Esgotamento pastoral: 38% dos pastores consideram deixar o ministério

Pastores acreditam que a pandemia colaborou para o esgotamento de muitos líderes, porém, também trouxe uma oportunidade de refletir biblicamente.

Fonte: Guiame, com informações de Christianity TodayAtualizado: quinta-feira, 18 de novembro de 2021 às 17:51
Pastor diante da Igreja. (Foto representativa: Mark Neal/Unsplash)
Pastor diante da Igreja. (Foto representativa: Mark Neal/Unsplash)

Depois da pandemia por Covid-19, o esgotamento físico e mental no meio pastoral ficou ainda mais evidente. De acordo com o pastor Nic Burleson, que atua no nordeste do Texas, muitos se queixam de depressão, problemas na igreja e no casamento e dúvidas se devem ou não continuar no ministério.

“Temos vários pastores em cada retiro que estão pensando em deixar o ministério”, disse ao Christianity Today. “De várias maneiras, eles se sentem presos, o que só aumenta a pressão e o desgaste”, explicou.

Uma pesquisa do Barna Group, divulgada na última terça-feira (16), revelou que 38% dos pastores consideram seriamente deixar o ministério de tempo integral. Em janeiro, a porcentagem era de 29%.

“Foi para isso que eu fui chamado?”

“Todo o caos, toda a pressão, a mídia social, a pandemia, a política, o contexto hiperdigital, faz com que muitos líderes se questionem: Será que estou fazendo o certo? Foi para isso que eu fui chamado?”, apontou Joe Jensen, vice-presidente do Barna. 

Ele comenta que, em 2016, 85% dos pastores avaliaram seu bem-estar mental como bom ou excelente, de acordo com uma pesquisa anterior. Em outubro de 2021, porém, esse número caiu para 60%.

“Com tantos líderes de ministério ‘à beira do precipício’, os pastores estão mais ansiosos para sair um pouco da igreja, fazer amizades, falar abertamente sobre suas lutas, obter conselhos e encontrar suporte para sua saúde mental”, contou.

“O nível de esgotamento ficou mais grave”

“Antes da pandemia, o esgotamento era uma epidemia silenciosa nos líderes do ministério. As estatísticas testemunham isso, mas agora posso dizer que o esgotamento é endêmico”, disse Dan White, que lançou o Kineo Ministry Training Center, em 2020. 

O projeto organiza retiros para líderes de ministérios em Porto Rico, além de ser um programa de treinamentos. Em seu trabalho com pastores, White viu a crise se intensificar. 

“Mais líderes estão sofrendo esgotamento, até mesmo pessoas que costumam descansar aos sábados e tirar períodos de férias. O nível de esgotamento ficou mais grave, com exaustão ‘até os ossos’ e muito desânimo”, citou.

Como o esgotamento se manifesta

“O esgotamento começa a se manifestar de maneiras diferentes, de acordo com as personalidades”, disse White que também trabalha com aconselhamento pastoral.

“Para alguns, se manifesta através de raiva e irritação por trás de portas fechadas com a família. Eu vejo isso como um esconderijo relacional e uma tentativa de sumir um pouco”, disse.

“Para outros, se manifesta através da presença excessiva nas redes sociais, consumo de álcool, assistir TV demais. Tudo isso é um escape. Nossa mente, alma e corpo ficam tentando compensar a opressão que sentimos”, explicou. 

“Além da nossa capacidade de suportar”

Evan Marbury, pastor e conselheiro em Durham, Carolina do Norte, usou as palavras de Paulo, em 2 Coríntios 1.8 para identificar o esgotamento atual dos pastores. 

“Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida”, diz a passagem bíblica. 

Conforme Marbury, quando alguém chega a esse ponto é realmente preocupante. “Muitos pastores se sentem constrangidos em verbalizar essa verdade, mas se Paulo disse isso, nós devemos ser capazes de dizer também”, pontuou.

Para ele, em meio a todos os abalos e crises que ocorreram em 2020 e 2021, este se tornou um momento para os pastores repensarem sua abordagem quanto ao seu papel e sua saúde mental.

“Muitos estão lutando para sentir esperança”

Malbury, que é pastor da Igreja Central de Cristo, disse que há muitos pastores lutando para sentir alguma esperança. “Eles acreditam teologicamente, mas as coisas parecem difíceis na prática”, reconheceu.

“Isso tudo está forçando os pastores a encontrarem sua identidade em Cristo e não na perfeição de seu ministério, e acho que isso é uma coisa boa”, disse também Burleson. 

Na Igreja Timber Ridge, ele teve que lidar com seus próprios medos de não crescer e lembrar a si mesmo que o chamado de Deus em Mateus 25.21 estava focado na fidelidade, não no sucesso.

Ele planejou mais de vinte retiros à beira de um lago para 2022, um recorde para o programa, que se expandirá para incluir fins de semana para casais que são co-pastores. 

Falta de recursos

O pastor White aponta para um dos principais fatores que levam a liderança ao esgotamento — o dinheiro. “Muitos se perguntam: O que farei para ganhar dinheiro? Há um pânico aí. Em muitos casos, temos que ajudá-los a repensar sobre a importância de seu papel pastoral no mundo”, compartilhou.

“Figuras como o rei Davi, Moisés e outros homens que a Bíblia cita, também tinham dúvidas sobre sua vocação. Essa é uma grande oportunidade de se aprofundar no relacionamento com Jesus e de se revelar mais resiliente, mais seguro de quem realmente é, seja um ministro vocacional ou não”, concluiu.

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