Saiba como missionários contrabandearam 1 milhão de Bíblias para a China, há 40 anos

O projeto Pérola é comemorado como uma das operações de contrabando de maior sucesso do século 20.

Fonte: Guiame, com informações de Portas AbertasAtualizado: sexta-feira, 18 de junho de 2021 às 12:23
O Projeto Pérola, que completa 40 anos no dia 18 de junho, contrabandeou um milhão de Bíblias para a China. (Foto: Portas Abertas)
O Projeto Pérola, que completa 40 anos no dia 18 de junho, contrabandeou um milhão de Bíblias para a China. (Foto: Portas Abertas)

Em plena Revolução Cultural na China, o fundador da Portas Abertas, conhecido como Irmão André, e vários parceiros, ouviram falar sobre os cristãos chineses que resistiam à forte perseguição do governo. 

Em viagem ao país se surpreenderam com uma imensa rede de milhões de cristãos que eles descreveram como “fortes, fundamentados em princípios, ousados e corajosos”, apesar de perseguidos, contou o Irmão André, que é autor do livro “O Contrabandista de Deus — desafiando os limites da fé”.

Planejamento do Projeto Pérola

Mãe Kwang, uma evangelista chinesa que já tinha passado três vezes pela prisão, e mesmo assim continuava a percorrer o sul do país pregando a Palavra e organizando igrejas domésticas, fez o pedido inicial de 30 mil Bíblias.

E assim, o que ficou conhecido como “Projeto Pérola” começou a ser planejado. E, no dia 18 de junho de 1981, exatamente 1 milhão de Bíblias foram entregues na praia de Shantou, cidade costeira no sul da China, para os cristãos locais, sob a promessa de que fariam a palavra de Deus chegar a todos os cantos do país.

O “Projeto Pérola” levou esse nome porque as Escrituras são “como uma pérola de grande valor”, à qual se referiu Jesus na parábola em Mateus 13.45-46. E como o mercador, os cristãos chineses estavam dispostos a arriscar tudo pela “pérola” que é a palavra de Deus.

Aguardando o tesouro

Naquela noite, mais de 2 mil cristãos chineses aguardavam a chegada das Bíblias à praia, uns para escondê-las, outros para distribuí-las imediatamente. Essa operação exigiu considerável esforço e organização. 

Os participantes tiveram de ser encontrados e informados dos detalhes pessoalmente. Foi um milagre reunir tantas pessoas sem que as autoridades percebessem.

Um rebocador de 30 metros chamado Michael moveu-se pesadamente a uma velocidade de 5 quilômetros por hora. Ele rebocou a barcaça Gabriella (de 40 metros de comprimento), carregada com 232 pacotes à prova de água, de uma tonelada, contendo ao todo um milhão de Bíblias em chinês. 

Os 20 membros da tripulação a bordo do Michael eram dos seguintes países: Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.

Projeto Pérola

Um deles foi Terry Madison, que na foto está agachado do lado direito, de barba. “Antes da viagem, meu trabalho era preparar todo o material para arrecadar os milhões de dólares que precisávamos para a missão — sem poder dizer a ninguém sobre o que estávamos fazendo. Isso foi um desafio”, revelou.

Ele explica que foi complicado levantar tanto dinheiro sem dar nenhuma explicação às pessoas sobre o que seria feito com ele. “Mas nossos apoiadores contribuíram e ainda enviaram presentes para que isso acontecesse”, lembrou. 

Segundo o cristão, participar daquela grande aventura e também do segredo que precisava ser guardado, por questões de segurança, foi um privilégio.

Um contrabando que mudou a vida de cristãos chineses

Os pacotes flutuantes que continham as Escrituras foram rebocados para a praia por pequenos barcos de borracha. A operação, idealizada pelo Irmão André, mudou a vida de muitos cristãos na China.

“À medida que nos aproximávamos cada vez mais, percebemos que isso era realmente sério, poderíamos morrer, ser presos ou nos perder no mar. Tenho certeza que todos nós tínhamos nossos medos e dúvidas sobre o que aconteceria quando chegássemos lá”, revelou Terry que também foi o cozinheiro da tripulação.

Vale lembrar que naquela época, a Igreja na China estava passando por um reavivamento, depois de quase ter sido banida durante a Revolução Cultural. Com a morte de Mao Zedong, em 1976, a situação melhorou um pouco, porém havia escassez de Bíblias.

A Igreja ainda dava sinais de vida e os cristãos começaram a sair das "catacumbas". Mas a religião continuou sendo vista como o ópio do povo e tinha de ser combatida. Os cristãos ainda precisavam ser prudentes e não podiam reunir-se livremente em qualquer lugar. 

Contrabando bem sucedido

A escuridão era total e o mar estava calmo. Essa era a condição ideal para o desembarque dos 232 fardos de Bíblias, que foram jogados ao mar e três barcos menores puxaram rumo à praia.

“Minha lembrança favorita da viagem foi a noite da entrega. Os cristãos chineses nadavam até a água chegar na altura do peito para receber os pacotes”, recordou. “Adoraríamos estar na praia para poder abraçá-los ou falar com eles”, continuou.

“O Senhor estava supervisionando os bastidores e apesar de alguns momentos realmente difíceis, o Senhor estava lá para tudo”, disse Terry. 

Segundo a Portas Abertas, a realização do Projeto Pérola só foi possível porque cristãos de vários países se mobilizaram para levar a palavra de Deus aos cristãos chineses. 

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