"Se Jesus Cristo voltasse à Terra nos dias de hoje, dificilmente andaria de jumento por uma metrópole como São Paulo. A frase, proferida em tom de brincadeira pelo DJ evangélico Ramilson Maia tem seu fundo de verdade: nem a religião passa impune às transformações da sociedade. A música que embala missas e cultos evangélicos, por exemplo, já não é mais composta somente por órgãos e corais. Nas últimas décadas, bandas de rock, pagode e axé se encarregaram da missão de levar as palavras de Deus aos fiéis. Na era da música eletrônica, entretanto, ninguém melhor do que o DJ Ramilson, 33 anos, para personificar a evolução musical da religião. Ele gravou no início deste ano o primeiro CD de drumnbass gospel do mundo, o MEG (abreviação de música eletrônica gospel) e tem cada vez mais apresentado pick-ups, samplers e bate-estaca para centenas de fiéis das igrejas evangélicas do País.
Apresento a música eletrônica aos religiosos e a religião aos fãs da música eletrônica, explica o DJ. Com 12 anos de discotecagem e cinco de Evangelho, Ramilson toca tanto em festas fechadas para a Igreja quanto em clubs e raves seculares como eles chamam os não-evangélicos. Às segundas-feiras, ele toca no restaurante dançante Na Mata Caffé, localizado no Itaim Bibi, um dos bairros boêmios da capital paulista. Aqui toco o drumnbass tradicional. Jesus costuma aparecer apenas nas conversas paralelas que travo com alguns clientes, conta. Os interessados em conhecer uma verdadeira balada evangélica eletrônica devem conferir a noite gospel do Back Stage Café, também em São Paulo. Aos sábados, pelo menos 300 crentes de 18 a 40 anos se revezam na pista de dança de um dos primeiro cafés evangélicos do País. Por ali, nada de álcool, cigarro e outras drogas. A balada rola solta, e careta, até as 5 horas da manhã. Famosos evangélicos como Mara Maravilha, o jogador Cacá, do São Paulo, e Patrícia Abravanel, a filha do empresário Silvio Santos, vira e mexe aparecem na casa para conferir o agito.
Os DJs Franklin e Mitchú, responsáveis pelas pick-ups do café, se tornaram as estrelas da balada gospel. É melhor do que tocar nos clubs normais. As pessoas se acabam de dançar sem precisar de nenhum entorpecente, garantem. Com tanta diversão permitida, não é à toa que a religião evangélica é a que mais cresce no País. O último censo religioso do IBGE em 1991 contabilizava 13 milhões de fiéis. Estima-se que hoje este número tenha pulado para 22 milhões. Com a bênção de Jesus.
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