Jovem com doença rara faz missões pelo mundo: “Nada me impede de pregar o Evangelho”

Ana Clara Schindler é portadora de AME, uma doença degenerativa e, apesar de suas limitações, ela viaja o mundo para falar do amor de Deus.

Fonte: Guiame, Aline GonçalvesAtualizado: terça-feira, 13 de junho de 2023 às 11:08
Ana Clara é missionária da JOCUM e ama pregar a mensagem de Jesus. (Foto: Reprodução/Instagram/Ana Clara Schindler)
Ana Clara é missionária da JOCUM e ama pregar a mensagem de Jesus. (Foto: Reprodução/Instagram/Ana Clara Schindler)

A missionária Ana Clara Schindler tem testemunhado com sua própria vida quão grande é a graça de Deus.

Aos seis meses de idade ela foi diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME), uma doença degenerativa rara, que interfere nos gestos voluntários do corpo.

Ela se converteu aos 14 anos através de uma cristã que conheceu na internet. 

“O que eu conhecia de Deus era a religião e o desespero das pessoas para que eu fosse curada, o que nunca importou muito pra mim”, disse ela em entrevista ao Guiame

Ana Clara contou que essa amiga lhe apresentou um “Deus relacional”, que não estava preocupado com o seu físico, mas que desejava ter um relacionamento pessoal com ela.

“Além disso, ela sempre me respondia tudo com versículos da Bíblia, sempre trazendo a Palavra de forma atual, o que de fato ela é. Então me converti pois não tinha como negar que tudo aquilo era, no mínimo, real”, afirmou ela. 

Anos depois de sua conversão, ela se dedicou mais ao relacionamento com o Senhor e ao estudo da Bíblia. 

Seu interesse por missões surgiu através do missionário Luca Martini, quando ela assistiu um vídeo em que ele orou por um senhor que tinha dificuldade motora, e o homem foi curado.

A partir daí, Ana Clara foi motivada a se inscrever em uma escola de missões do Dunamis Movement, chamada “21 Project”. 

“É isso que eu quero fazer pelo resto da minha vida. Ali eu ouvi o que era missões e tudo fez sentido na minha cabeça. Parecia que meus olhos tinham sido abertos para o meu chamado e tudo fez sentido”, disse ela. 


Ana Clara com a equipe que foi para Santa Catarina e Rio Grande Do Sul. (Foto: Reprodução/Instagram/Ana Clara Schindler)

Missão JOCUM

No 21 Project, Ana Clara conheceu a Escola de Treinamento e Discipulado da Jocum (Eted). Apesar do desejo em participar, ela tinha dúvidas se conseguiria “fazer algo tão grande” e ficar tanto tempo longe de casa, sem a estrutura de acessibilidade e suporte que precisava.

Ana Clara relembrou um testemunho que marcou sua vida durante esse período:

“Minha primeira viagem missionária foi no auge da pandemia. Muitas pessoas não acreditavam que eu estava indo, quando o mundo estava fechando as portas devido à Covid-19. Eu não sabia como o meu corpo responderia caso eu pegasse Covid. Mas eu tinha uma palavra muito clara de Deus que aquele era o tempo certo para ir”. 

E continuou: “Na metade da viagem, testei positivo para Covid e quase não tive sintomas. Enquanto o medo tomava conta de muitas pessoas, a única coisa que eu dizia para minhas enfermeiras era: ‘Eu não posso ir embora, eu preciso pregar a Palavra de Deus’”. 

“Eu dizia isso porque realmente aquele era, e ainda é, o meu maior medo, que algo me impeça de pregar o Evangelho”, acrescentou ela.


Ana Clara no período da pandemia. (Foto: Reprodução/Instagram/Ana Clara Schindler)

Nesses três anos em missões, Ana Clara fez cinco viagens missionárias e está a caminho da sexta, que será para o Japão. 

“Eu me movo pela voz de Deus. Sempre que Ele dá a direção eu vou”, afirmou a missionária. 

Imersão no campo missionário 

Ana Clara contou que, no campo, ela lida com duas dificuldades principais: comunicação e acessibilidade.

“Eu tenho dificuldade na fala, minha dicção não é perfeita e muitas pessoas têm dificuldades em me entender. Na minha primeira viagem missionária, me deparei com a necessidade de um tradutor, pois na hora de ministrar eu não podia esperar que todos iriam entender”, explicou ela.

A realidade no campo era bem diferente da que ela estava acostumada, onde só conversava com quem a conhecia e já tinha facilidade para a compreender.

“Agora eu precisava ministrar para muitas pessoas, fazer evangelismo na rua, entre outras coisas. Encontrava pessoas que tinham muita dificuldade em lidar com a minha deficiência, falta de informação e medo de se relacionar comigo”, lembrou ela. 


A missionária está sempre pronta para onde o Senhor a guiar. (Foto: Reprodução/Instagram/Ana Clara Schindler)

E continuou: “Me lembro que na primeira base missionária onde morei, pessoas vieram me dizer o quanto tinham medo de me ofender ao não entender o que eu falava e por isso não interagiam comigo. Isso era difícil de ouvir, mas ao mesmo tempo um paradigma a ser quebrado”. 

Ana Clara também contou que a acessibilidade local ainda é um problema em muitas igrejas, pois nem todas estão preparadas para receber pessoas com deficiências

“Já houve episódios em que não consegui subir para ministrar, mas nesse caso por exemplo, fiquei intercedendo pelas pessoas que tinham ido. Deus nunca desperdiça nada, e em qualquer ocasião, Ele valoriza nosso coração disposto a servir”, declarou ela.

Em sua viagem ao sertão da Bahia, ela já esperava que não encontraria um lugar acessível, porém, a disposição e entrega no reino de Deus fizeram com que ela permanecesse e tivesse coragem para ir mesmo com desafios. 

“Jesus veio e cumpriu seu ministério mesmo sabendo que iria morrer numa cruz. Então, até parece que eu não vou cumprir meu chamado por causa das dificuldades encontradas no caminho. Eu creio em um Deus que abriu o mar vermelho, então mesmo que eu não veja a rampa, ela já está lá”, afirmou Ana Clara.

Diante de todas essas questões, a missionária passou a entender o que chamou de “muito precioso”, o Corpo de Cristo. 


A missionária com indígenas. (Foto: Reprodução/Instagram/Ana Clara Schindler)

Ela citou Romanos 12 para exemplificar:

“Cada um tem sua função no Corpo de Cristo e não chegaremos lá sozinhos. Essa é a beleza. Eu encontrei irmãos que foram meus pés, minhas pernas e até minha voz quando necessário. A unidade do Corpo de Cristo, é o que nos faz vencer as barreiras e isso eu aprendi na missão”.

A rotina de Ana Clara requer cuidados específicos devido a sua deficiência, por isso, ela é acompanhada por uma equipe multiprofissional 24 horas por dia. Mas no caso de uma viagem missionária, apenas duas enfermeiras são essenciais. 

Atualmente ela mora com os pais na cidade de São Paulo e é membro da Zion Church.

Sobre a AME

Ana Clara compartilhou que a deficiência nunca mexeu com a sua autoestima, pois ela sempre viu a AME como uma característica com a qual ela nasceu. Para ela sempre foi algo “natural e evolutivo”.

Na infância, ela relembrou que sofreu muito bullying dos demais colegas de classe.

“Os alunos não queriam fazer trabalho comigo e até pediam para mudar de turma.  Desviavam os olhares e não falavam comigo. Foi um tempo muito difícil, mas em contrapartida, tinham aqueles que me acolhiam em outros ambientes. Depois mudei de escola e tive uma boa aceitação”, lembrou ela. 

Na faculdade ela também lidou com algumas discriminações, mas foi acolhida pelos jovens do “Dunamis Pockets” (missões universitárias). Eles a acolheram e a ajudaram em seu processo de maior intimidade com Cristo. 

No âmbito profissional, Ana disse que passou por situações em que pessoas a pararam na rua e não acreditaram que ela pudesse trabalhar em uma produtora audiovisual. 

“As pessoas realmente não acreditam que alguém com deficiência tem capacidade e direito a uma vida completa, mesmo com suas limitações. Podemos sim trabalhar, ter uma perspectiva de vida e família”, declarou ela.

Ana Clara é formada em design, com habilitação em comunicação visual e ênfase em marketing pela ESPM. Ela atuou como diretora de comunicação na Jocum de Florianópolis.

No trabalho com a missão, ela encontrou um ambiente com “mais disposição para o diferente”. 

“Encontrei novas possibilidades e novos espaços de desenvolvimento. Quando respeitamos a individualidade de cada um, fica muito mais fácil de exercer a inclusão, e isso encontrei no campo missionário. Tive a minha individualidade respeitada e pessoas que me impulsionaram para a minha vocação”, compartilhou ela. 

A missionária destacou como é o seu relacionamento com Deus:

“O relacionamento com Deus é algo a ser construído e desenvolvido eternamente. A Bíblia nos diz que a eternidade é conhecer a Deus. Isso me fascina! Saber que tenho um relacionamento inesgotável com Ele. Um Deus completo que é amigo, pai, Senhor e tudo que precisamos”. 

E concluiu dizendo: “Uma chave que transformou meu relacionamento com Deus foi quando eu entendi que poderia entregar o meu melhor, mas também o meu pior, pois Ele me conhece por inteiro. Não existe nenhum lugar que eu possa me esconder senão nEle, isso é lindo. O meu relacionamento com Deus é livre nEle, por Ele e pra Ele”. 

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