O que dizer sobre as reações físicas nos cultos?

Reações físicas como o cair e o rolar no chão, tremores, choro alto, contorções, saltos, risos descontrolados, e coisas semelhantes, não são jamais encorajadas nas Escrituras, e nem mesmo apresentadas como sinal da presença de Deus.

Fonte: guiame.com.brAtualizado: terça-feira, 9 de dezembro de 2014 às 14:26
O que dizer sobre as reações físicas nos cultos?
O que dizer sobre as reações físicas nos cultos?

O que dizer sobre as reações físicas nos cultos?Eu diria que existem duas diferenças muito importantes entre as reações físicas encontradas na Escritura e nos avivamentos históricos, e uma boa parte do que observamos dentro dos círculos neopentecostais.

Primeiro, reações físicas como o cair e o rolar no chão, tremores, choro alto, contorções, saltos, risos descontrolados, e coisas semelhantes, não são jamais encorajadas nas Escrituras, e nem mesmo apresentadas como sinal da presença de Deus. O mesmo pode se dizer dos avivamentos históricos. No geral, até onde sei, reações físicas e emocionais com essas características nunca foram encorajadas, promovidas, ou buscadas por seus líderes (embora houvesse uns poucos líderes leigos que fizessem o contrário). E nem sempre foram consideradas como evidências claras da atuação do Espírito de Deus. Eu creio que se Jonathan Edwards estivesse pregando hoje, e de repente alguém caísse durante sua pregação, ele provavelmente diria: “Levante-se para ouvir o resto, eu não acabei ainda de falar a Palavra do Senhor!” O próprio João Wesley era bastante crítico deste tipo de manifestação, embora ele nunca as proibisse, pois tinha receio de ir contra a obra do Espírito. Entretanto, ele era extremamente cauteloso e reservado quanto a esse tipo de manifestação. Essas reações físicas nos tempos bíblicos e durante os avivamentos históricos nunca foram encorajadas pelos líderes, e nunca foram vistas como sendo a evidência da atuação do Espírito Santo; portanto, não eram um fim em si mesmas.

Em contraste, o que se vê hoje são pregadores que procuram conscientemente provocar esse tipo de reação. Coisas como “cair no Espírito” são encorajadas. Na Igreja de Toronto, onde se originou o “riso santo”, existe até mesmo uma equipe de “apanhadores” — voluntários da Igreja que se colocam atrás das pessoas para “apanhá-las” na hora da queda. Quando visitei aquela igreja, percebi uma obreira que, literalmente, ao orar por uma mulher, a empurrou para baixo, para que caísse. Outras reações físicas, como o riso, tremores, palpitações, são enfatizadas, elogiadas, e os crentes são encorajados a buscá-las.

A segunda grande diferença, e a meu ver mais importante do que a primeira, é que nos avivamentos históricos grande parte dessas reações físicas foi resultado de uma percepção por parte das pessoas, das grandes verdades de Deus, de forma tão clara e tão grandiosa, que a estrutura física não suportou e entrou em colapso. Um bom exemplo disto é o avivamento de 1841-1842 no norte da Irlanda, em Skye. Pastores batistas e presbiterianos que estiveram presentes, ao escreverem seus relatórios, deixaram claro que este tipo de fenômeno físico era, invariavelmente, o resultado da pregação da Palavra nos cultos, quando pessoas caíam devido a convicção de pecado, e em angústia de alma, choravam em voz alta, soluçavam, e às vezes caíam como mortas ao chão.

Pensemos no que ocorreu na igreja de Jonathan Edwards naquela manhã em que pregou o memorável sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. O que aconteceu? O que provocou aquela reação nas pessoas, que se lançaram às colunas da Igreja, e se abraçaram à elas? As pessoas ali presentes viram de forma tão clara o juízo de Deus e a ira de Deus contra o pecado, que entraram em profunda angústia de alma. O Espírito Santo de tal maneira iluminou as suas mentes, que eles tiveram uma visão extremamente nítida dos horrores da condenação eterna. Esta compreensão foi tão clara, que era como se eles estivessem vendo diante de seus olhos o próprio inferno aberto, pronto para tragar as almas dos ímpios. A percepção da grandeza da ira de Deus e o terror que sentiram do dia do juízo foi tão incisivo que perderam o controle de si mesmos.

Observe, então, que se poderia dizer a mesma coisa do que acontecia com a pregação de João Wesley, George Whitefield, e de alguns pregadores puritanos quando ocorriam essas reações físicas. Elas aconteciam porque as pessoas se conscientizaram, de uma forma como talvez nunca haviam feito antes, do caráter santo da lei de Deus, dos horrores da ira de Deus, ou da profundidade da graça, da bondade, e do amor de Deus, o ponto de seus corpos não suportarem. O fato é que suas mentes ficaram impactadas pelas verdades de Deus, e em decorrência disto, seus corpos reagiram.

Mas hoje em dia, o que se percebe é alguma coisa absolutamente diferente. A grande maioria dessas manifestações físicas não são resultado da pregação clara, inequívoca, direta, das grandes verdades de Deus, o ponto de o povo não agüentar a glória celestial do que está sendo dito. Uma das principais características dos movimentos que promovem este tipo de coisa é exatamente a pregação superficial, sem teologia, antidoutrinária, que gira em torno de um amontoado de versículos que são usados como base para exortações gerais, recheadas de relatos de experiências, pregação da prosperidade e declarações de vitória e sucesso. Estão ausentes exatamente os temas que mais provocaram esse tipo de reação no passado, que são a santidade, a ira, a justiça de Deus, bem como seu amor redentor em Cristo Jesus.

*Trecho retirado do livro "Cheios do Espírito", escrito pelo Rev. Augustus Nicodemus (Editora Vida)

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