Deuza Avellar: "A Igreja tem que estar pronta para ajudar a ressignificar as distorções em relação ao comportamento sexual"

Em entrevista ao GUIAME, a psicóloga fala sobre a realidade dos problemas na área sexual e o papel da Igreja no cuidado com as pessoas que sofrem com eles

Fonte: Guiame, Juliana SimioniAtualizado: terça-feira, 25 de agosto de 2015 às 16:25
Deuza Avellar
Deuza Avellar

Psicóloga clínica especialista em traumas, Deuza Avellar foi palestrante convidada do encontro de coordenadores de grupos de apoio para recuperar viciados em drogas, organizado pela Cruz Azul em parceria com a REAGE (Rede Cristã de Agentes em Proteção e Prevenção às Drogas), realizado na Primeira Igreja dos Irmãos Menonitas do Boqueirão, em Curitiba-PR.

Na palestra, Deuza falou sobre o chamado para cuidar de pessoas, voltado à temática da recuperação de viciados, mas em entrevista exclusiva ao GUIAME ela respondeu a perguntas que envolvem outras áreas, inclusive sexualidade.

Em sua fala, ela faz questão de frisar: “As pessoas não sabem a importância do papel do psicólogo para a sociedade em termos de saúde mental e emocional”. Confira a entrevista completa com Deuza Avellar:

GUIAME: Após anos de experiência, qual é hoje o seu conceito do que é cuidar de pessoas?
DEUZA AVELLAR: Relacionamentos curam. Abordagem não cura, conhecimento técnico não cura, mas quando todo o conhecimento e bagagem é alinhado a um contato com o mundo em que não existem papéis de superioridade, onde dois seres humanos se encontram em determinado momento da vida em que um está preparado para usar essa ciência atrelada ao relacionamento que vai acontecer para trazer a outra pessoa à saúde emocional e integração que ela busca.
Cuidar de pessoas hoje é juntar toda essa perspectiva técnica com a importância dos processos das relação interpessoais. É ser companheiro de caminhada por um tempo determinado em que você vai ajudar essa pessoa a encontrar a integração de história que ela precisa para se ressignificar como pessoa.

GUIAME: Concorda que, por vezes, algumas igrejas deixam de agir no trabalho com recuperação de pessoas por valorizar mais o fator financeiro do que a disposição de pessoas?
DEUZA AVELLAR: As igrejas precisam compreender que têm muito material humano, que são as pessoas capacitadas e habilitadas e até que podem ser treinadas e voluntariamente doar o seu tempo.
Também precisam cria um espaço e ambiente propício, porque quando você cuida do lugar você cuida do ser humano. Deve-se criar um ambiente propício para que a pessoa chegue e saiba ‘fizeram essa sala se preocupando comigo’. Não precisa ser nada de móveis novos ou luxo, mas algo feito com carinho, respeitando a privacidade.
A igreja tem profissionais e pessoas que podem ser treinadas para desenvolver um trabalho muito sério. Às vezes há pessoas esperando um ano e meio para serem atendidas na fila da igreja. É preciso compreensão da igreja, como a compreensão dos profissionais de que eles podem se disponibilizar e doar um tempo para levar conforto, integração, possibilidade de ressignificação de vida. A Igreja tem um grande potencial para servir ao povo.

GUIAME: Problemas que parecem estar sempre em alta são os relacionados à sexualidade, como traição, pornografia, homossexualidade e banalização do sexo. Ele ainda é tabu na Igreja e como tratar?
DEUZA AVELLAR: Esse é um problema que eu tenho muita demanda no consultório. Mas a diferença que eu vejo entre o sexo e beber um copo de água é que um acontece no plano privado e outro no público, mas ambos fazem parte da minha necessidade fisiológica. O fato de o sexo se dar no plano privado e a Igreja não lidar com o assunto, faz com que as pessoas busquem a pornografia, chats indevidos, entre outros.
O comprometimento para a vida das pessoas é assustador, elas aprendem que podem estar na igreja sem se denunciar dos seus pecados e pedir ajuda. Essa aprendizagem é a pior coisa que existe. Posso ser pastor, líder do louvor, líder do ministério de casais e cultivar o que não é bom pra minha vida. A probabilidade disso se tornar um transtorno compulsivo é muito grande por se dar no plano privado.

Agora uma coisa muito séria: O que me impede de ter uma vida dupla é o temor a Deus, é o conhecimento profundo de Deus que me constrange de tal forma que eu entendo eu preciso pedir ajuda. Aqui esbarramos em outro problema: a falta de preparo do líder. Muitas vezes a sexualidade dele é um problema e você não faz com o outro o que você não faz com você mesmo.
Quando falamos em sexualidade, entramos em um campo muito sério, mas que não há mais como fugir, até mesmo pela demanda social e das doutrinações ideológicas em relação a casamento, homossexualidade, e por aí vai.
Os pais têm medo do que vai ouvir dos filhos em relação à vida afetiva. Vivo isso no consultório, mãe morrendo de medo porque o filho pode dizer que está apaixonado pelo colega porque as doutrinações ideológicas nas escolas estão fazendo as crianças pensarem que é assim mesmo. Há uma fábrica de crianças com distorções na sexualidade.

GUIAME: Vivemos um cenário que parece de guerra entre Igreja e homossexuais. Ainda há falta de preparo por parte da Igreja para lidar com essa realidade?
DEUZA AVELLAR: Trabalho com a questão da homossexualidade há 28 anos. É preciso entender que há uma luta, mas ela não é contra os homossexuais, e sim contra o movimento político que está por trás desses jovens homossexuais que se transformam em ativistas por manipulação, cujo objetivo do movimento é poder. Estamos falando de controle social com a manipulação da cultura, dos conceitos, do que é base de vida em termos de valores e princípios.
Quando a Igreja se coloca em uma luta contra pessoas que estão sofrendo, ela perde de vista que o alvo dela são as pessoas e a luta dela é contra política.
Quando essa geração, que vai pagar um preço muito alto, olhar para o lado e precisar de ajuda, a Igreja tem que estar pronta para acolher, para ajudar a ressignificar as distorções em relação ao comportamento sexual.

Hoje temos falas de cristãos com muita violência na mídia e isso não pode mais acontecer porque a Igreja tem se papel de não compactuar, mas de ir ao alvo certo porque as pessoas são vítimas. Os jovens hoje pensam que são livres quando assumem o que foram doutrinados a pensar que é normal, mas eles não têm noção de o que pensam que é ser livre é o que já foi decidido que essa geração se tornaria: perdida e distorcida no seu conceito de sexualidade.
Outra coisa muito importante: O Conselho Federal de Psicologia não tem o direito de me proibir, enquanto psicóloga, de atender as pessoas que sofrem, querem ajuda e não aceitam essa condição. Nós, psicólogos, precisamos lutar e tomar da mão do Conselho Federal de Psicologia o nosso direito de exercer a psicologia para todos que buscam ajuda. Quando falo de poder político é isso, todo um aparelhamento para que elas essas distorções não sejam arrumadas e as igrejas têm grande responsabilidade nisso.

GUIAME: Hoje você exerce sua profissão e seu ministério lado a lado. Como começou? Deus te levou a escolher sua profissão ou Ele usou sua formação para o exercício do ministério depois?
DEUZA AVELLAR: Fiz psicologia como muito jovem faz faculdade sem saber por que está fazendo. Muitos anos depois tive experiências com Deus e entendi que Ele queria algo especial comigo, com a psicologia e com as vidas. Mais à frente, a partir das experiências ao longo dos anos com a psicologia e com a homossexualidade, Deus me mostrou um outro caminho que é o caminho político. Hoje faço parte da REAGE Brasil, coordeno o movimento de conscientização política Eu Sou Brasil e faço parte do movimento Cristãos Pela Infância no Brasil. São movimentos políticos que trabalham para despertar a Igreja para a consciência do seu papel na sociedade e sua responsabilidade diante de Deus.

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