Pastor é espancado em ceia por acusação falsa de 'distribuir sangue' em vez de suco de uva

Um pastor foi violentamente atacado após sua igreja ser invadida por uma multidão de extremistas nacionalistas hindus, no começo de julho, em Solapur, Maharashtra, na Índia.

O grupo acusou o pastor de “distribuir sangue” durante a celebração de um culto de ceia, desencadeando uma cena de tensão e violência.

Após invadir o culto e questionar o pastor, os extremistas hindus queimaram Bíblias e agrediram os presentes. A ação interrompeu uma cerimônia de comunhão e gerou temor entre os cristãos locais, que agora vivem com medo de novos ataques.

O ataque foi filmado pelos presentes e rapidamente viralizou nas redes sociais, ampliando a repercussão do caso.

 

 

 

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Entoando o slogan religioso “Jai Shri Ram” – que significa “Salve Senhor Ram” – o grupo se aproximou do pastor e o confrontou diretamente sobre a comunhão, conhecida como Ceia do Senhor.

Mesmo após esclarecer que a bebida servida era apenas suco de uva – e não álcool ou sangue – os agressores exigiram uma autorização oficial para sua distribuição.

Ignorando a explicação, confiscaram o restante do suco e partiram para a agressão física, segundo relato da Portas Abertas.

Após o ataque, novos vídeos e publicações começaram a circular no YouTube, acusando o pastor de obrigar entre 20 e 25 mulheres a consumir vinho tinto supostamente “viciante”, com a intenção de deixá-las intoxicadas e vulneráveis a abusos.

‘Conversões forçadas’

Os radicais também alegaram que o pastor oferecia incentivos para conversões forçadas ao cristianismo. Os cristãos locais afirmam que as alegações são falsas e fazem parte de uma campanha mais ampla para desacreditar as igrejas da região.

Segundo um parceiro local da Portas Abertas, os extremistas hindus distorcem e fabricam alegações para se adequar à sua agenda e incitam o medo e a hostilidade contra os cristãos.

"Recentemente, incidentes de ruptura da igreja tornaram-se cada vez mais comuns em Maharashtra”, diz.

"Há uma imensa pressão do governo estadual liderado pela Hindutva e dos grupos extremistas Hindutva para fazer cumprir uma nova lei anticonversão no estado."

Instrumento de perseguição contra minorias

Maharashtra figura entre os diversos estados da Índia que enfrentam crescente pressão para implementar legislações anticonversão mais severas, normas semelhantes já estão em vigor em 11 estados do país.

Enquanto apoiadores afirmam que essas leis servem para coibir conversões forçadas ou manipuladas, críticos denunciam que, na prática, elas frequentemente funcionam como instrumento de perseguição contra minorias religiosas, legitimando casos de assédio e violência.

As tensões se intensificaram em julho, após uma figura política ligada ao movimento Hindutva no estado anunciar publicamente recompensas em dinheiro por atos de violência contra cristãos.

Segundo o The India Times, o político teria oferecido uma recompensa de 11 lakhs – aproximadamente R$ 65.280 – a quem assassinasse um pastor, além de incentivos extras para ataques contra cristãos suspeitos de envolvimento em conversões religiosas.

Em sua fala, ele chegou a mencionar o termo “Sairat” – uma forma de assassinato de honra – como tentativa de justificar os atos de violência.

Lista Mundial de Perseguição

Segundo a Lista Mundial de Perseguição da Portas Abertas, a Índia aparece como o 11º país mais perigoso do mundo para os cristãos.

No último relatório há denúncias de que grupos radicais hindus estão cada vez mais atacando cristãos e muçulmanos, vendo-os como estranhos à nação e usando a violência para "limpar" as comunidades.

O parceiro da Portas Abertas acrescentou: "O estado de Maharashtra está passando por uma transição crítica em seu papel religioso.

"Vários líderes políticos Hindutva são conhecidos por espalhar discurso de ódio e acusar a comunidade cristã de conversão coercitiva.

"Os extremistas continuam a atacar as igrejas e os pastores."