Maioria dos evangélicos discorda da frase "bandido bom é bandido morto", no RJ

Segundo uma pesquisa da Universidade Cândido Mendes (RJ), mais de 70% dos evangélicos discordam totalmente da expressão "bandido bom é bandido morto".

Fonte: Guiame, com informações da Agência BrasilAtualizado: quarta-feira, 5 de abril de 2017 às 20:19
Os trabalhos de capelania e evangelização em presídios tem sido apontada como uma iniciativa eficiente para a ressocialização de presos. (Foto: Polêmica Paraíba)
Os trabalhos de capelania e evangelização em presídios tem sido apontada como uma iniciativa eficiente para a ressocialização de presos. (Foto: Polêmica Paraíba)

Popularizada pelo delegado José Guilherme Godinho, o "Sivuca" que atuou nos anos 80 no Rio de Janeiro, a frase "bandido bom é bandido morto" parece não ser tão bem aceita entre alguns grupos de cidadãos que vivem no estado, incluindo a maioria dos evangélicos.

Segundo uma pesquisa intitulada "Olho por Olho" e divulgada nesta quarta-feira (5) pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Seis em cada dez moradores da capital discordam da expressão sobre os criminosos, enquanto 31% afirmam concodar integralmente. Uma pequena parcela de 3% se declarou neutra ou não respondeu sobre o tema e 6% concordam apenas em parte com a frase.

A pesquisa também mostrou que entre os moradores do RJ que se declaram evangélicos, a expressão é ainda mais repudiada. Cerca de 73,4% dos protestantes afirmaram que discordam completamente da frase.

A pesquisadora Julita Lemgruber disse que este talvez seja um dos dados mais surpreendentes do estudo, porque pode dissociar os cristãos dos estigmas que muitas vezes são colocados sobre este grupo.

"A grande maioria da população do Rio que se identifica como evangélica praticante não apoia as violações de direitos que muitas vezes a bancada evangélica no Congresso apoia", afirmou Julita.

As estatísticas resultantes da pesquisa também apontaram que os cristãos também são os que mais apoiam iniciativas de ressocialização. Enquanto 73% dos cariocas em geral acreditam na regeneração de um criminoso, 86% dos cristãos praticantes apoiam estes projetos.

A pesquisa ouviu 2.353 pessoas, com pelo menos 16 anos de idade, em pontos de fluxo do município do Rio de Janeiro. O questionário tinha mais de 40 perguntas e foi aplicado em março e abril do ano passado (2016).


Uma segunda chance
Procurado pela equipe do Guiame, pastor Nelson Massambani - líder do ministério Celebrando Restauração, na Fundação Batista de Fortaleza - avaliou primeiramente a questão de um ponto de vista mais complexo e estendeu o caráter de "bandido" ao ser humano em si. Atualmente, ele visita presídios do estado do Ceará, desenvolvendo um trabalho de capelania e ressocialização com os internos.

"Eu devo dizer que eu concordo com esta frase ('Bandido bom é bandido morto'), porque eu sou um bandido e eu não sou nenhum bandido bom, não. Eu sou um bandido mal! E eu preciso morrer todos os dias para nascer um ser humano novo, uma nova criatura, que vai pagar o preço para fazer a vontade de Deus", explicou o pastor comparando o bandido ao ser humano como pecador diante de Deus.

Já avaliando a pergunta do ponto de vista mais literal da frase em questão, Massambani destacou que o ser humano pode se regenerar diante de uma nova chance, após ter cometido um crime. Ele aponta para a própria vida como um exemplo da possível regeneração de um delinquente.

"Eu sou exemplo de que um bandido ('bom ou ruim') não deve morrer, no sentido físico da palavra. Ele não pode estar morto para a família, para a sociedade, para si mesmo. Pelo contrário: todo homem, todo ser humano é infinitamente maior que o seu erro, qualquer que seja", explicou.

"Nesse sentido, todo bandido, todo miserável, todo desgraçado, que por decisão de instâncias (poder judiciário, etc) teve que ficar isolado, preso, tem o direito de terminar a sua história de uma maneira melhor que aquela com a qual ele a começou".

Pastor Nelson também expôs a dificuldade que a sociedade tem de se colocar no lugar do próximo que está vivendo em uma situação crítica.

"Na verdade, 'bandido bom é bandido morto' quando esse bandido não é da sua família. Quando esse bandido é meu filho que roubou, não quero ele morto, quero ele recuperado. Se foi o meu pai que atropelou e matou alguém porque estava dirigindo bêbado, eu não quero o meu pai morto, quero ele restaurado. Se foi um tio meu que assaltou um banco e matou um policial no assalto, não quero o meu tio morto, quero que ele tenha uma nova chance", destacou o pastor.

Atualmente, o Celebrando Restauração formou uma parceria sólida com Vara única de Execução de Penas Alternativas e Habeas Corpus - Vepah para dar uma oportunidade de reintegração social e até mesmo de profissionalização a pessoas que cometeram delitos com penas de até 4 anos.

 

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