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Israel

De forma inédita, Páscoa judaica deve ser celebrada por aplicativo em tempos de pandemia

Rabinos discutem se a celebração pode ser feita por aplicativos como forma de promover a participação dos familiares em distanciamento social.

Fonte: Guiame, com informações da AFP e RFIAtualizado: segunda-feira, 6 de abril de 2020 às 17:45
Policial israelense detém um judeu ultraortodoxo durante patrulha em Jerusalém. (Foto: Reprodução/AFP)
Policial israelense detém um judeu ultraortodoxo durante patrulha em Jerusalém. (Foto: Reprodução/AFP)

A celebração da Páscoa judaica por meio de aplicativo de videoconferência está sendo debatida por rabinos favoráveis e contrários à tecnologia em tempos de pandemia.

A questão, impensável no passado, impõe-se aos rabinos ortodoxos em Israel, onde parte da população se prepara para celebrar essa festa confinada em casa.

Aplicativos têm sido a forma de as pessoas se relacionarem com aqueles que estão distanciados pela crise da Covid-19 e estão sendo cogitados para serem usados para unir as famílias judaicas na realização da Páscoa.

Embora esses aplicativos promovam a união das pessoas que estão distantes, o uso deles divide o mundo rabínico em Israel à medida que a celebração judaica da Páscoa se aproxima, pois a lei judaica (halacha) proíbe o uso de eletricidade durante a festa.

O momento central da Páscoa judaica é o jantar do Seder. Mas como reunir toda a família em meio à pandemia quando as autoridades não autorizam agrupamentos? E também os idosos que vivem em outros lugares?

Um “samaritano generoso” teve a ideia de doar computadores a pessoas idosas para permitir que elas compartilhassem o Seder com sua família por meio de videoconferência. Assim esta seria a primeira Páscoa digital.

Controvérsia

Mas o doador teve uma dúvida: tudo isso é "kosher", ou seja, está de acordo com as prescrições do judaísmo?

Desde então, a controvérsia se espalhou entre os rabinos ortodoxos.

"Uma pessoa que queria dar 10.000 computadores para idosos para permitir que eles se reunissem com suas famílias nos perguntou se estava de acordo com a halacha", disse o rabino Raphael Delouya à AFP.

Com 13 colegas, ele emitiu uma "psak", uma opinião religiosa sobre o assunto: sim, em uma situação de "urgência", como a pandemia do novo coronavírus, é lícito usar um computador para comemorar o feriado com "idosos ou doentes".

"Nos baseamos nos sábios do Marrocos, na tradição rabínica sefardita que permitiu há mais de 50 anos usar eletricidade durante as festividades", explicou.

"O problema é que existem rabinos que temem que isso degenere, e que nos próximos feriados as pessoas usem Zoom, WhatsApp e Facebook, e que isso levará a um desrespeito à religião", disse.

Profanar o feriado

O grande rabinato de Israel se opôs a essa opinião: "A solidão é dolorosa e deve ser remediada (...) talvez falando por computador na véspera de um feriado, mas não profanando o feriado".

Aqui está um debate entre rabinos ortodoxos que "tomam nota de uma situação social" e outros que dizem que "não vou quebrar meu sistema legal por causa de uma nova situação social", destaca Kimmy Caplan, especialista em movimentos ortodoxos na Universidade Bar-Ilan, perto de Tel Aviv.

No início dos anos 1950, Avraham Yeshaya Karelitz, o influente rabino que estabeleceu padrões religiosos para o mundo ultraortodoxo após a Segunda Guerra Mundial, proibindo o uso de eletricidade no sábado, dia do descanso semanal.

Na era das mídias sociais, o debate teológico já degenerou online, levando um rabino a pedir calma: quando dois rabinos "discordam, não podem jogar tomates", exortou.

De qualquer forma, a judia Sabrina Castro-Moïse diz que usará a videoconferência para compartilhar o Seder com sua mãe de 76 anos, que mora sozinha, perto de sua casa em Jerusalém.

"Passamos todas as festas juntas", diz à AFP. O Zoom permitirá "não deixá-la sozinha".

"Qual o interesse realizar todo o ritual se [alguém está] sozinho?", pergunta Michael Lev, um empresário de 44 anos que vê a iniciativa dos rabinos como uma "medida excepcional e humana".

Covid-19 em Israel

Em Israel, cerca de 5 mil pessoas foram diagnosticadas com coronavírus desde o começo da crise de saúde, com 18 mortos e 70 em estado grave, até o final de março.

Para controlar a contaminação, o governo israelense decretou regras severas de isolamento social, que incluem fechamento quase total do comércio (a não ser por supermercados e farmácias) e outras instituições, permissão para a população em geral se afastar das casas em um raio de apenas 100 metros (a não ser trabalhadores essenciais como médicos, policiais e outros), “aglomerações” públicas de até duas pessoas, proibição de convidados em casamentos e permissão de apenas 20 pessoas em enterros.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pediu aos israelenses que permaneçam em suas casas durante o feriado da Páscoa, um "ponto de virada" para ele na luta contra a pandemia, que atinge essencialmente os bairros ultraortodoxos.

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