Pastor que desafiou traficantes no México sofre tentativa de assassinato, mas sobrevive

Pastores têm sofrido grande pressão por parte de traficantes, devido aos trabalhos sociais que as igrejas realizam nas comunidades.

Fonte: Guiame, com informações da World Watch MonitorAtualizado: sexta-feira, 17 de agosto de 2018 às 15:56
A guerra contra o narcotráfico é um dos grandes desafios enfrentados pelo México. (Foto: CNN)
A guerra contra o narcotráfico é um dos grandes desafios enfrentados pelo México. (Foto: CNN)

Um pastor mexicano que sobreviveu milagrosamente a uma tentativa de assassinato em junho na cidade fronteiriça de Juarez, no México, disse que foi atacado porque o trabalho de sua igreja parece ter um impacto negativo sobre os esforços dos cartéis de drogas. O líder cristão se recusa a parar com seu ministério, o que é visto pelos traficantes de sua região como um "desaforo".

Um assassino entrou na casa do pastor no dia 12 de junho, fazendo-o se ajoelhar no chão e dizendo a ele: "Você não sabe com quem está brincando". O homem, em seguida, puxou o gatilho de sua arma, mas não conseguiu disparar porque a arma falhou. Então, ele bateu na cabeça do pastor com o cabo da arma e roubou sua carteira, antes de sair da casa, deixando a vítima inconsciente, no chão.

"Tudo o que posso dizer é que, com o trabalho que fazemos como igreja, afetamos as atividades dos grupos envolvidos no narcotráfico e também o crime organizado. Não temos certeza do que mais pode acontecer”, disse o pastor, cujo nome está sendo mantido em sigilo por motivos de segurança.

Contexto violento

O ataque aconteceu poucos dias após o assassinato de outro pastor local, chamado Eduardo Garcia.

Nos últimos anos, o número de mortes violentas no México aumentou drasticamente em uma verdadeira guerra movida em função do tráfico de drogas. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Geografia, em 2017 houve mais de 30.000 homicídios no México, o maior número já registrado, desde que as estatísticas foram coletadas pela primeira vez em 1997.

Em cidades como Juarez, no estado de Chihuahua, um dos lugares mais violentos do país, 80% dos assassinatos estão relacionados ao narcotráfico.

Somente em junho, houve 177 assassinatos em Juarez, segundo autoridades municipais  são seis por dia.

Para além dos rótulos

Embora a violência afete a todos, “os cristãos ativamente praticantes” são particularmente vulneráveis, segundo Dennis Petri, analista latino-americano da Portas Abertas Internacional, instituição que apoia os cristãos perseguidos por causa de sua fé em todo o mundo.

Como 90% da população do México se identifica como cristã, Petri disse à agência 'World Watch Monitor' no ano passado que “é importante não olhar tanto para sua identidade quanto cristãos, mas ainda mais para o comportamento deles, que resulta de suas convicções cristãs".

"Sempre que um cristão começa a se engajar em serviço social — por exemplo, montando uma clínica de reabilitação para dependentes químicos ou organizando trabalhos para jovens — isso é uma ameaça direta às atividades e interesses do crime organizado, porque tira a juventude do domínio deles, então é uma ameaça direta ao seu mercado", explicou.

Petri mencionou um líder da igreja que foi morto por estabelecer uma clínica de reabilitação de drogas e depois se recusou a fechá-la, apesar das ameaças. Ele também citou o exemplo de um líder cristão que montou um time de futebol para meninos vulneráveis às drogas, alguns dos quais estavam trabalhando como informantes para cartéis do tráfico. Quando um garoto disse aos traficantes que não queria mais ser um informante, foi assassinado.

Um exemplo mais óbvio do porquê os cristãos ativos são alvos fáceis vem da ideia de que as igrejas e seus líderes "têm muito dinheiro", então as congregações oferecem uma fonte pronta de dinheiro - os cartéis podem simplesmente entrar, trancar as portas e ordenar à congregação que esvazie suas bolsos.

Chito Aguilar, 62, ex-traficante de drogas que agora lidera uma igreja, disse ao World Watch Monitor: "Eles comparam a igreja a uma loja de conveniência e dizem: 'Bem, se em uma igreja há 40, 50 pessoas ou 100, então elas vão trazer dinheiro, vão dar as suas ofertas'. Então elas se tornam um alvo fácil, porque [os cartéis] virão aqui, como fazem em Juarez: oito pessoas entram na igreja, uma ou duas permanecem nas portas e as outras começarão a recolher os relógios, anéis, carteiras... tudo", contou.

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