Os judeus colonos que vivem nas colinas de Siló, na Cisjordânia, não são os únicos a trabalharem na colheita das vinhas. Evangélicos norte-americanos também fazem parte do trabalho.
Eles são voluntários da organização HaYovel, que traz cristãos para ajudar agricultores judeus que vivem nos assentamentos israelenses da Cisjordânia — que também é chamada pelo nome hebraico do Antigo Testamento, Judeia e Samaria.
A Cisjordânia tem uma importância especial para os evangélicos que vêem o cumprimento de uma profecia bíblica no retorno dos judeus a Israel.
O fundador da HaYovel, Tommy Waller, cita a profecia de uma passagem do livro de Jeremias, que diz: “Eu a edificarei mais uma vez, ó virgem, Israel! Você será reconstruída! (...) De novo você plantará videiras nas colinas de Samaria” (Jeremias 31:4;5).
Mas essa terra também está no centro do conflito israelense-palestino. É nela que os palestinos buscam estabelecer um futuro Estado, juntamente com Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza, territórios capturados por Israel na guerra de 1967.
Para Waller, ajudar os colonos judeus a cultivar a terra significa participar do cumprimento da profecia. “Como cristão, como uma pessoa que acredita na Bíblia, foi incrível chegar a um lugar onde minha fé era palpável”, disse Waller.
“Compartilhamos uma semelhança entre o cristianismo e o judaísmo, que é a nossa Bíblia, nossa Escritura”, disse Waller em uma vinha nos arredores de Har Bracha, outro assentamento cujos agricultores são apoiados pelos voluntários.
Anexação da Judeia e Samaria
Maior parte da comunidade internacional considera os assentamentos israelenses ilegais, uma visão que Israel contesta.
A ala israelense favorável à solução militar, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, afirma que a Cisjordânia é vital para a segurança de Israel. Entregá-la aos palestinos poderia colocar grandes áreas de Israel sob ameaça de ataques militantes. Já os palestinos dizem que não pode haver um Estado palestino viável sem ela.
Na véspera das eleições de Israel, Netanyahu renovou sua promessa de anexar partes da Cisjordânia se ele vencer. É uma posição apoiada pela maioria dos evangélicos.
“Os evangélicos acreditam que Judeia e Samaria são terras bíblicas, porque são”, disse Mike Evans, fundador do museu ‘Friends of Zion’, que fica em Jerusalém. “Achamos que desistir da Judeia e Samaria trará paz? De jeito nenhum”, disse Evans, que é membro da Iniciativa de Fé do presidente americano Donald Trump.
Diante da promessa de anexação, os palestinos temem que Netanyahu tenha o apoio de Trump.
“Da mesma maneira que anexaram Jerusalém, eles querem anexar a Cisjordânia e em breve ouviremos sobre Trump reconhecendo a anexação da Cisjordânia”, disse Izzat Qadous, professor aposentado da vila palestina Irak Burin, do outro lado de Har Bracha.
Cerca de 2,9 milhões de palestinos vivem na Cisjordânia, segundo dados oficiais palestinos e mais de 400.000 colonos israelenses vivem lá, segundo o escritório de estatísticas de Israel.
Relação entre cristãos e judeus
O governo Trump inclui evangélicos em algumas posições de destaque, como o vice-presidente Mike Pence e o secretário de Estado Mike Pompeo, que em uma entrevista à CBN News em março disseram que “o Senhor está trabalhando” nas políticas de Trump com Israel.
Segundo a Reuters, alguns israelenses temem que os cristãos tenham uma agenda missionária, buscando convertê-los. No entanto, Evans disse que sua missão de vida é defender o povo judeu.
“Essas pessoas estão buscando a Deus como nós estamos buscando a Deus”, disse Waller. “Obviamente, temos nossa própria crença messiânica, mas essas são coisas futuras, no Reino vindouro”.
Por outro lado, alguns colonos judeus acreditam que os evangélicos os ajudam a cumprir sua própria visão.
Nir Lavi, proprietário da vinícola Har Bracha, diz que a contribuição da Hayovel para seus negócios tem sido mais do que financeira. “Somos gratos”, disse Lavi. “É uma fase totalmente diferente de nossa própria jornada — a redenção do povo judeu em sua terra”.
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