Nos últimos anos, o Brasil se tornou um dos principais países alvos de traficantes de pessoas. A cultura pornificada de músicas e danças brasileiras, amplamente compartilhadas nas mídias sociais, acabou vendendo a imagem de “paraíso sexual” para as redes de tráfico humano.
Com o propósito de conscientizar e capacitar a Igreja para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, surgiu o Joseph Movement.
Atuando nas frentes de prevenção, intervenção, capacitação e investigação, a organização missionária trabalha pelo fim da exploração de crianças, adolescentes e mulheres no Brasil.
Daí vem o nome “Joseph”, José em português, o personagem bíblico que foi vendido como escravo pela própria família, algo que ainda acontece no nosso país, principalmente na região Norte e Nordeste.
“Em algumas regiões específicas, as crianças são induzidas por seus pais a trocarem sexo por comida”, afirmou Matheus Lima de Sousa, líder do movimento, em entrevista exclusiva ao Guiame.
“O crime acontece pela maioria das vezes através de aliciamento nas redes sociais como por exemplo: propostas de empregos totalmente fantasmas”.
Equipe do Joseph em ação em um lixão na ilha do Marajó, na cidade de Breves. (Foto: Divulgação/Joseph Movement).
De acordo com o último Relatório Nacional sobre o Tráfico de Pessoas, divulgado em 2021 pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, 1.811 brasileiros foram traficados entre 2017 e 2020. Porém, o número de vítimas pode ser muito maior, devido aos casos subnotificados e crimes não descobertos.
O líder de 28 anos, conhecido como Liminha, explicou que há dois tipos de exploração que as vítimas podem sofrer nas mãos dos traficantes: a laboral e a sexual.
Na exploração laboral, os trabalhadores são forçados a uma jornada de trabalho excessiva em condições degradantes, com remuneração escassa ou ausência de salário.
Em casos de exploração sexual, as vítimas são traficadas para serem prostituídas em prostíbulos e também forçadas a gravarem vídeos pornográficos. A maioria das crianças e mulheres são traficadas para esse tipo.
O missionário relata ainda, que as vítimas são sequestradas por regiões para diferentes objetivos.
“Mulheres da região Norte são aliciadas, enganadas ou sequestradas e, muitas vezes, vão parar nos estados da região Sudeste e ficam por lá por muitos anos, ou a vida toda”, explicou Matheus.
“Se some da região Sudeste, sai direto da sua cidade para a Europa, com proposta falsa de emprego, e provavelmente vai ser explorada sexualmente”.
Missionários são os olhos do movimento
O Joseph Movement promove ações de prevenção em regiões do Brasil com alto índice de tráfico de pessoas, como no Pará e em Pernambuco.
Nas regiões Norte e Nordeste a exploração sexual de meninas pela própria família é comum, segundo Liminha.
“Algumas, se alegram quando descobre o sexo da criança, é uma forma de lucro caso seja do sexo feminino”, revelou ele.
Em regiões de garimpo na Amazônia, os casos de exploração são frequentes em famílias pobres.
“Alguns induzem seus filhos a entrarem em uma canoa e trocar relações sexuais por um litro de óleo diesel ou alguma alimentação”, relatou o missionário.
Na frente de investigação do Joseph estão os missionários e evangelistas, que são os olhos do movimento e detectam casos de tráfico humano em campo.
“Por exemplo: quando um grupo de evangelismo vai a áreas de prostituição. Eles analisam quantas mulheres têm no local, se existe alguma de outra nacionalidade, se existe cafetão e muitas pessoas vigiando as meninas. Se há janela, portas, locais de fácil saída”, explicou Liminha.
Recentemente, a missão ajudou uma menina venezuelana, que sofreu quatro tentativas de sequestro, que seria traficada para o Paraguai para exploração sexual.
“Conseguimos ir até a família e prestar total assistência. Enviamos o caso para a Justiça, em seguida criamos um projeto de Lei para a cidade, a qual visa uma semana de conscientização sobre o tráfico humano no mês de Julho”, afirmou o líder.
Pornografia: aliado do tráfico de pessoas
Equipe do Joseph em ação com crianças em extrema vulnerabilidade, em São Paulo. (Foto: Divulgação/Joseph Movement).
Conforme Liminha, a indústria pornográfica é uma aliada do tráfico de pessoas e funciona como um “pesquisador de tendências” para as redes de tráfico.
“Com base nas procuras em sites pornografico os traficantes conseguem saber a demanda de suas vítimas”, explicou.
“Se a pesquisa por crianças em site pornografico cresce, o desaparecimento de crianças aumenta. Se a procura por mulheres negras ou brancas cresce, o desaparecimento delas aumenta”.
Liminha diz que, na indústria ponográfica, muitas mulheres são obrigadas a gravarem vídeos ou praticarem programas via webcam.
O líder destaca a importância de conscientizar os cristãos sobre os danos da pornografia e como ela incentiva o aumento da exploração sexual.
“Se existe uma forma da Igreja ajudar, de forma mais prática, na luta contra o tráfico é deixar de assistir pornografia. Os líderes têm o dever de conscientizar seus membros quanto a isso, por uma questão religiosa e moral”, observou.
Chamados para libertar
O missionário enfatizou que apesar do problema social ser recorrente, a maioria dos cristãos não acredita que seja seu papel lutar contra esse tipo de opressão.
“Em estados pequenos, a opressão existe de forma explícita. Hoje, temos diversos casos no Brasil de mulheres sendo exploradas sexualmente, em bordéis, contra sua própria vontade. Crianças desaparecendo todos os dias e mulheres sendo traficadas para a Europa”, disse.
“Mas não nos atentamos contra isso por achar que não temos um papel social de forma prática. Mas Deus nos convida a agir diante de toda injustiça”.
Citando a passagem bíblica em Exôdo, em que Deus fala com Moisés através da sarça de fogo, anunciando que iria libertar o povo da da escravidão do Egito, Liminha refletiu sobre a responsabilidade da Igreja na luta contra a exploração humana.
“Nessa história tão conhecida no meio cristão, notamos uma pequena falha da Igreja em sua interpretação, o foco nunca foi sobre uma sarça que está em chama e não se consome, como tanto é pregado”, comentou.
“Essa passagem tem algo bem mais importante. É sobre um Deus que ouve, vê e trabalha em nosso favor, diante de uma opressão. Um Deus que envia resposta para a oração de um povo”.
Como a Igreja pode ajudar
Para o líder, as milhares de igrejas locais espalhadas pelo Brasil podem ajudar no combate do tráfico de pessoas.
“A Igreja é a única instituição capaz de transformar uma sociedade, estamos em todos os lugares representando o corpo de Cristo, e em todos os lugares há algum tipo de opressão, e injustiça”, enfatizou Liminha.
Hoje, o Joseph Movement está trabalhando para capacitar o máximo de igrejas para atuarem no enfrentamento ao tráfico em todo o país. O propósito é unir forças entre os membros e a equipe da missão.
As denominações que desejarem contribuir ou convidar a missão para eventos de capacitação, podem entrar em contato pelo telefone (11) 95589-0237.
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