Bispo da Universal é pré-candidato a prefeito de Salvador

Bispo da Universal é pré-candidato a prefeito de Salvador

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:21

O fundador e presidente estadual do PRB, deputado federal Márcio Marinho, mantém firme a sua pré-candidatura à sucessão na prefeitura de Salvador. Fluminense de Cabo Frio, o parlamentar concedeu entrevista ao jornal Bahia Noticias. Bispo da Igreja Universal há 20 anos, Marinho comentou na entrevista as acusações de perseguição da igreja a religiões de matrizes africanas na Bahia e garantiu que, de sua parte, isso nunca acontecerá: “O Márcio Marinho político tem que fazer um trabalho de forma partidária e tirando a religião do meio”. O bispo diz ainda condenar as declarações preconceituosas do também congressista Jair Bolsonaro (PP-RJ) com relação aos homossexuais. 

Confira alguns trechos da entrevista: 

  Como foi sua migração da religião para a política?

Márcio Marinho - Eu vim do interior do estado do Rio de Janeiro e sempre fazendo um trabalho religioso e acabei sendo transferido para a Bahia, também pelo fato de estar envolvido com rádio e televisão. Vim fazer um programa chamado Coisas da Vida. Tinha uma interatividade muito grande com a população, até porque me levava direto para as comunidades e, por conta desse trabalho, a gente recebeu o convite para participar da política. Então, não deixei e não deixo o trabalho religioso, ainda faço. Não como antes, porque hoje eu tenho a política para conduzir e o trabalho partidário do estado também. Concorri em 2002, para deputado estadual e, graças a Deus, ganhamos as eleições e demos um pontapé inicial politicamente.

Devido à sua pré-candidatura a prefeito de Salvador, o senhor pretende aliar as duas funções, de religioso e político, se eleito?

MM - Não tem como dividir, não é? Até porque as pessoas sempre me cumprimentam, uns me chamam de pastor, outros me chamam de bispo, não tem como dividir, mas a pessoa do Márcio Marinho, evidentemente, sabe dividir as coisas. Vamos receber votos de todos os segmentos religiosos, de todos os segmentos da sociedade, mas eu tenho muita clareza da minha postura. Eu não vou confundir minha postura religiosa com a postura do candidato. Eu acho que isso tem que ficar muito definido na cabeça das pessoas e, certamente, que eu vou provocar isso. O Márcio Marinho político tem que fazer um trabalho de forma partidária e tirando a religião do meio.

Aqui em Salvador, o senhor sabe que tem um movimento forte em relação ao candomblé e outras religiões de matrizes africanas. O senhor disse que sendo candidato a prefeito terá votos de diversos segmentos, mas, apesar de a gente ver na Igreja Universal algumas pessoas que combatem mais as religiões de matrizes africanas, o senhor assinou recentemente o prefácio da juíza Luislinda Valois, que é uma religiosa dessas culturas. O senhor acha que vai ter dificuldade em lidar com esse tipo de estigma de que a Universal faz esse combate ou o fato de o senhor já ter essa visão um pouco mais liberal, vai apaziguar os ânimos com relação a isso?

MM - Eu vou pela ótica do que está escrito na Constituição Federal, que diz que é nos dada a liberdade de expressão, a liberdade de religião, a opção sexual. Eu vou por esta questão. Eu acho que o respeito mútuo tem que estar na cabeça do pastor, mas também do pai de santo, da mãe de santa, do padre, de qualquer pessoa que hoje professa a fé. Isso é um direito que todos têm, mas nós não podemos confundir a questão religiosa com a questão política. Acho que a relação que tem que ser mantida é uma relação de respeito e, uma vez a gente chegando lá, o tratamento será esse. Eu mesmo prefaciei o livro da doutora [Luislinda], mostrando que eu não tenho nenhuma dificuldade de me relacionar com as pessoas de outras religiões. Digo, de passagem, que eu tenho uma relação muito boa. Eu fui [candidato a] vice em uma ocasião em que muitas pessoas que eram de uma religião de matrizes africanas vinham conversar comigo, com a maior naturalidade, não havia nenhuma “forçação de barra” nem delas nem minha; porque eu acho que tem que prevalecer o respeito. Certamente, terá o respeito do deputado e do político Márcio Marinho, sem sombra de dúvidas.

O senhor não declarou nenhum bem à Justiça Eleitoral. O senhor realmente não tem nenhum bem em seu nome? Por quê?

MM - Não tenho, porque eu sempre, na minha vida, abneguei de tudo. A nossa vida religiosa não permite a nós termos nenhum bem. Eu sempre trabalhei com o objetivo de ajudar as pessoas, a casa que eu morava era da Igreja, nunca tive casa própria, o carro que eu usava era da instituição, também, não era meu. A partir do momento que eu entrei para a política, realmente, eu vim sem bens nenhum.

Tudo que o senhor utiliza hoje de posses, casa, automóvel, tudo está no nome da Igreja Universal?

MM - Não, hoje tudo é alugado, isso foi antes de assumir. O apartamento que eu moro é alugado no meu nome e eu pago com meu salário. O carro também é alugado e eu pago também. Nada hoje que eu utilizo é pago pela Igreja. Nada, nada, nada. É pago com meu salário e também com a ajuda que a Câmara Federal nos dá.

Você não pensa no futuro? Se o senhor não conseguir se reeleger, que é uma coisa que pode acontecer com qualquer político, e ficar sem bens, não pensa em ter esse planejamento futuro? Um cantinho para dizer que é seu? Um automóvel? Algum tipo de bem que te dê estabilidade no futuro? Você é jovem...

MM - É lógico. Eu sempre tive isso tudo, pela minha fidelidade, pelo meu trabalho à Instituição [Universal]. Sempre tive por parte dela esse reconhecimento do meu trabalho e nunca me faltou isso. É evidente que se, um dia, eu perder eleição e sair da vida pública, certamente que eu vou ter o apoio da Instituição. Não vai me desamparar, como nunca me desamparou. Eu não tenho dúvida disso, que terei o meu canto para morar com a minha família e terei também o carro para usar. Isso não me preocupa, porque a Instituição certamente vai me amparar.

No Congresso, a gente tem visto uma posição do pessoal mais conservador, ligado aos movimentos religiosos, contrário a questões de direitos de homossexuais, e outra visão mais liberal. Por exemplo, a gente viu, recentemente, um grande embate entre o Jair Bolsonaro, que é colega do senhor, do PP do Rio, e o Jean Wyllys que é baiano, mas é deputado pelo PSOL do Rio. Qual a posição do PRB em relação a esse debate?

MM - O partido tem uma posição de muito respeito e considera muito natural que cada um defenda aquilo que cada um acredita. A minha posição é de muito equilíbrio. Agora, se depender de nós para poder incentivarmos, certamente isso não vai acontecer. Nós temos muito respeito e achamos que a postura do Jair Bolsonaro, em alguns momentos, é muito radical. Muito radical mesmo. Tem determinados pontos polêmicos que não deveria [existir]. Na verdade, passa até por desrespeito. Uma coisa é você não concordar, outra coisa é você desrespeitar. No caso de Bolsonaro, ele passa por desrespeito. A opinião tem que ser respeitada, mas desrespeitar outra pessoa é uma atitude que eu censuro e o partido também. Com Jean Wyllys na Câmara Federal, eu tenho uma relação de muita tranquilidade. Até porque nós temos que ter coerência, temos que respeitar as pessoas e entender que elas estão ali para defender aquilo que elas acreditam. Se depender de mim para criar dificuldade, não terá, porque a minha atitude vai ser sempre respeitosa, não só aos homossexuais, mas aos idosos, às crianças, aos negros, a todas as pessoas. Não há, por parte de mim, nem do partido, nenhuma forma de discriminação.

A Universal, todo mundo sabe, é ligada à Rede Record de Televisão e agora a gente teve um embate entre a Globo e a Record em relação aos Jogos Panamericanos. No meio disso tudo, o ministro do Esporte, Orlando Silva, foi acusado de irregularidades na pasta em que, muita gente do PCdoB, que também é parceiro do governo como o PRB, acusou uma orquestração de perseguição ao ex-ministro, tanto pela Fifa quanto pela CBF e também pela Globo e pela Editora Abril, que são os veículos oficiais da Copa do Mundo. A Record tem essa briga histórica com a Globo. O senhor acha que teve motivação política da Globo em relação ao Orlando Silva e isso também foi uma forma de a Record revidar a questão da transmissão do Pan pelo fato de não ter repercutido tanto assim essa questão do Orlando Silva, foi uma resposta da Record a isso?

MM - Eu confesso a você que eu não me atentei muito a esse período porque estive envolvido diretamente com a questão do partido no estado da Bahia, onde a gente viajou muito. Se você me perguntar se eu parei para ver o Pan, nem parei, por conta de muita coisa para fazer. É evidente que são duas emissoras grandes, disputando espaço. Sempre haverá essa disputa, uma não querendo perder o primeiro lugar e outra que está em segundo querendo assumir o primeiro. Acho que a disputa é importante e quem ganha, na verdade, acaba sendo os telespectadores, porque cada um tem que aproveitar e colocar uma programação de qualidade. Quanto à questão do ex-ministro Orlando Silva, que foi acusado, ainda não ficou nada definido na verdade... Está ainda em processo de apuração. Eu não posso fazer nenhum juízo de valor com relação a Orlando Silva. Se ele cometeu alguma irregularidade ou deixou de cometer, as investigações que irão apontar o que houve ou deixou de haver. Agora, a gente sabe que existe por trás disso tudo uma disputa muito grande, onde as pessoas vão para o terreno mais baixo, mais podre, mais imundo que existe. Por exemplo, isso eu notei e qualquer brasileiro notou: a Seleção Brasileira que foi para o Pan foi horrível. Ninguém ficou satisfeito. Não menosprezando os jogadores, mas quando você vai para um Pan desse, onde você vai batalhar, acho que era um momento que deveria ser também para o futebol. Jogadores, que, muitos deles, você nem conhecia e nem eu também. E os profissionais que deveriam estar lá, jogando futebol, mostrando o melhor que nós temos, ficaram de fora. O que é isso? Será que se fosse na Globo esses jogadores não iriam? O que houve? Porque não houve ninguém renomado na Seleção. Qual foi a motivação que teve de impedimento para que eles não fossem? Alguma coisa há. Eu não sei o que houve, mas quem viu os jogos, viu uma Seleção completamente desconhecida. Os melhores ficaram. Será que não tinha interesse do Brasil em fazer um bom Panamericano? Então, eu acho que alguma coisa houve, mas não posso fazer juízo de valor. Porém, há disputa de espaço de quem vai ser a primeira e a segunda, não tenha dúvida disso. A gente faz voto de que a Record seja a primeira.

Inclusive, se fala que tem uma inveja da Globo em relação à posse [de Dilma], porque no dia da posse, depois que Dilma Rousseff falou com todo o staff que estava lá, presidentes de outros países e tal, o último grupo a cumprimentá-la foi o grupo da Rede Record. Inclusive, a primeira entrevista coletiva dela após a posse foi também para emissora. A Globo agora estaria tentando revidar essa questão costurando coisas para enfraquecer o governo. O senhor tem essa visão disso? Já que o senhor não acompanhou nessa semana, desses episódios mais anteriores assim, teve isso mesmo, da Globo ter inveja e estar querendo estancar o governo por causa disso?

MM - Eu acho que a presidenta Dilma é “de maior” e sabe, com tranquilidade, onde ela é bem recebida, onde ela tem mais afinidade e onde deixa de ter. Eu acho que é evidente que, quando ela toma uma atitude dessa, de ser entrevistada prioritariamente pela Record, ela tem mais afinidade com a Record. Tem gente que não consegue entender que o país passa por uma mudança e essa mudança é visível. Não adianta a gente viver com a glória do passado. Eles que só tinham eles na frente, que não tinham ninguém para competir com eles e vem a Record com essa estrutura, com essa condição toda de estar se estendendo pelo Brasil, por toda a Europa, fazendo de repente ruir esse império que existia, que as pessoas tinham um medo danado. Hoje, eles têm que conviver com isso, porque não têm só eles mais. Tem a Record que está do lado deles. Certamente irá lutar e alcançar o espaço que ela quer e vai ocupar. Mais cedo ou mais tarde, ela vai ocupar. A gente sabe que de saber onde ela vai falar em A ou B, isso a Globo que tem que perguntar. Perguntar por que ela escolheu a Record para fazer a entrevista.

Com informações do Bahia Noticias

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