Uma congregação que fugiu da China, depois de dois anos sendo perseguida pelo governo e buscou refúgio na Coreia do Sul, está correndo risco de ser repatriada à força para o país comunista.
Em 2019, 60 membros, incluindo 30 crianças, da Igreja Reformada Santa, da cidade de Shenzhen, fugiram para a ilha coreana de Jeju e, desde então, têm lutado para sobreviver e obter asilo no país do Leste Asiático.
Os pedidos de asilo da igreja chinesa foram rejeitados pelos tribunais inferiores da Coreia do Sul e agora, o grupo aguarda ansiosamente a decisão do Supremo Tribunal.
"Se não conseguirmos o asilo, teremos 14 dias para permanecer no país legalmente e depois disso estaremos aqui ilegalmente. É muito provável que o governo sul-coreano queira que saiamos. Talvez não tenhamos necessariamente que voltar para a China, mas teremos que sair”, explicou o pastor da igreja, Pam Yongguang, à Rádio Free Asia.
A congregação perseguida também solicitou asilo nos Estados Unidos, mas nenhuma decisão foi anunciada ainda. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) afirmou que não pode avaliar o pedido de asilo em seu escritório em Seul.
Coreia do Sul cautelosa com o PCC
Zheng, o advogado da Igreja Reformada Santa, afirmou que o grupo cristão corre o risco de ser repatriado à China, já que a Coreia do Sul exige que os requerentes de asilo provem que suas vidas ou saúde estarão em perigo se retornarem ao seu país natal.
"O processo de solicitação de refugiados é complicado, a probabilidade de ser rejeitado novamente é bastante alta e é uma grande dor de cabeça agora", explicou Zheng.
Bob Fu, o presidente da ChinaAid, organização cristã que trabalha pela liberdade religiosa, afirmou que o governo coreano, provavelmente, está evitando conflitos com a China sobre o caso da Igreja Reformada Santa.
Segundo a Rádio Free Asia, a filial da Ilha de Jeju do Departamento de Imigração da Coreia do Sul, não quis comentar sobre as razões da rejeição dos pedidos de asilo da congregação. "Não podemos dizer as razões; só podemos dizer às pessoas envolvidas. Ainda não está claro se eles serão repatriados”, disse um funcionário.
Entenda o caso
Os 60 membros da Igreja Reformada Santa fugiram devido a perseguição do governo e também para que seus filhos não passassem pela educação anti-religiosa do Partido Comunista Chinês (PCC).
“Nossa igreja iria educar nossos filhos sob nossas crenças religiosas, mas a polícia os forçaria a se matricular na escola para que pudessem sofrer lavagem cerebral. Eles não queriam que ensinássemos a Bíblia aos nossos filhos, e as crianças são proibidas de frequentar a igreja", contou o pastor Pan à Rádio Free Asia.
O líder ainda relatou que os 30 membros da igreja que ficaram na China sofreram assédio e retaliação por parte da polícia. "Em algum momento de abril ou maio de 2021, a polícia de segurança do estado localizou uma de nossas irmãs e a acusou de 'subversão do poder do estado', confiscou seus livros cristãos, seu celular e a colocou sob vigilância", disse.
O pastor Pan, de 43 anos, já tinha sido detido e interrogado por autoridades na China, que o acusavam de manter uma igreja ilegal. O líder enfrentará várias acusações se retornar ao país.
"Fui acusado de subversão do poder estatal, conluio com forças estrangeiras anti-China e tráfico de pessoas. [Isso porque] tirei esses crentes da China, então agora sou suspeito de traficar ou contrabandear", revelou Pan.
E concluiu: "Apenas uma dessas acusações seria suficiente para me mandar para a prisão por muito tempo".
Vivendo com dificuldades na Coreia do Sul
Os 60 membros da congregação vivem numa pequena casa alugada e trabalham em colheitas de repolho e tangerina na Ilha de Jeju. Lutando por sua sobrevivência, os cristãos ainda enfrentam a dificuldade da língua coreana e a falta de acesso à saúde.
“Felizmente, todos nós recebemos vacinas gratuitas contra o Covid-19 e ninguém na igreja foi infectado até agora. Mas as únicas indústrias são a agricultura e o turismo, e muitas pessoas não conseguem encontrar emprego. Tudo o que eles podem fazer são biscates”, contou o pastor Pan.
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