Funeral judaico: Entenda a simbologia bíblica na cerimônia de despedida de Silvio Santos

O líder judeu messiânico Matheus Zandona explicou que no judaísmo não há velório e o enterro é simples e sem luxo.

Fonte: Guiame, com informações de G1Atualizado: segunda-feira, 19 de agosto de 2024 às 13:09
Silvio Santos foi enterrado no Cemitério Israelita do Butantã. (Foto: Reprodução/TV Globo/Wikimedia Commons/Palácio do Planalto).
Silvio Santos foi enterrado no Cemitério Israelita do Butantã. (Foto: Reprodução/TV Globo/Wikimedia Commons/Palácio do Planalto).

O corpo do apresentador Silvio Santos foi enterrado no domingo (18), no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, em uma cerimônia judaica reservada apenas para a família e amigos.

Dezenas de fãs foram até a frente do cemitério para prestar homenagens ao apresentador. O sepultamento aconteceu pela manhã, segundo a assessoria do SBT, e foi realizado atendendo a um pedido de Silvio.

"À medida que nosso pai ia ficando mais velho, ele ia expressando um desejo dele com relação a sua partida. Ele pediu para que assim que ele partisse, que levássemos ele direto para o cemitério e fizéssemos uma cerimônia judaica. Ele gostava de ser celebrado em vida e gostaria de ser lembrado com a alegria com que ele viveu", explicou a família Abravanel em nota.

De acordo com a tradição do judaísmo, o corpo do judeu falecido deve ser enterrado o mais rápido possível, porém não podem acontecer no shabat (sábado), o dia de descanso para a comunidade judia. Por esse motivo, o enterro de Silvia Santos ocorreu na manhã de domingo (18).

O líder judeu messiânico, Matheus Zandona, explicou como é a cerimônia judaica de um enterro e como os judeus lidam com o luto do ente querido.

“Não há velório, não há contato com o corpo do falecido, não há ornamentos, flores nem coroas. Também não há cremação”, disse Zandona, em postagem no Instagram.

“O respeito ao morto é algo muito sério, pois crê-se na ressurreição, sendo esse um dos pilares da fé judaica. Simplicidade, honra e respeito permeiam esse momento tão importante”.

Preparação do corpo

O líder afirmou que a cerimônia judaica envolve rituais específicos, que são feitos pela Chevra Kadisha (Sociedade Sagrada), responsável pela preparação do corpo de acordo com as tradições.

Após a família do falecido avisar a Chevra Kadisha, a Sociedade realiza o ritual de purificação chamado “Tahará”. 

“No processo, o corpo é lavado completamente, simbolizando a purificação da alma para a passagem para o próximo mundo”, comentou Matheus.

“Após esse momento, a pessoa falecida é envolta em uma mortalha [pano] simples branca de linho, representando a igualdade de todos perante Deus, independente de status ou riqueza”, acrescentou.

As próteses, lentes de contato e dentaduras são retiradas e não podem ser enterradas junto com o falecido.

Outra diferença na cerimônia judaica é que caixões abertos não são permitidos e o corpo não pode ser cremado, embasado e nem ter seus órgãos retirados.

“O sepultamento deve ocorrer em um caixão simples, sem qualquer luxo, respeitando a igualdade de todos perante Deus”, afirmou Matheus Zandona.

Períodos de luto

Depois que o ente é enterrado, a família judia segue três períodos de luto. O Shivá, com duração de sete dias, é o momento mais intenso do luto.

“Durante o Shivá, os enlutados ficam em casa, recebendo visitas e lembrando do falecido”, explicou o líder.

Em seguida, a família observa o Shloshim, que dura até o nascer do sol do 30° dia após o enterro. 

“Nesse período, o luto é menos intenso, mas ainda há restrições, como evitar celebrações e festas”, observou Matheus.

O Avelut, é o terceiro período de luto e o mais longo, durando 12 meses hebraicos. “Os enlutados continuam a lembrar do falecido e a recitar orações específicas, como o Kadish, em sua memória”, disse o líder.

Zandona ainda observou que os judeus colocam pedras em cima do túmulo, como uma ação de respeito ao morto.

“Essa prática serve para marcar o local de sepultamento e garantir que a memória da pessoa não seja esquecida”, esclareceu ele.

Legado de Silvio Santos

Silvio Santos morreu aos 93 anos em decorrência de broncopneumonia após infecção por Influenza (H1N1), no último sábado (17). 

Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O apresentador deixa a esposa Íris Abravanel, seis filhas e netos.

Silvio era o único judeu em sua família. A filha, também apresentadora Patrícia Abravanel, assim como a mãe e as cinco irmãs, são evangélicas.

Nascido no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1930, Silvio Santos, era filho de pais imigrantes (um grego e uma judia) e tinha cinco irmãos.


Silvio Santos e Hebe Camargo. (Foto: Divulgação/SBT).

Presente nos domingos dos brasileiros por mais de 65 anos, Silvio era conhecido como o apresentador que jogava aviõezinhos de dinheiro para a plateia. 

Um camelô que se tornou um dos maiores empresários de comunicação do país. Ele se consolidou como empresário e dono de um conglomerado que, além da rede de emissoras de televisão do SBT, inclui uma empresa de capitalização, uma rede de hoteis e uma marca de cosméticos.

Organizações judaicas lamentaram a morte de Silvio Santos. A Confederação Israelita do Brasil (Conib), declarou seu “respeito e reconhecimento a Silvio Santos, cuja trajetória ilustra o que há de mais admirável no empreendedorismo brasileiro”.

“Como membro da comunidade judaica, Silvio sempre fez questão de manter suas raízes e valores, tornando-se um símbolo de orgulho para judeus em todo o Brasil”, destacou a organização, em nota.

A Federação Israelita do Estado de São Paulo também lamentou a perda do apresentador. 

“Sua trajetória, marcada por trabalho incansável, é um exemplo inspirador para todos nós”, afirmou em nota, acrescentando que Silvio honrou suas raízes judaicas ao agir com “calores de generosidade e perseverança em tudo o que fez”.

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