Ataques a comunidades cristãs já mataram mais de 100 pessoas em menos de um mês, no Congo

Apesar de ser um país de maioria cristã, a República Democrática do Congo tem sofrido cada vez mais com a ação de grupos terroristas islâmicos.

Fonte: Guiame, com informações da Portas Abertas (EUA)Atualizado: segunda-feira, 25 de janeiro de 2021 às 11:28
Cristãos enterram vítimas da violência provocada pelo terrorismo, próximo a Beni, na República Democrática do Congo. (Foto: AFP / KUDRA MALIRO via Getty Images)
Cristãos enterram vítimas da violência provocada pelo terrorismo, próximo a Beni, na República Democrática do Congo. (Foto: AFP / KUDRA MALIRO via Getty Images)

Em menos de três semanas, mais de 100 pessoas de comunidades predominantemente cristãs foram assassinados na região oriental da República Democrática do Congo (RDC). Pelo menos três assassinatos em massa foram cometidos por extremistas islâmicos em um país no qual 95% da população é formada por cristãos.

“Estes são fatos — e uma história — que chamam a atenção no país centro-africano de 86,7 milhões de habitantes”, diz Illia Djadi, analista sênior da Portas Abertas para liberdade de religião ou crença na África Subsaariana.

“A morte de civis inocentes quase diariamente é uma tragédia pouco relatada”, acrescentou ela, considerando que desde o dia 31 de dezembro, mais de 100 pessoas já foram assassinadas nesses ataques em massa.

No dia 31 de dezembro, 25 pessoas foram mortas em um ataque do grupo rebelde terrorista, conhecido como ‘Forças Democráticas Aliadas’ (ADF) na aldeia de Tingwe, também na região de Beni.

Em 4 de janeiro, cerca de 22 civis foram mortos em um ataque noturno no vilarejo de Mwenda, na região de Beni, na província vizinha de Kivu do Norte. Os agressores usaram armas e facões, disse Jeremi Mbweki, identificado pela Reuters como um “líder da sociedade civil”. Ele disse que pelo menos 17 outros residentes foram mortos a facadas em um ataque a um vilarejo próximo na semana anterior.

Em 14 de janeiro, cerca de 46 pessoas pertencentes à etnia dos Pigmeus foram mortas em um ataque de supostos militantes da província de Ituri.

Como a República Democrática do Congo é 95% cristã, a maioria dessas mortes são de crentes, disse Djadi.

“Essas comunidades predominantemente cristãs são atacadas por um grupo extremista islâmico com uma clara agenda expansionista islâmica”, explicou ela.

Atualmente República Democrática do Congo é o país de número 40 na Lista Mundial de Perseguição 2021, da Portas Abertas, que aponta os 50 países onde é mais difícil viver como cristão. Na lista deste ano, foi a primeira vez que o país africano foi citado.

“Uma guerra foi declarada”

Observadores dizem que o número de ataques atribuídos à ADF tem aumentado em número e intensidade desde o início de uma ofensiva do exército contra o grupo em outubro de 2019. Um grupo de cidadãos locais chamado Lucha sugere que mais de 1.200 civis já foram mortos pelo militante islâmico grupo [RFI].

“Uma guerra foi declarada contra a República Democrática do Congo”, disse p governador provincial Carly Nzanzu Kasivita à RFI, após a morte de sete civis em outro ataque em 30 de dezembro. Uma “mobilização nacional e internacional” é necessária para acabar com a violência em curso, ele disse.

As Forças Democráticas Aliadas, também conhecidas como Defesa International Muçulmana, vêm atacando comunidades há décadas, incluindo crimes como homicídio e sequestro de cristãos, além de treinar e enviar jihadistas para outros países da África.

Uma rede jihadista em toda a África

No ano passado, um relatório da ONU sugeriu que os abusos de direitos "generalizados, sistemáticos e extremamente brutais" cometidos pela ADF "poderiam constituir, por sua natureza e alcance, crimes contra a humanidade e crimes de guerra".

A ONU avisa que o ADF está realmente conectado a uma rede de grupos jihadistas em toda a África. O Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, disse à RFI: “Na minha opinião, a ADF hoje faz parte de uma rede que começa na Líbia e se estende ao Sahel, à região do Lago Chade, e que está presente em Moçambique”.

A ADF não se vinculou formalmente ao grupo do Estado Islâmico, mas o Estado Islâmico começou a assumir a responsabilidade por alguns dos ataques da ADF e, em abril de 2019, os propagandistas do Estado Islâmico descreveram o Congo como a "Província do Califado da África Central", de acordo com o grupo de inteligência ‘SITE’, que monitora os anúncios do Estado Islâmico e outras atividades terroristas.

“É um lembrete do que está acontecendo em outras partes da região central do Sahel”, disse Djadi, da Portas Abertas. “Pense em grupos como o Boko Haram no nordeste da Nigéria, por exemplo. A ideologia, a agenda de estabelecer um ‘califado’ na região e a maneira como eles operam são as mesmos, e podemos ver como eles afligem um sofrimento terrível sobre pessoas inocentes”.

“Como a Portas Abertas, queremos soar o alarme e apelamos urgentemente ao governo nacional e à comunidade internacional para que façam tudo o que puderem para proteger vidas inocentes e restaurar a paz nesta região conturbada”, acrescentou.

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