A polícia do Sudão prendeu e interrogou sete pastores na semana passada, em Omdurman, antes de liberá-los sob fiança, segundo informaram fontes.
Os líderes cristãos permaneceram presos por seis horas na última quarta-feira (23) e foram acusados de se recusarem a cumprir uma ordem de entregar a liderança de sua denominação a um comitê nomeado pelo governo. Omdurman encontra-se no rio Nilo, próxima à capital Cartum.
O Rev. Ayoub Mattan, moderador da Igreja de Cristão do Sudão (SCOC) e Kwa Shamaal (também transliterado Kuwa Shamaal), chefe do departamento de missões da mesma igreja, estavam entre os líderes da igreja presos.
O pastor Shamaal já havia sido anteriormente preso no dia 18 de dezembro de 2015 e absolvido no dia 2 de janeiro de 2017 das acusações que variam de 'espionagem' a 'incitar o ódio contra o governo'.
O Ministério de Orientação Religiosa do Sudão (órgão do governo) escreveu uma carta datada de 14 de agosto, ordenando que a liderança da igreja fosse entregue ao comitê nomeado pelo ministério do governo, disseram fontes. Quando os líderes da igreja se recusaram, a polícia abriu um inquérito contra eles, embora a lei não estivesse esclarecida.
"A polícia perguntou se ainda iríamos manter nossa posição e nos recusarmos em reconhecer o comitê nomeado pelo Ministério de Orientação e Doações Religiosas e respondemos que 'sim, porque não é trabalho do ministério [do governo] nomear comitês para as igrejas", contou o Pastor Shamaal em depoimento à agência 'Morning Star News'.
A polícia disse que, ao prendê-los, estavam implementando ordens do Ministério de Orientação e Fundações Religiosas para impor seu comitê como nova liderança da Igreja de Cristo do Sudão. O domínio do governo sobre a igreja teria como objetivo, vender a propriedade da igreja na tentativa do Sudão de exterminar cristianismo do país. Os pastores disseram que a comissão era contrária à constituição de sua igreja, que exige eleições gerais a cada três anos para nomear novas lideranças.
Os pastores Mattan, Shamaal e os outros ainda são membros do comitê executivo legítimo da igreja, segundo as fontes. O mandato de liderança atual expira em março de 2018.
A polícia também prendeu o Rev. Yagoub Naway e o pastor Musa Kodi, ambos da mesma denominação. Os quatro cristãos foram interrogados junto com outros três líderes da igreja, incluindo o Secretário de Finanças da igreja, Abdulbagi Ali Abdulrahaman, e o Secretário Adjunto de Finanças da denominação, El-Amin Hassam Abdulrasool, antes de serem liberados sob fiança.
Seis outros membros da mesma denominação estão abrigados em locais sigilosos, depois de saberem que a polícia estava procurando por eles para prendê-los e interrogá-los.
Outro pastor da Igreja de Cristo do Sudão, o Rev. Hassan Abdelrahim Tawor, foi condenado a 12 anos de prisão no início deste ano, depois de ter sido acusado de espionar e tentar manchar a imagem do Sudão, mas foi libertado juntamente com Abdulmonem Abdumawla de Darfur, no dia 11 de maio, depois de receber o perdão presidencial.
Ele foi preso junto com o pastor Shamaal em dezembro de 2015. Eles foram condenados por acusações infundadas de ajudar o missionário tcheco Petr Jasek - perdoado e libertado no dia 25 de fevereiro - no suposto crime de espionagem, causando ódio entre as comunidades e divulgando informações falsas, de acordo com seus advogados.
Campanha contra o cristianismo
Diplomatas estrangeiros e ativistas de direitos internacionais tomaram nota do caso, depois que a 'Morning Star News' divulgou a história da prisão de pastores Abdelrahim Tawor e Shamaal. Suas prisões foram vistas como parte de um recente surgimento de assédio por parte do governo contra os cristãos.
A maioria dos membros da Igreja de Cristo do Sudão tem raízes étnicas entre os Nuba, no estado de Kuba, do Sul do Sudão, onde o governo está lutando contra uma 'insurgência'. Os Nuba, juntamente com outros cristãos no Sudão, enfrentam discriminação e assédio, já que o presidente sudanês, Omar Al-Bashir, prometeu apresentar uma versão mais estrita da sharia (lei islâmica extremista) e reconhecer apenas a cultura islâmica e a língua árabe no país.
Em uma verdadeira campanha para exterminar o cristianismo de todo o seu território, o Sudão está visando 25 templos de igrejas para destruição e, no dia 2 de agosto, já demoliu uma igreja batista em Omdurman.
As autoridades notificaram os líderes da igreja sobre a iminente demolição apenas uma semana antes da execução da ordem. O governo afirmou que as igrejas foram construídas em terras destinadas a usos residenciais ou outras finalidades, ou estavam em terras do governo, mas os líderes da igreja disseram que esta ação é parte de uma maior repressão ao cristianismo.
O assédio, as prisões e a perseguição aos cristãos se intensificaram desde a separação do Sudão do Sul em julho de 2011. O ministro sudanês de Orientação e Doações anunciou em abril de 2013 que nenhuma nova licença seria concedida para a construção de novas igrejas no Sudão, citando uma diminuição da população no Sudão.
Desde 2012, o Sudão expulsou os cristãos estrangeiros e muitos templos foram destruídos sob o pretexto de que pertenciam ao Sudão do Sul. Além de invadir livrarias cristãs e de perseguir cristãos, as autoridades também ameaçaram matar cristãos sudaneses que não cooperam com eles no esforço para encontrar outros cristãos.
Devido ao seu tratamento contra os cristãos e outras violações dos direitos humanos, o Sudão foi designado um país de especial preocupação pelo Departamento de Estado dos EUA desde 1999 e a Comissão norte-americana sobre Liberdade Religiosa Internacional recomendou que o país permaneça na lista em seu relatório de 2017.
O Sudão ocupa o quinto lugar na lista anual da Missão Portas Abertas sobre países onde os cristãos enfrentam maior perseguição.
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