Evangélico, jogador Léo Lima busca ser exemplo para a filha

Evangélico, jogador Léo Lima busca ser exemplo para a filha

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:36

Fama, mulheres e dinheiro. Todo menino que sonha ser jogador de futebol se imagina rodeado desses fatores e faz questão de ostentá-los. Principalmente quando esse tipo de conquista acontece no início da carreira. A imaturidade que a pouca idade sugere muitas vezes não é deixada de lado com o tempo. Com isso, aumentam os problemas e a produtividade em campo, que é o principal nesses casos, cai vertiginosamente. No entanto, temos exemplos de mudanças radicais de conduta. O agora ex-badboy Léo Lima é um indício de que isso realmente pode acontecer. Aos 29 anos, ele garante viver única e exclusivamente para fazer bem à sua família e a tem como prioridade em todos os momentos. Uma das razões dessa nova postura se deu por conta do lado espiritual. O ex-meia de grandes clubes como Vasco, Flamengo e São Paulo passou a frequentar a Igreja Evangélica e está decidido a oferecer um futuro mais próspero à própria vida e à de seus entes queridos.

Atualmente no Al-Nasr, dos Emirados Árabes, time treinado pelo italiano Walter Zenga (ex-goleiro da Azzurra), Léo Lima dá mostras de que evoluiu sensivelmente também no quesito profissionalismo. Apesar de estar de férias (se reapresentará no dia 14 de julho), ele faz questão de manter a forma para voltar a seu clube na melhor condição possível. Para isso, ele vem contando com o suporte do amigo Guido, companheiro nas categorias de base de Vasco e Madureira, que é gestor de um projeto para atletas de alto rendimento não desviarem o foco da profissão durante o período em que a sua respectiva temporada está em recesso.

Com ar sereno, Léo garante que o novo jeito de levar a vida não é da boca para fora. Numa conversa franca, ele falou sobre vários assuntos. Admitiu que quando mais jovem foi direto da noitada para alguns treinos, comentou sobre a situação do atacante Jobson - que corre risco de ser banido do futebol devido às drogas -, e falou sobre a importância da religião e de sua esposa Nathalia para que o amadurecimento enfim desse as caras tanto âmbito pessoal como no profissional. A filha Ana Sophia, de quatro anos, também colaborou para a mudança repentina do jogador. Outra curiosidade é o desejo de encerrar a carreira com a camisa do Goiás, clube que defendeu durante o Campeonato Brasileiro de 2009.

- Fiz muitas coisas erradas. Uma delas era sair para as noitadas e depois ir direto para o treino. Isso aconteceu muito quando eu era do Vasco e tinha 18 ou 19 anos. Mas nunca faltei treino ou cheguei atrasado. Às vezes, chegava cedo até demais por conta do horário que saía da farra (risos). Mas garanto que nunca cheguei para treinar embriagado. - declarou Léo Lima, revelando que os tempos de irresponsabilidade ficaram para trás.

Confira a entrevista com Léo Lima na íntegra:

GLOBOESPORTE.COM: Por que seu início de carreira foi cercado de polêmicas e qual foi a principal razão dessa sua mudança de atitude dentro e fora dos gramados? Léo Lima: Minha origem é de um lugar e uma família humildes. Saí de Bangu e cheguei à fama muito rapidamente. Deslumbrei um pouco e jamais pensei nas conseqüências. Chega uma hora da vida em que temos de dar um basta. Ficaria até feio fazer tudo que fiz na idade que tenho (29). Depois da chegada da minha filha e que me converti à Igreja Universal, mudei muito. Minha vida mudou da água para o vinho. Eu era muito explosivo, queria brigar por tudo. Deus e minha família me fizeram dar um “upgrade” na vida. Antes, eu só vivia na rua e esquecia de dar atenção até mesmo aos meus parentes. Agora, sou um cara família. Tudo que eu faço é para eles e com eles. Quando vejo o sorriso da minha filha Sophia, percebo que tenho que trabalhar muito e me dedicar para dar o melhor futuro possível para ela. Ela não pode crescer e as pessoas acharem que sempre teve um pai ausente. Sempre vou procurar orienta-la a seguir um bom caminho.

GE: Você está nos Emirados Árabes há cerca de um ano. Como tem sido a sua adaptação a um país de cultura tão diferente da brasileira? LL: No começo foi muito difícil. Jogar com estádios vazios e com um calor que beirava os 49ºC não me entusiasmava tanto, mas depois acostumei. Cheguei em julho de 2010, indicado pelo Hélio dos Anjos. Porém, ele não ficou lá por muito tempo e entrou um treinador árabe que não me colocava muito para jogar. Com isso, quase aceitei uma proposta da Coréia do Sul. No início deste ano, chegou o Walter Zenga, que foi goleiro da seleção italiana e gosta muito dos brasileiros. Logo de cara ele me colocou no time e hoje sou um dos homens de confiança dele. Tenho jogado de volante e ajudei o clube na excelente campanha que garantiu uma vaga para a Liga dos Campeões da Ásia.

GE: Apesar de poucos se lembrarem, você tem uma história bonita nas categorias de base da Seleção Brasileira, chegando a ser campeão mundial sub-17 em 1999, na Nova Zelândia. Fale um pouco daquela conquista. LL: Pegamos a Austrália na estréia da primeira fase e vencemos por 2 a 1. Depois, tivemos dois empates por 0 a 0 e nos classificamos para a fase final. Passamos por Paraguai e Gana antes do reencontro com a Austrália na decisão. Vencemos nos pênaltis por 8 a 7. Eu bati nas cobranças alternadas e a bola chegou a tocar na trave antes de entrar, em lance parecido com o do Romário na Copa de 94. Foi um alívio grande e uma emoção maior ainda quando conquistamos o título. Aquele elenco tinha jogadores consagrados no futebol atual. Adriano (Corinthians), Souza (Bahia), Diego Cavalieri (Fluminense), Eduardo Costa (Vasco) e Andrezinho (Internacional).

GE: Como você lidava com a fama de badboy e com as notícias polêmicas que envolviam o seu nome e o do seu inseparável amigo Souza? E como surgiu essa amizade? LL: Eu nem ligava na época. Sabia que estava errado e que tinha feito algumas besteiras mesmo. Não me arrependo de nada, mas a minha cabeça agora é outra. Joguei junto com o Souza desde moleque. Fomos para outros clubes juntos e só nos separamos quando ele foi para o Internacional e eu fui para o Porto. Sempre estava com ele quando me metia em problemas (risos). Mas podem falar o que quiserem dele. Sei que é uma pessoa maravilhosa, e que ajuda muita gente. Ele também está bem mais calmo atualmente. Se continuássemos com a conduta que tínhamos, seria uma idiotice.

O Souza é uma pessoa maravilhosa e também está bem mais calmo atualmente. Se continuássemos com a conduta que tínhamos, seria uma idiotice."

GE: Você foi muito novo para o futebol europeu, com passagens pela Bulgária e por Portugal. Por que você não conseguiu se estabelecer no Velho Continente? LL: Ao todo, fiquei três anos na Europa. Foram apenas três meses na Bulgária. Nem conto muito. No Porto, tinha totais condições de jogar. Porém, não me dedicava tanto e acabei me deixando levar pelo desinteresse. Eu achava que ia jogar quando quisesse, numa postura auto-suficiente. Mas é uma página virada na minha vida.

GE: Você já teve muitos treinadores de renome na sua carreira. Quem foi o melhor de todos eles? LL: A maioria dos treinadores que tive me ajudou. O Luxemburgo e o Hélio dos Anjos foram muito importantes. O Luxa me deu chance no Santos e no Palmeiras. Fomos campeões paulistas por ambos. O Hélio foi quem me deu oportunidade no time profissional do Vasco. Não posso esquecer do Ricardo Gomes, Antonio Lopes e Evaristo de Macedo. Sou grato a todos.

GE: Por que as suas passagens pelo Flamengo e pelo Grêmio foram frustradas? LL: No Flamengo, realmente nada deu certo. No Grêmio, no entanto, eu estava bem até ser obrigado a passar por uma cirurgia no joelho esquerdo. Quando voltei, estava acima do peso e não consegui recuperar o meu lugar. Quando o Mano Menezes não me inscreveu na Libertadores, pedi para ir embora. Não tinha mais o que fazer lá sem jogar a principal competição que o clube disputaria.

GE: Além do Souza, quem são seus grandes amigos no futebol? Você ganhou inimigos nesses anos de carreira? LL: Tenho vários amigos. Hugo (ex-Grêmio), Diego Souza (Vasco), Lenny, Alex Mineiro e Carlos Alberto são alguns exemplos. Não tenho inimigos. Nunca tive problema com ninguém nos clube que atuei. Eu não dava bola para quem eu não gostava, mas não tenho raiva nem mágoa de ninguém. Sei que fazia coisas erradas e não vou botar a culpa nos outros por elas. Quem faz o errado, tem que pagar. Colhi tudo o que plantei e agora restaurei a minha vida.

GE: Qual foi o título mais marcante da sua carreira? LL: Todos que conquistei são inesquecíveis. Mas guardo dois deles com um carinho especial. O que mais me marcou foi o da final do Carioca, pela jogada de letra que fiz em um dos gols do Vasco contra o Fluminense. O Paulistão de 2008 pelo Palmeiras também foi maravilhoso. O time não conquistava o Estadual havia 12 anos. Fiz um gol na semifinal contra o São Paulo, que foi a verdadeira final antecipada. Sofri uma contusão e não joguei os dois confrontos da final contra a Ponte Preta. Mesmo assim, fui eleito o melhor segundo volante da competição.

GE: Como você analisa o caso do Jobson, que pode ser banido do futebol por conta do uso de drogas flagrado nos exames antidoping? LL: È um caso preocupante, mas acho precipitado bani-lo do futebol. Ele tem família que depende muito do sucesso da carreira dele. Sinto pena dele por ter de enfrentar de situação. É um cara de talento incontestável, que tem condições de chegar à Seleção se tiver a cabeça no lugar. É jovem e pode mudar de conduta. Espero que dê tudo certo para ele.

GE: Você já usou drogas? LL: Graças a Deus, nunca experimentei qualquer tipo de droga. Não sei nem o gosto. Como sei que é uma coisa ruim, nunca tive a curiosidade. Fui criado em um lugar que muita gente usava e se dava mal por isso. A minha infância difícil também deixou ensinamentos em alguns aspectos. Esse foi um deles.

GE: Você tem contrato com o Al-Nasr-EAU até a metade de 2013. Quais são as suas metas para a seqüência da carreira de jogador? LL: Quero ficar nos Emirados mais uns quatro anos. Minha família está feliz lá. E temos sossego. No fim da carreira, gostaria de voltar a defender o Goiás. É um clube que gosto muito. Minha esposa adora a cidade e isso só aumenta a minha vontade de um dia retornar ao Esmeraldino. Fiquei muito chateado quando o Goiás caiu para a Segunda Divisão. Espero que suba para a Série A o quanto antes.

GE: Essa vida atribulada que levava no início da carreira, você deve ter boas histórias. Pode contar alguma? LL: Fiz muitas coisas erradas. Uma delas era sair para as noitadas e depois ir direto para o treino. Isso aconteceu muito quando eu era do Vasco e tinha 18 ou 19 anos. Mas nunca faltei treino ou cheguei atrasado. Às vezes, chegava cedo até demais por conta do horário que saía da farra (risos). Mas garanto que nunca cheguei para treinar embriagado.

Minha família é tudo para mim. Tenho como prioridade fazer o bem para a minha filha e minha esposa. Ela lutou muito pela nossa felicidade, prezou pelo nosso casamento. Nem sei o que seria de mim sem ela. "

GE: Você está casado há sete anos. Qual a importância da sua esposa na reformulação da sua conduta? LL: A Nathalia foi o principal alicerce para essa mudança. Minha família é tudo para mim. Amo meus pais, me dou muito bem com eles. E tenho como prioridade fazer o bem para a minha filha e minha esposa. Ela lutou muito pela nossa felicidade, prezou pelo nosso casamento. Nem sei o que seria de mim sem ela. Sou um homem realizado, com a vida restaurada e a família reestruturada. E com paz dentro de casa.

GE: Qual o gol mais importante da sua carreira? LL: Sem dúvidas o que fiz pelo Palmeiras contra o São Paulo, na semifinal do Paulista de 2008. Por ter sido num clássico decisivo e em cima do goleiro que foi, o Rogério Ceni, que é espetacular.

GE: Na sua chegada ao Flamengo, em 2007, os torcedores pediram que você beijasse a camisa rubro-negra. Sua reação foi diferente e com uma resposta inusitada. Lembra o que você falou? LL: Falei para eles que tinha que jogar bola. Beijo mesmo, eu tinha que dar na minha filha e na minha esposa (risos).

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