando o período gradativamente, até completar uma semana. É o comportamento da criança nessas experiências que vai indicar se ela já está apta ou ainda requer mais aprendizado para curtir uma semana no acampamento ou na casa de praia do amiguinho sem seus pais.
4. OBSERVE O COMPORTAMENTO
Seu filho recebeu um convite para passar uma semana na fazenda do melhor amigo da escola? Ótimo! Se você ainda não conhece o tal amiguinho direito, antes de dar o o.k. final convide-o para passar uma o dia em sua casa. Observe se essa criança é respeitosa, se brinca direito com os brinquedos (sem jogá-los ou quebrá-los, por exemplo), se é alegre, se utiliza um mau linguajar (palavrões) etc. Observe seu filho com atenção também. Ele muda de comportamento perto do amigo? Faz coisas para agradá-lo? É óbvio que ele vai agir um pouco diferente do que você está acostumada a notar em famílias, mas existem crianças que mudam de personalidade para agradar o coleguinha, e essa é uma situação de alerta, destaca Suzy Camacho. Isso indica vulnerabilidade e, na adolescência, pode levar a atitudes nocivas como uso de cigarro, álcool ou drogas para se sentir parte de uma turma. No caso de adolescentes que vão viajar sozinhos pela primeira vez com a família de um amigo, a psicóloga orienta observar as mesmas coisas.
5. CONHEÇA BEM OS ACOMPANHANTES
No caso de um acampamento de escola, por exemplo, a psicopedagoga Teresa Helena Schoen-Ferreira avisa que já existe um vínculo entre a criança e os professores. Mas em um acampamento avulso, porém, é necessário conversar com as pessoas que estarão presentes e tirar todas as dúvidas. Se a criança foi convidada para passar uns dias na casa de praia ou na fazenda do amigo, convide os pais para um café antes a fim de conhecê-los e observá-los. Confie na sua intuição e, se possível, vale a pena ainda verificar as condições do lugar em que a criança vai ficar. Anote nomes, telefones fixos, celulares e endereços completos. Além de se sentir mais segura, você também vai transmitir essa segurança para o seu filho, que sabe que estará sendo bem cuidado pelos pais, mesmo à distância, aponta Teresa.
6. DRIBLE A ANSIEDADE DA CRIANÇA
Por mais independente que possa ser a criança, às vezes os filhos nos surpreendem. Esteja preparada para um ataque súbito de saudade em outras palavras, receber um telefonema com uma vozinha chorosa do outro lado da linha. Em um primeiro momento, não tome nenhuma atitude drástica. Converse com o responsável e peça para tentar distrair seu filho, levando-o para um passeio no shopping ou ao cinema, por exemplo. Se não surtir efeito, o ideal é mesmo se dispor a ir buscá-lo se a distância permitir. Caso contrário, ele não vai se sentir seguro para enfrentar uma próxima tentativa, argumenta Suzy. Lembrando que, para uma primeira viagem sem os pais, o aconselhável é que o destino não seja muito longe de casa. Outro ponto a considerar é o de filhos de pais separados que costumam alternar fins de semana na casa de um e de outro. Se toda vez que a criança está com o pai, por exemplo, precisa ligar para a mãe à noite, ainda não está preparada para viajar sozinha, alerta Teresa Helena Schoen-Ferreira.
7. DOMINE A SUA ANSIEDADE
Não fique ligando toda hora para saber como a criança está se virando, se está comendo direito, divertindo-se etc. Se ela não telefonou, acredite, é porque está bem. A falta de notícias é uma boa notícia, brinca a psicóloga Suzy Camacho. Ligue de manhã e/ou à noite e deixe-a curtir as férias.
8. ORGANIZE SOMENTE O NECESSÁRIO
Calcule a quantidade de roupas que ela vai usar e tente colocar somente o imprescindível na mala. Evite colocar itens muito caros, como relógios ou brinquinhos de ouro. A criança tem que se divertir, e não ficar preocupada em preservar determinadas coisas ela está de férias, lembra? Quem vai para acampamento não precisa de dinheiro nem de celular. Já as crianças e adolescentes que vão para a praia ou fazenda devem levar o mínimo de dinheiro necessário o suficiente para comprar lanche ou sorvete, ir ao cinema ou a um passeio específico. Não trate seus filhos como potenciais consumidores mirins.
9. NÃO SE ESQUEÇA DOS DOCUMENTOS
Envie os documentos originais (tire cópias autenticadas antes) e deixe-os com os responsáveis. Deixe com a criança um cartão ou crachá com os dados pessoais (nome, endereço e telefone) dela. Se ela vai até o destino de ônibus ou avião, verifique com antecedência na rodoviária ou aeroporto o tipo de autorização que é preciso levar no dia do embarque.
10. FAÇA ACORDOS ENTRE VOCÊS
Antes da viagem, os pais devem ensinar a criança como buscar informações importantes. Aconselhe a perguntar sem vergonha ou constrangimento onde é tal lugar, como funciona tal coisa, até que horas se pode brincar etc., sugere a psicóloga Maria Teresa Reginato. Também ensine como observar e ficar alerta quanto aos imprevistos e possíveis perigos. Se algo der errado, e a criança ou o adolescente quiser voltar antes por algum motivo sério a família do amigo tem um comportamento estranho, presença de irmãos mais velhos inconvenientes e afins é importante combinar antes uma palavra ou uma frase do tipo senha. Assim o seu filho pode informar, por telefone, que não está curtindo o passeio sem se sentir constrangido, comenta Teresa. Você pode combinar de perguntar, por exemplo, se o filho viu algum disco-voador. Se a resposta for sim, você já sabe que as coisas não estão boas e pode ligar, mais tarde, para a família e dizer que houve um imprevisto e que terá de buscá-lo antes.
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