O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, nesta segunda-feira (25), uma resolução que exige um cessar-fogo imediato entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.
A libertação imediata e incondicional de todos os reféns também fez parte da demanda do Conselho. Isso ocorreu após os EUA terem optado por não exercer seu poder de veto e se abstido na votação.
Pela primeira vez, desde o início da guerra em outubro, o Conselho de Segurança aprovou uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza.
‘Direito moral’
Israel "não tem o direito moral de parar a guerra em Gaza", afirmou o ministro da Defesa, Yoav Gallant, em uma declaração em vídeo feita a partir de Washington, onde estava em visita oficial.
Yoav Gallant, ministro da Defesa do Estado de Israel. (Foto: Wikipedia)
“Não temos o direito moral de parar a guerra em Gaza até devolvermos todos os reféns às suas casas. Se não alcançarmos uma vitória clara e absoluta em Gaza, isso poderá aproximar-se de uma guerra no norte”, justificou Gallant.
A resposta de Gallant foi divulgada por sua equipe antes das reuniões agendadas com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e o secretário de Estado, Anthony Blinken.
O ministro da Defesa, qualificando a decisão da ONU como "escandalosa", afirmou que durante sua reunião com Sullivan, destacaria a importância de derrubar o regime do Hamas e de devolver os reféns às suas casas.
“Agiremos contra o Hamas em todos os lugares, mesmo em áreas onde ainda não estivemos”, acrescentou. “Criaremos uma alternativa ao Hamas para que as IDF [forças militares de Israel] possam completar a sua missão.”
Resolução não deve ser acatada
A Resolução 2728 é considerada não vinculativa, e não se espera que tenha um impacto imediato nos combates em curso em Gaza, seguindo o padrão de resoluções anteriores do Conselho de Segurança que foram adotadas em outros conflitos e posteriormente ignoradas.
“É uma resolução não vinculativa, portanto não há qualquer impacto na capacidade de Israel de continuar a perseguir o Hamas”, disse John Kirby, Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, durante coletiva de imprensa. A posição parece ser partilhada também pela Coreia do Sul e por outros membros.
Não se espera que Israel cumpra o apelo da resolução para um cessar-fogo imediato, nem que o Hamas siga o pedido de libertação imediata e incondicional dos 134 reféns.
Embora apenas o primeiro seja parte da Carta da ONU e não cumpra as suas resoluções, isso poderá levar a pedidos de sanções. No entanto, com os EUA destacando que a resolução não é vinculativa, é altamente improvável que Washington permita que o Conselho sancione Israel por não cumprir a medida.
No entanto, a decisão inédita representa um golpe simbólico na posição internacional de Israel, ocorrendo quase seis meses após o ataque do Hamas em 7 de outubro. Além disso, parece destacar um novo declínio nos laços entre os EUA e Israel.
Ida a Washington cancelada
Mais tarde, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou o cancelamento dos planos de enviar uma delegação a Washington, solicitada pelo governo, para discutir a potencial invasão terrestre em Rafah.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que a abstenção dos EUA "não representa uma mudança em nossa política", indicando um certo grau de confusão sobre a decisão de Netanyahu de apresentá-la como tal.
"Estamos muito desapontados por [a delegação israelense] não vir a Washington DC para nos permitir ter uma conversa completa sobre as alternativas viáveis para uma intervenção terrestre em Rafah", disse Kirby aos jornalistas.
O presidente Joe Biden, não tem planos de ligar para Netanyahu sobre o cancelamento, e Netanyahu também não ligou para Biden com antecedência, acrescentou o funcionário.
A resolução aprovada "reconhece" os esforços em curso para garantir um acordo de reféns, mas não estabelece diretamente uma ligação entre essas conversações e o cessar-fogo em Gaza que exige.
Uma resolução dos EUA, vetada pela Rússia e pela China na sexta-feira (22), estabeleceu uma ligação mais direta entre a exigência de um cessar-fogo em Gaza e as negociações mediadas pelo Catar, Egito e EUA.
Os EUA já haviam vetado resoluções que apelavam a um cessar-fogo imediato e não continham qualquer menção ou ligação às conversações sobre os reféns.
Ramadã
A resolução “exige um cessar-fogo imediato durante o mês do Ramadã, respeitado por todas as partes, conduzindo a um cessar-fogo duradouro e sustentável, e também exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns”, referindo-se ao mês sagrado islâmico que termina dentro de aproximadamente duas semanas.
Os copatrocinadores da resolução – Argélia, Equador, Guiana, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Suíça – tentaram incluir a frase "cessar-fogo permanente e sustentável" nessa linha, mas os EUA rejeitaram o termo. Na decisão final, o texto utiliza a frase "cessar-fogo duradouro e sustentável".
Argélia, Malta, Moçambique e Serra Leoa contestaram esta interpretação. Mas dado que os EUA podem impedir os membros de tentarem sancionar Israel por não cumprir a resolução, a interpretação de Washington parece ter mais peso.
Essas posições diversas demonstram a influência altamente limitada que a ONU tem na avaliação dos conflitos em todo o mundo.
Reféns
Linda Thomas-Greenfield, a embaixadora dos EUA na ONU, explicou que optou pela abstenção na resolução em vez de votar a favor, principalmente devido à ausência de uma condenação do Hamas.
Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na ONU, levanta a mão para se abster. (Captura de tela/YouTube/Guardian News)
Ela afirmou que a resolução reafirmava a posição dos EUA de que um cessar-fogo só poderia ser alcançado por meio de um acordo de reféns.
A embaixadora reafirmou a posição dos EUA de que um cessar-fogo poderia ser alcançado imediatamente se o Hamas libertasse os reféns, e encorajou os membros do Conselho de Segurança a condenarem e pressionarem o grupo terrorista.
Cento e trinta e quatro reféns ainda estão sob custódia de grupos terroristas em Gaza desde o ataque do Hamas em 7 de outubro. Nesse incidente, milhares de terroristas invadiram Israel, resultando na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de outras 253, a maioria civis.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições