O livro de Gênesis é literal? Sayão responde questões sobre o primeiro livro da Bíblia

Em live com outros teólogos, o hebraísta trata de assuntos polêmicos encontrados em Gênesis.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: quarta-feira, 10 de março de 2021 às 17:38
Luiz Sayão explica que a arqueologia já revelou muitos aspectos interessantes do mundo antigo. (Foto: Reprodução/Instagram)
Luiz Sayão explica que a arqueologia já revelou muitos aspectos interessantes do mundo antigo. (Foto: Reprodução/Instagram)

Em live transmitida pelo canal no YouTube da Igreja Batista Nações Unidas (IBNU), o pastor e hebraísta Luiz Sayão e mais alguns teólogos falam sobre a literalidade do livro de Gênesis. O livro de Gênesis é realmente literal? “A resposta inicial é sim e não”, adianta Sayão.

Segundo o teólogo, a literalidade depende da perspectiva de quem escreveu. Além disso, há uma série de outros fatores. “O contexto em que o livro foi escrito pode interferir no entendimento bíblico. A mentalidade da época era diferente. E na literatura de Gênesis temos narrativa, poesia e o uso de linguagem figurada”, listou.

Sayão deixa claro que Gênesis tem um estilo próprio. “Não tem nada igual. O problema é que tem gente que diz que é totalmente literal, outros dizem que é mito, mas é preciso levar em conta que a Bíblia foi escrita para responder primeiro as questões das pessoas daquele tempo”, esclareceu.

Quem não entende Gênesis, não entende a Bíblia

“É muito importante que o livro de Gênesis seja entendido teologicamente. Sem entender Gênesis não se entende a Bíblia toda”, avisou. Os teólogos Jônatas Hübner e Susie Lee falam também de aspectos históricos. O pano de fundo na narrativa de Moisés envolve a cultura de um povo que foi nômade e passou pelas práticas de pastoreio, agricultura e depois enfrentou mais de 400 anos de escravidão, no Egito. 

Só depois da libertação dos hebreus é que Moisés deu início à produção do Pentateuco. O texto primeiro serviu para guiar o povo de Deus em sua missão. “E Moisés consegue mostrar para aquelas pessoas que a mão de Deus estava agindo em todos os momentos”, disse Hübner.

Sayão esclarece que o objetivo de Gênesis era confrontar o sistema religioso que havia na época, principalmente na Mesopotâmia e no Egito. “Logo, Moisés não estava escrevendo sobre questões cosmológicas. O problema é que as pessoas querem ler Gênesis como se fosse um livro escrito por pessoas dos nossos dias, com as perguntas de hoje e com as preocupações atuais”, apontou.

“Gênesis não é um tratado científico, mas um livro para qualquer pessoa ler. Não faria o menor sentido haver um palavreado científico porque não comunicaria para a maior parte das pessoas daquele tempo”, disse.

Como a Arqueologia Bíblica pode ajudar

Existem registros arqueológicos que evidenciam a existência dos personagens que são narrados no livro de Gênesis? Por exemplo: Abraão, Isaque e Jacó. O hebraísta explica que a arqueologia é uma área de estudo bem recente. “A arqueologia tem cerca de 200 anos, e a mais aprofundada mesmo, não tem mais de 60 anos”, esclareceu.

“Não se achou algo específico sobre Abraão, Isaque ou Jacó, mas muitas coisas interessantes que revelam a realidade desse mundo. Por exemplo, nomes da era patriarcal, costumes de culturas semíticas antigas, textos escritos no contexto da Suméria e dos Acádios que são parecidos e semelhantes aos textos de Gênesis. Isso mostra que o livro não surgiu do nada”, ressaltou.

Tem como saber a idade da humanidade?

Muitas pessoas usam a própria genealogia bíblica para tentar descobrir quanto tempo a humanidade já está vivendo sobre a Terra. Será possível encontrar uma resposta dessa forma? 

“Quando se vê a genealogia dos capítulos 5 e 10 no livro de Gênesis, percebemos que são nomes selecionados. E quando se sabe qual é o papel do número 10 para os judeus, percebemos que ele é utilizado em toda parte”, amplia o assunto.

O linguista mostra que até na língua portuguesa damos ênfase a alguns números de forma simbólica. “Costumamos dizer: ‘eu já disse mais de 1.000 vezes’ ou ainda ‘estou te esperando faz 1 século’. Sabemos que o uso dos números no mundo antigo também era muito importante e utilizados de forma diferente”, explicou.

Com isso, Sayão aponta para uma questão interessante. “O número que ilustra a idade da humanidade — 6 mil anos, pode ser 10, 12, 15 mil anos ou até mais. Sem entrar em questões paleontológicas, descobrimos que a estimativa pode ser essa mesmo. No Nilo e no vale de Jericó estimam-se uns 17 mil anos e a cultura mais antiga conhecida pela arqueologia é a Göbekli Tepe, na Turquia, com cerca de 12 mil anos”, contou.

Adão e Eva realmente existiram ou fazem parte de uma metáfora?

Segundo Sayão, o Novo Testamento trata Adão e Eva como pessoas reais. “Em Adão e Eva estão nossas origens. Precisou existir um primeiro casal para que a humanidade acontecesse”, defendeu.

Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram”. (Romanos 5.12)

Depois de citar o texto em Romanos, Sayão mostra como Paulo e os outros discípulos entendiam o livro de Gênesis, levando a sério sua narrativa logo nos primeiros capítulos. Ele enfatizou que, muitas vezes, as pessoas fazem perguntas que o texto não vai responder, e outras vezes, o texto quer comunicar, mas as pessoas não prestam atenção. 

Os dinossauros foram extintos por ocasião do Dilúvio?

“Há certas referências no texto bíblico que nós lemos e não entendemos. Em outros livros a Bíblia cita bichos gigantes, como o Leviatã, o Beemote e o Raabe. No meu entender, isso é muito próximo dos dinossauros antigos”, sustentou.

Como ninguém sabe exatamente quanto tempo está envolvido em todo o processo de Gênesis, o teólogo acredita não haver dúvidas de que Deus criou os dinossauros e que é possível que as descrições bíblicas estejam se referindo a eles. 

“Tanto os dinossauros como outros bichos desapareceram ou foram extintos. E eu não vejo nenhuma dificuldade ou contradição entre a realidade da descrição bíblica e a existência dos dinossauros”, disse.

O dilúvio é uma realidade histórica?

O relato do dilúvio não é isolado, está em diversas culturas e contextos. Mas, muitos questionam se foi um evento local ou global. “A literatura que vem do contexto acadiano tem essa referência clara e a arqueologia comprova que houve uma mega inundação. A Bíblia diz que as águas subiram 15 côvados acima do monte mais alto que havia na terra. A pergunta é: qual terra? O apóstolo Paulo também disse que o Evangelho havia sido pregado em todo o mundo. Que mundo? O mundo romano”, esclareceu. 

“É possível que o dilúvio seja uma mega inundação sem precedentes, no contexto do antigo Oriente Próximo. Um dilúvio regional com significado universal. Nós só podemos levantar essas questões, mas precisamos ser humildes, porque a Bíblia não dá uma resposta definitiva, precisamos raciocinar para entender tudo o que envolve esse cenário”, ponderou.

Sobre o juízo de Deus nas cidade de Sodoma e Gomorra

É possível localizar geograficamente as duas cidades julgadas e condenadas por Deus? “Pela descrição que aparece na Bíblia [Gn 18 e 19], é no vale do Jordão, na região do mar Morto. Nessa área, que é o lugar mais baixo da terra, nós encontramos uma fissura geológica com a presença de enxofre, entre outros minerais. O que aconteceu naquela localidade tem a ver com o juízo de Deus”, combinou.

Quando todo mundo conta a mesma história…

Sayão termina falando sobre os relatos que existem além da Bíblia sobre vários acontecimentos e fatos. “Muitos dizem que por existirem outros relatos, então a Bíblia não é autêntica. Muito pelo contrário. Isso comprova que aquela história tem algum transfundo histórico específico. Quando todo mundo conta a mesma história quer dizer que alguma coisa aconteceu”, refletiu.

“A única diferença é que a Bíblia tem um relato que é pertinente à fé no Deus bíblico, e os outros se baseiam em sua própria maneira de pensar a respeito do mundo”, disse. E para finalizar, ele reforçou mais uma vez: “O que ocorre é que todo relato bíblico tem uma intenção de ensino, de enfoque teológico e, as pessoas tentam fazer outras perguntas, de outras realidades que não são pertinentes à proposta do texto”, concluiu.

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