Pouco depois de chegar à fé cristã na China, Hea Woo*, de 74 anos, se viu tendo de voltar à Coreia do Norte direto para um campo de concentração. Hoje, ela vive refugiada em outro país, mas foi ali que aprendeu o real sentido da liberdade.
“Pela primeira vez na minha vida, estou livre. Livre para ir onde eu quero, para fazer o que eu quero e para adorar Jesus em campo aberto. Eu aprendi o que é liberdade quando estava no campo de trabalho”, disse ela, de acordo com a organização Portas Abertas.
Hea Woo é uma senhora pequena, frágil e alegre. É difícil imaginar que ela tenha sobrevivido a vários anos de detenção em um campo de trabalhos forçados.
Muito antes de ser detida pela polícia secreta norte-coreana, Hea Woo sofreu alguns traumas.
Quando era jovem, durante a Guerra da Coreia (1950-1953), perdeu o pai enquanto servia ao exército. Mais tarde, em 1997, sua filha mais velha morreu de fome. O marido de Hea Woo saiu para procurar comida na China e lá se tornou cristão. Infelizmente, ele foi preso e enviado de volta. Ele morreu em uma prisão norte-coreana seis meses depois.
Hea Woo soube da conversão do marido através de seus ex-companheiros de cela, que a visitaram após sua libertação. “Fiquei chocada ao saber que meu marido havia se tornado cristão. Mas instintivamente percebi que ele havia encontrado a Verdade, enquanto eu ainda estava vivendo uma mentira”, reconheceu.
“Eu tinha certeza: nossos líderes não eram absolutamente divinos. Então fugi para a China. Eu estava procurando por parentes que moram lá, mas eles foram embora. Então eu me refugiei no único santuário que encontrei: uma igreja cristã”, ela conta.
Mais tarde, ela também descobriu que sua mãe, falecida em 1990, sempre foi cristã. “O mais profundo pesar da minha vida é que nunca consegui falar sobre fé com minha mãe. Eu não sei porque ela nunca mencionou Jesus para mim, nem mesmo quando me tornei adulta. Provavelmente é porque eu era tão falante e impossível de guardar segredos”, lembra sorrindo.
Voz de Deus
Hea Woo foi presa na China antes que pudesse fugir para a Coreia do Sul, depois que dois norte-coreanos que ficaram na mesma casa foram detidos por policiais e deram o endereço do esconderijo.
Depois de dez meses na prisão, ela foi condenada a alguns anos em campos de trabalhos forçados, apesar de sua fé cristã. Nesse período, ela afirma que quase morreu. “Os guardas eram implacáveis. Eles me bateram com paus e me chutaram. Eu estava tão desanimada que comecei a duvidar de Deus”, desabafa.
“Quando voltei para a cela, me senti completamente sozinha, embora houvesse doze outros prisioneiros comigo. Então ouvi uma voz alta. Eu olhei para cima, mas ninguém se mexeu ou piscou. Eu fui a única que ouviu a voz! Dizia: ‘Minha amada filha, você está andando sobre a água!’ Eu sabia que vinha de Deus. Eu sabia que Ele não tinha me esquecido”, relata.
“Durante os anos que passei na prisão e no campo de trabalho, ouvi a voz algumas vezes. Cada vez foi Deus me encorajando”, acrescenta.
Ainda assim, depois de cinco meses na prisão Hea Woo ficou muito doente. “O médico disse que eu tinha apenas três dias de vida. Eu orei a Deus. Implorei a Ele que não me deixasse morrer antes que eu tivesse a chance de contar ao mundo sobre a Coreia do Norte e a fé do meu marido”.
“Havia sete guardas cruéis e eu pedi a Deus para usá-los para me ajudar, mesmo que eles fossem parte do exército de satanás. Um milagre aconteceu. Porque os guardas sabiam que eu estava prestes a morrer, eles me deram comida extra. Lentamente eu me recuperei. Depois de cinco meses eu estava completamente curada. Foi fantástico. Não recebi nenhum remédio, dormi no chão sem aquecimento. Por causa do frio eu mal conseguia dormir, minhas mãos e pés estavam sempre congelados, ratos e insetos estavam por toda parte. Certamente foi Deus quem me manteve viva”, ela conta.
Igreja secreta na prisão
Além de seu próprio sofrimento, Hea Woo via policiais queimando cadáveres e suas cinzas espalhadas pela estrada, onde eram pisoteados. Apesar de tudo, ela destaca que permaneceu fiel a Deus. “Eu permaneci fiel e Deus e isso me ajudou a sobreviver. Não só isso, Ele me deu um coração para evangelizar outros prisioneiros”.
Através de estratégias dadas pelo Espírito Santo, ela conseguiu impactar muitos com dia fé. “Como Deus poderia me pedir para contar aos outros prisioneiros sobre Jesus? Eu morreria se eles me pegassem. Deus persistiu. Ele me mostrou quais prisioneiros eu deveria abordar. Ele falava comigo, era uma certeza que eu tinha dentro de mim: ‘Essa pessoa. Fale com ele’. Então ia até a pessoa e contava a ela o que está em Atos 16: 3, que as pessoas têm que crer em Jesus e que elas e suas famílias serão salvas”.
“Era uma mensagem encorajadora para os prisioneiros, que caminhavam à beira da morte todos os dias. Eles facilmente criam e se convertiam. Não só por causa do que eu dizia. Eles viram o Espírito Santo trabalhando em mim. Às vezes eu dava um pouco do arroz que eu recebia para os outros. Quando as pessoas estavam doentes, eu fui até elas e ajudei-as a lavar suas roupas”, acrescenta.
E assim uma comunhão secreta de cristãos passou a existir. “Eu tentei ensinar-lhes as coisas que eu sabia. Talvez isso não fosse muito e eu não tinha uma Bíblia para ler. Eu só podia compartilhar o que sabia e os versos dos quais me lembrava”, afirma.
“Aos domingos e no dia de Natal, nos reuníamos em lugares secretos, como o banheiro. Lá tínhamos uma breve reunião de adoração. Eu lhes ensinei hinos e cantamos suavemente”, disse sussurrando. “Todos nós cinco sobrevivemos ao acampamento, porque cuidávamos uns dos outros. Nós não tivemos problemas, apesar de nossas reuniões secretas”.
Após ser liberada, Hea Woo se refugiou em outro país, onde vive até hoje. Seu trabalho de evangelismo continuou fora dos muros da prisão e ela roda o mundo levando seu testemunho, apoiada pela Portas Abertas.
*Nome fictício por razões de segurança.
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