Vocação, rota a seguir

Vocação, rota a seguir

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:30

Muitos estão perdidos sem saber que profissão escolher

John Mackay,  presidente do Seminário de  Princeton, em seu livro O sentido da vida, trata desta questão maiúscula e fundamental para a sociedade que é a vocação. Não podemos subestimar este tema. Ele deve ser discutido no lar, na igreja, na academia e nas mais nobres instituições humanas.

A vocação é um dos sentidos superiores do homem, que o leva a realizar com desinteresse e denodo os maiores empreendimentos. Nos momentos sombrios proporciona-lhe luz, nos transes difíceis incute-lhe novo ânimo. Torna o homem superior a todas as zombarias e calúnias, e se no fim da jornada não vê realizadas suas esperanças, terá o consolo de que outros, tendo visto no céu do seu exemplo a estrela de seus destinos, levarão a obra a cabo.

Vamos destacar alguns princípios que devem orientar a família no trato dessa magna matéria:

1. A vocação é o vetor que rege nossas escolhas mais do que o lucro

Vivemos numa sociedade embriagada pelo lucro. As pessoas são valorizadas pelo que possuem e não pela dignidade do caráter. O dinheiro e o lucro tornaram-se os vetores das escolhas profissionais. Uma pessoa bem- sucedida não é aquela que proporciona um maior bem aos outros, mas quem ajunta mais tesouros para si. A ganância insaciável é plantada na mente das crianças. Os livros que abrem avenidas para o enriquecimento rápido multiplicam-se nas prateleiras. No mercado global e consumista, o lucro é o oxigênio que rega os pulmões da sociedade. Mas, e o prazer de fazer o que se é chamado para fazer? A alegria de estar trabalhando numa área em que a contribuição com a socie­­­dade seja mais importante do que a busca da recompensa financeira precisa ser proclamada aos ouvidos da nação. A riqueza em si não satisfaz, mas o senso do dever cumprido, movido pela alavanca da vocação, traz uma alegria indizível.

2. Vocação é a consciência de estar no lugar certo, fazendo a coisa certa

O problema da vocação é o fator social mais grave e urgente, aquele que constitui o fundamento de vários outros. Não é apenas uma questão de divisão de riquezas, produtos do trabalho, mas um problema de divisão de vocações, de modos de produzir. Um dos mais graves problemas da sociedade contemporânea é que de um lado, há grande quantidade de pessoas sem trabalho ou vocação, e, do outro, quantidade muito maior que não sente vocação para o papel que desempenha. John Mackay diz que mais grave que o problema dos sem vocação por não achar emprego, é o daqueles que, podendo trabalhar, não o fazem. São ricos e preferem ao trabalho produtivo a indolência parasitária. Na verdade, somente um acendrado sentido de vocação em todos os cidadãos de um país poderia trazer uma condição social digna para todos. Muitos, porém, carecem de convicção vocacional nos cargos que desempenham. São médicos, advogados, legisladores, funcio­­nários públicos, pastores, professores, estudantes e outros profissionais, de quem não se pode dizer senão isto: sabem sê-lo. Cada um tem posição; mas nenhum, vocação. Esses pensam somente nas vantagens que hão de desfrutar e não no bem que podem fazer, diz John Mackay. Que tragédia quando grande quantidade dos homens de um país procura cargos, em lugar de vocações!

3. Vocação é abraçar uma carreira com profundo amor

Um indivíduo com senso de vocação tem profundo amor pelo que faz, dedica-se ao que faz e o faz com esmero. Sem vocação não há paixão nem idealismo na profissão. A maior recompensa de um trabalho não é o lucro pessoal auferido, mas a alegria do dever cumprido e a certeza de que se promoveu o bem para um maior número de pessoas. Gabriela Mitra, no comovente trecho da prosa A Oração da Mestra retrata bem o que estamos dizendo:

Dá-me amor só para a escola; que nem o fenecer da beleza seja capaz de roubar-lhe minha ternura de todos os instantes. Mestre, faze-me perene o fervor e passageiro o desencanto. Extirpa-me o desejo impuro de justiça que ainda me perturba, a mesquinha insinuação de protesto surgida em mim quando me ferem. Não me magoe a incompreensão, nem me entristeça o olvido dos que ensinei. Dá-me o ser mais mãe do que as mães, para poder, tal qual elas, amar e defender o que não é carne da minha carne. Dá-me visão para fazer de uma de minhas alunas meu verso perfeito e nela deixar gravada minha melodia mais impressiva, para quando meus lábios não cantarem mais. Mostra-me a realização do teu Evangelho em meu tempo, para que, por ele, não renuncie à batalha de cada dia e de cada hora.

4. Vocação poder ser tanto um pendor quanto um chamado para atender a uma necessidade

Em geral, encontra-se a vocação por um destes dois meios: o descobrimento de uma capacidade especial, ou a visão de uma necessidade urgente, diz John Mackay. O pendor natural de uma pessoa para uma área é um sinal claro da vocação. O vocacionado é aquele que tem alegria de fazer o que faz, por isso, tem melhor desempenho no que faz. Seus dotes são demonstrados por ele e reconhecidos pelos outros. Muitas vezes essa descoberta é feita através da leitura de biografias. É na luz dos homens superiores que se deve acender a chama do ideal e perscrutar os horizontes do destino. Enxergamos mais longe quando subimos nos ombros dos gigantes. Inspirar-nos na vida dos heróis é ter a visão do farol alto, é alargar a fronteira dos nossos horizontes. A vocação não raro vem também pelo simples conhecimento de uma grande necessidade.

Neemias, ao ser informado sobre a triste condição do povo que regressara da Babilônia, entregue à pobreza e à miséria, deixou seu posto de conforto na cidadela de Susã para ser o restaurador da sua nação.

O conhecimento das necessidades à nossa volta nos responsabiliza e muitas vezes pavimenta o nosso caminho rumo ao futuro. A maioria dos grandes benfeitores da humanidade encontrou a vocação achando-se, num momento determinado da vida, face a face com uma situação grave que, imperiosamente, reclamava solução.

Quase todas as grandes instituições filantrópicas foram fundadas por homens e mulheres que, como Florence Nightingale, fundadora da Cruz Vermelha, acharam a vocação na tarefa de enfrentar necessidades prementes.

Que Deus capacite os pais a auxiliarem seus filhos em busca de suas vocações para que estes, dentro da vontade de Deus, possam se tornar cidadãos úteis e profícuos. Se a escolha se tornar muito difícil, há testes vocacionais aplicados por psicólogos gabaritados que podem jogar um pouco de luz no caminho a seguir. Hoje em dia há também feiras de vocações, com stands das mais variadas profissões, oferecendo informações e folhetos descritivos.

Enfim, que os jovens, em época de escolha, possam ter em mente descobrir os dons que Deus lhes deu para então, tomar de forma consciente essa que, certamente, é uma das maiores decisões da vida.

Escrito por: Hernandes Dias Lopes - pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória, casado com Udemilta Pimentel Lopes e pai de Thiago e Mariana. Bacharel em Teologia e Doutor em Ministério. Conferencista e autor de 40 livros publicados.

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições