Autoridades da Índia suspenderam os esforços para recuperar o corpo do missionário americano John Allen Chau, que foi morto a flechadas por uma tribo isolada da ilha de Sentinela do Norte, segundo testemunhas.
Um alto funcionário do governo disse à BBC que a decisão foi tomada para não perturbar a tribo Sentinela. Seu corpo ainda está na ilha e as tentativas até agora para recuperá-lo não tiveram sucesso.
Apesar da confirmação de sua morte pelos pescadores que o levaram ao local e viram o que aconteceu, a mãe Lynda Adams-Chau disse ao jornal Washington Post acreditar que Chau está vivo. Questionada porque, ela respondeu: “Minhas orações”.
Embora haja muitas críticas em torno da decisão de Chau de levar o Evangelho sozinho para uma tribo isolada do mundo moderno, a organização missionária All Nations, que apoiou o jovem, defende vigorosamente suas intenções.
A All Nations afirmou que o contato de Chau foi legal, pois o governo indiano anunciou que iria retirar a Licença de Área Restrita em Sentinela Norte e outras ilhas habitadas. A notícia da suspensão da licença foi veiculada em diversos jornais em agosto.
Alguns críticos e organizações missionárias se manifestaram publicamente contra a abordagem de Chau e sua tentativa de entrar em contato com os ilhéus. Ele também foi criticado por viajar sozinho, sem entrar em contato com o governo indiano e potencialmente expondo a tribo a doenças modernas.
Segundo a Dra. Mary Ho, líder executiva internacional da All Nations, a organização apoiava o missionário e seus planos. “John Chau fez o melhor que pôde, assim como todos nós”, disse ela à CBN News.
Estratégia missionária é discutida
Diante do caso, organizações missionárias que trabalham com o chamado “grupo de pessoas não alcançadas”, passaram a discutir as melhores maneiras de entrar em contato com esses grupos.
Scott Hildreth, diretor do Centro de Estudos sobre a Grande Comissão no Seminário Teológico Batista do Sul, acredita que a viagem de Chau foi “destinada ao fracasso” por ter viajado sozinho para a ilha com o mínimo de contatos e conhecimento sobre a cultura.
Em 2005, um fotógrafo registrou membros da tribo em posição de guarda. (Foto: Christian Caron/Creative Commons/A-NC-SA)
“O sucesso de um missionário não pode se limitar ao primeiro contato, mas em estabelecer relacionamentos que permitam que o Evangelho seja ouvido e observado”, disse à revista Religion News Service.
A organização SEND International, que supervisiona 500 missionários na Ásia, Europa, Eurásia e América do Norte, também discorda da estratégia de Chau. “Nunca toleramos o tipo de abordagem que John adotou”, disse Michelle Atwell, diretora dos EUA para a SEND. Ela defende que é preciso construir relacionamentos de confiança e conhecer o contexto antes de tentar entrar.
David Holsten, presidente da Mission Aviation Fellowship, também se opôs à abordagem de Chau. “Eu acho que a maneira de John Chau, embora motivada por muita paixão, deixa alertas vermelhos por toda parte”, opinou. “Descobrimos que, se pudermos trabalhar bem com o governo e apoiar seus esforços, isso abrirá a porta para um modelo de ministério muito mais sustentável”.
Precauções que foram tomadas
Mary Ho admitiu que All Nations não procurou o governo indiano e não tinha certeza se as autoridades locais sabiam sobre seu trabalho. Mas ela destacou que se preparou por anos para alcançar os ilhéus. “Toda decisão que ele tomou nos últimos 8 ou 9 anos foi em busca de se preparar para amar e cuidar dos Sentinelenses do Norte”, disse ela.
Ho ainda citou o treinamento de Chau como técnico de emergência médica, a formação cristã na Universidade Oral Roberts, estudos adicionais sobre missões, fortalecimento do condicionamento físico e medidas preventivas de saúde. Ela disse que o jovem recebeu 13 imunizações e se colocou em quarentena antes de ir para a ilha.
Ho elogiou Chau por sua humildade em atender um “chamado ousado”. “Ele deu o exemplo para todos nós, de seguir o propósito para o qual fomos criados, de seguir o chamado que está em nossas vidas e estar totalmente preparados”.
A Universidade Oral Roberts também elogiou Chau, citando sua atividade missionária tanto como estudante na equipe de Missões e Divulgação da instituição, entre 2013 e 2014.
“Ele sempre foi o líder mais atencioso, amoroso, compassivo e preparado que já serviu a Jesus e aos outros”, disse Bobby Parks, que foi diretor de missões da Oral Roberts enquanto Chau estava na turma. “João conhecia o valor de Jesus e do Evangelho de amor por todos — tanto que ele queria compartilhar esse amor com o mundo, não importando o quanto isso lhe custasse”.
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