“Havia sangue nas paredes”, diz pastor de igreja atacada pelo Boko Haram na Nigéria

O pastor Marcus Abana recentemente falou sobre como as igrejas de sua região se fortaleceram para reconstruir a comunidade destruída pelo Boko Haram.

Fonte: Guiame, com informações da Portas Abertas (EUA)Atualizado: quinta-feira, 5 de março de 2020 às 14:37
Igreja destruída na cidade do Rev. Marcus. (Foto: Portas Abertas_
Igreja destruída na cidade do Rev. Marcus. (Foto: Portas Abertas_

A igreja do reverendo Marcus Abana, no norte da Nigéria, sofreu ataques devastadores do Boko Haram, em meio a tantos ataques terroristas do grupo na região, destruindo templos; saqueando aldeias; assassinando homens e mulheres.

O reverendo Marcus recentemente falou em carta à missão Portas Abertas (EUA) sobre os efeitos traumáticos que os ataques tiveram sobre a comunidade cristã em sua cidade, como os crentes encontraram uma esperança renovada para recomeçar e o que ele diria a seus inimigos, juntamente com uma palavra especial de encorajamento sobre perseverar pela perseguição.

Atualmente, a Portas Abertas está ajudando o reverendo Marcus a construir um novo prédio para sua crescente congregação e também está apoiando a comunidade cristã local por meio de microempréstimos, treinamento vocacional e aconselhamento sobre trauma.

“Rumores” se tornaram realidade

Em seu relato, Marcus explicou que antes de sua comunidade ser atacada, as ações terroristas do Boko Haram pareciam “apenas rumores”, porém a experiência que os moradores daquela região tiveram foi traumática.

“Em 2014, ouvimos rumores de Boko Haram nas proximidades. Quando chegaram à nossa cidade, destruíram as aldeias, incendiaram as igrejas, saquearam casas e mataram homens e mulheres. Nosso povo fugiu e abandonou as aldeias e a igreja parou de se reunir. Além disso, o Boko Haram incendiou todas as igrejas nas proximidades de Mubi, mas nenhuma das mesquitas foi destruída”, contou.

“Depois de vários meses, o Boko Haram deixou nossa cidade e eu voltei. Havia muito poucos de nós. Alguns chegaram tarde da noite e entraram em suas casas”, acrescentou.

Apesar de o livramento ser motivo de gratidão a Deus, o pastor disse que os ataques geraram medo nos corações dos cristãos locais.

“Quando o Boko Haram atacou, o coração de todos ficou assustado. Estávamos todos cheios de traumas. Quando voltamos, havia sangue nas paredes de algumas das igrejas. Quem viu ou ouviu falar não queria mais ir à igreja”, contou.

“As pessoas pensavam que se fossem à igreja também poderiam ser atacadas. Muitas pessoas não retornaram à igreja na época. A vida espiritual de muitos ficou muito fraca. Quando você anda com o Senhor e essas coisas acontecem com você, há uma grande decepção, medo e perda de confiança e esperança. Honestamente, naquela época, minha vida espiritual também foi abalada. Eu estava tão assustado. Verdadeiramente falando, minha fé foi abalada”, acrescentou.

Mas inspirado na Palavra de Deus, o pastor tentou reunir cristãos novamente para estarem em comunhão, apesar das tragédias.

“A Palavra de Deus continuou me lembrando que quem confia em Deus não será abandonado. Naquela época, eu estava pastoreando em outra cidade, muito longe daqui e fui transferido para a zona mais quente - perto de Mubi, onde o Boko Haram estava acampado. Comecei a visitar os membros da igreja em suas casas, mas ainda assim apenas quatro membros concordaram em ir à igreja. E foi assim que começamos a adorar novamente, até que os membros finalmente chegaram em maior número”, destacou.

Esperança e encorajamento

Quando as pessoas gradualmente começaram a voltar para a igreja, a missão Portas Abertas organizou na região um seminário sobre cura de traumas, além de levar suprimentos e apoio financeiro, porque ninguém tinha alimentos armazenados. Eles reuniram pastores e membros locais e continuaram encorajando e ensinando aqueles cristãos.

“Gradualmente, as pessoas começaram a voltar aos seus sentidos. Eles [Portas Abertas] continuaram nos encorajando e treinando. Por causa desses ensinamentos, muitas pessoas foram encorajadas e fortalecidas para permanecerem firmes e retornaram à igreja”, contou. “Hoje, a igreja está cheia”.

“Não podemos quantificar nossa gratidão, e somente Deus pode recompensá-los”, destacou.

Uma mensagem para o Boko Haram

Em sua carta, o pastor Marcus também deixou uma mensagem ao Boko Haram.

“Se eu pudesse falar hoje com um membro do Boko Haram, diria a eles que não retribuiremos o mal com o mal. Eu diria a eles que o que eles estão fazendo não os levará a lugar algum e devem se arrepender e seguir a Jesus Cristo. O que eles fizeram, não lhes pagaremos na mesma moeda, nossa oração é que apenas se voltem para Cristo. Deus está disposto a perdoar todos os seus pecados, essas são as boas novas que tenho para eles hoje”, disse.

Uma palavra para os cristãos ao redor do mundo

Marcus também deixou uma mensagem aos cristãos de todo o mundo que possam vir a sofrer perseguição religiosa.

“Algo que eu quero que os fiéis de todo o mundo saibam, é que se alguma dificuldade como essa aparecer, não se sintam desencorajados, mas contem com pura alegria. A perseguição continuará chegando. E lembre-se, a perseguição não começou apenas com você; isso aconteceu no passado e ainda está acontecendo. Onde houver perseguição, o Evangelho é pregado cada vez mais”, destacou.

“Antes do ataque do Boko Haram, éramos fracos, mas depois disso nos tornamos muito fortes na fé. Não oramos para que Deus tire as dificuldades, mas que Deus nos dê a graça de podermos suportar. A Bíblia nos diz que quem perseverar até o fim receberá uma coroa de justiça. Esta é a mensagem que quero enviar aos cristãos de todo o mundo hoje”, afirmou.

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