Segundo um novo relatório da Coordenação Intercomunitária contra o Antissemitismo e a Difamação (CICAD), cerca de 2.000 casos de antissemitismo foram registrados na região de idioma francês da Suíça em 2024.
Os 1.789 incidentes representam o maior número registrado desde 2014, indicando um aumento de 90% em relação a 2023.
Mais de metade (52,5%) foi classificada como formas "tradicionais" de antissemitismo, enquanto 14,4% estavam vinculadas ao antissionismo.
Esse aumento significativo é amplamente atribuído à atual Guerra Israel-Hamas. O número de incidentes cresceu de forma acentuada em maio, coincidindo com o início da ofensiva do exército de Israel em Rafah, em 6 de maio de 2024.
Mais de 72% dos incidentes de antissemitismo registrados em 2024 ocorreram nas mídias sociais, como Instagram, Telegram e X/Twitter, seguindo os padrões identificados em anos anteriores, conforme dados da CICAD, da Federação Suíça de Comunidades Judaicas (SIG) e da Fundação contra o Racismo e o Antissemitismo.
Inteligência artificial
O avanço da inteligência artificial intensificou as preocupações sobre a propagação do antissemitismo online, especialmente com a criação de vídeos ultrarrealistas que dificultam a distinção entre realidade e ficção.
A CICAD destacou um “aumento alarmante” nos atos antissemitas direcionados a estudantes judeus, com um crescimento significativo de incidentes envolvendo discurso de ódio, intimidação e agressões. Entre os casos relatados, alunos foram alvo de comentários como: “Voltem para Auschwitz” e “Vocês são ruins na escola porque são judeus”.
Cartazes com o slogan “Intifada jusqu'à la victoire” (Intifada até a vitória) foram exibidos no campus da Universidade de Genebra a partir de 16 de outubro de 2023, menos de duas semanas após os ataques de 7 de outubro. Slogans semelhantes também surgiram em outras universidades nos cantões de língua francesa.
Em espaços públicos, houve numerosos relatos de pichações, cartazes e símbolos antissemitas, especialmente em Genebra e Lausanne. Inscrições como “Morte aos judeus” foram identificadas em diversos centros urbanos e áreas verdes, refletindo uma disseminação de mensagens de ódio contra judeus semelhante à observada em outras cidades europeias, como Amsterdã.
Genebra alcançou um marco legislativo significativo em junho, quando 85% de seus cidadãos aprovaram a proibição de símbolos nazistas em locais públicos. Contudo, especialistas alertam que uma implementação rigorosa será crucial para assegurar sua eficácia.
Uma manifestação em Genebra chamou atenção significativa, não apenas pelo grande número de participantes, cerca de 2.000, mas também pela presença de diversas figuras políticas que se uniram a membros do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções.
Conciliar a liberdade de expressão com a urgência de combater o antissemitismo e a incitação ao ódio tem se mostrado um desafio para as autoridades.
Uma característica alarmante do antissemitismo na Suíça francófona é o aumento de incidentes direcionados. Enquanto nos últimos anos o foco estava principalmente no discurso de ódio online, 2024 trouxe uma escalada preocupante, com agressões físicas, ameaças contra judeus e ataques diretos a propriedades, como residências, empresas e sinagogas.
Conforme apontado pela CICAD, garantir a segurança das comunidades judaicas na Suíça, algumas das mais antigas da Europa, está se transformando em um desafio nacional que requer ação urgente.
Entre as recomendações da organização para combater o antissemitismo estão a implementação de programas educativos voltados para estudantes e professores, o aumento da vigilância policial para documentar e prevenir incidentes antissemitas, além de uma maior cooperação entre a polícia e instituições como a CICAD.
Contexto internacional
O Centro de Pesquisa e Informação sobre Antissemitismo registrou um crescimento de mais de 200% nos incidentes antissemitas em toda a Europa, com destaque para demonstrações de ódio, propaganda online e atos de antissemitismo.
Na França, que possui a maior comunidade judaica do continente, houve um aumento alarmante de 350% nesses casos.
Em março, o SIG divulgou seu relatório sobre antissemitismo referente a 2024, apontando um aumento de 42,5% nos incidentes em comparação com 2023.
Após o massacre ocorrido após 7 de outubro, os números se estabilizaram, embora ainda significativamente superiores aos registrados antes do ataque liderado pelo Hamas.
O relatório também abrangeu incidentes nas regiões de língua alemã, italiana e romanche da Suíça.
Ralph Friedländer, presidente do SIG, apontou a guerra em Gaza como um importante catalisador, ressaltando, contudo, que os atos antissemitas começaram a crescer logo após 7 de outubro, antes mesmo da reação de Israel.
Apesar das estatísticas preocupantes, Friedländer ressaltou que a Suíça permanece mais segura em comparação a muitos outros países europeus, como evidenciado pelo aumento do número de judeus que escolhem se mudar para lá, especialmente vindos da França.
Ainda assim, ele enfatizou que o combate ao antissemitismo deve ser uma responsabilidade coletiva: “Essa não é uma questão exclusiva da comunidade judaica, mas um desafio para toda a sociedade suíça.”
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