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Israel

Brasil tem estratégia para se aproximar de Israel sem sofrer retaliação árabe

O governo brasileiro pretende firmar acordos com o Golfo Pérsico, que possui uma política mais flexível em relação a Israel.

Fonte: Guiame, com informações da Gazeta do PovoAtualizado: segunda-feira, 25 de março de 2019 às 14:19
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Copacabana. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Copacabana. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Acordos estratégicos entre o Brasil e países do Golfo Pérsico, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Catar, podem facilitar a aproximação entre o governo brasileiro e Israel sem retaliações do mundo árabe.

No último dia 15, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma série de acordos com os Emirados Árabes Unidos durante a visita do xeque Abdullah Bin Zayed Al Nahyan, ministro dos negócios estrangeiros do país.

Os acordos são estratégicos não só pela perspectiva comercial, mas também diplomática — os países árabes do Golfo Pérsico estariam diminuindo sua oposição a Israel em razão da ascensão do Irã e da crescente rivalidade dos iranianos com a Arábia Saudita, de acordo com o jornal Gazeta do Povo.

O Itamaraty avalia que, até agora, não houve nenhuma reação relevante dos países árabes em relação ao Brasil por causa da promessa de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Dentre as manifestações árabes, houve uma nota contrária do ministro dos negócios estrangeiros do Catar e consultas de países árabes a embaixadores brasileiros no ano passado.

A assinatura dos acordos com os Emirados é vista pelo governo brasileiro como um bom sinal, já que o país poderia ter esperado o resultado da viagem de Bolsonaro a Israel antes de realizar a visita oficial ao Brasil. O presidente cumprirá agenda em Israel entre os dias 31 de março e 2 de abril.

Transferência em banho-maria

Diante de um grupo de jornalistas e comentaristas no Palácio do Planalto, em fevereiro, Bolsonaro disse que a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém está “em banho maria”. Nas últimas vezes que se manifestou sobre o tema, o chanceler Ernesto Araújo disse que a proposta está sendo estudada.

Depois de um encontro com o embaixador palestino no Brasil, no fim de janeiro, o vice-presidente Hamilton Mourão chegou a declarar que, “por ora”, o Brasil não estava pensando em mudar a embaixada de lugar. Os árabes indicaram um possível boicote à carne brasileira halal — processada segundo técnicas para atender a religião muçulmana.

Por outro lado, o Itamaraty entende que os países do Oriente Médio que mais defendem a causa palestina, são justamente aqueles que têm menor poder de retaliação em relação às exportações brasileiras.

Hoje o Irã e o Líbano, por exemplo, não representam nem US$ 300 milhões na compra de produtos brasileiros. No entanto, em 2018, o Brasil exportou US$ 2,11 bilhões para a Arábia Saudita (38% de carne de frango) e US$ 2,03 bilhões para os Emirados Árabes Unidos (24% de carne de frango).

Esses são os mercados que teriam real poder para retaliar o Brasil diante da transferência da embaixada para Jerusalém. O Brasil estuda aproveitar a oportunidade para se distanciar da causa palestina e, ao mesmo tempo, esfriar as relações com o Irã como gesto de boa vontade em relação aos países árabes do Golfo.

Embora o Irã também tenha uma presença forte no comércio internacional brasileiro — foram exportados US$ 2,27 bilhões em produtos nacionais no ano passado — as sanções americanas contra o governo iraniano concorrem para desestimular o comércio.

Em relação aos demais países do Golfo, o Brasil exportou US$ 674 milhões para Omã (17% de carne de frango); US$ 588 milhões para o Iraque (26% de carne de frango); US$ 416 milhões para o Bahrein (9% de carne de frango); US$ 268 milhões para o Catar (35% de carne de frango); e apenas US$ 227 milhões para o Kuwait (82% de carne de frango), país que hoje tem a política mais anti-israelense na região.

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