Oração: indispensável

Oração: indispensável

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:17

Início do mês de abril, de madrugada, eu e minha esposa passamos por uma situação bem angustiante. Estávamos acordados, sem saber o que fazer com a nossa filha, com apenas 15 dias na ocasião, chorando desesperadamente, com fome.

Acontece que, até esta ocasião, minha esposa amamentava normalmente. Neste dia, contudo, o leite materno secou (e nunca mais voltaria), e não estávamos preparados para este incidente, em plena madrugada. Ela chorou a noite toda, que teimava em não passar. O relógio trabalhou preguiçoso, aquela noite, que pareceu imensa.

Quando preparava este texto, esta cena me veio à mente repetidas vezes. Em sua primeira carta Pedro diz que devemos desejar a puro leite espiritual como crianças recém nascidas. Ali ele falava da Palavra de Deus. De fato, o leite é muito importante para um recém nascido, assim como a Palavra é importante para um cristão. Penso que a oração também é para o cristão, o que leite é para o recém nascido. Assim como o bebê depende do leite, um cristão não sobreviverá muito tempo de pé sem oração.

Osmar Ludovico diz que “a oração é uma relação de amizade pessoal com Deus”. Orar não significa dedicar alguns minutos de manhã e à noite para balbuciar algumas palavras a Deus. Oração é relacionamento. Um relacionamento que controla a vida toda. Orar significa que a própria vida tornou-se um diálogo com Deus. Envolve muito mais do que proferir palavras. É muito mais do que falar com a boca, é falar com o coração.

No sermão do monte Jesus disse aos seus discípulos: Tu, porém, quando orares... Ou seja, Jesus supôs que seus discípulos orariam. Esta já era uma prática dos mesmos, e continuaria sendo. A oração é uma prática indispensável.  Em Mateus 6:5-8 existem pelo menos dois princípios fundamentais sobre ela que você deve saber.

O primeiro princípio está nos versículos 5 e 6, de Mateus 6, e é o seguinte:

Oração não é ritual artístico, é relacionamento de proximidade com Deus. Você conhece alguém que gosta de orar para ostentar aparência de espiritualidade? É disso que Jesus está falando. De gente que ora “para” ser visto e aplaudido pelos homens, e não para buscar aquietar a alma, longe da agitação e dos olhares humanos, através da relação com Deus.

Jesus não estava condenando a oração pública, mas orar para se exibir. Os religiosos do tempo de Jesus tinham horários de oração determinados para a manhã, ao meio-dia e à noite. Há um tratado rabínico que diz que a oração matinal era feita na sinagoga, e quando a pessoa não conseguia chegar deveria orar onde estivesse. Por isso, muitas vezes se via uma pessoa no meio da rua orando. Desse modo ele cumpria fiel e pontualmente o horário da oração.

Todavia, estes religiosos, para se mostrarem espirituais, faziam questões de estarem nas “esquinas das ruas” nos horários da oração. Jesus os chama de hipócritas! Essa palavra, no original, esta relacionada com teatro. Eles eram atores! E se tem uma coisa que ator gosta é de platéia. Por isso gostavam de orar em pé, nas esquinas das ruas. Ali, as pessoas podiam olhá-los e admira-los pela sua devoção.

Jesus, no entanto, mostrou que o que deve nos levar a orar não deve ser receber o aplauso dos seres humanos, mas a aprovação divina, isto porque oração é relacionamento. Ele incentivou seus seguidores a orarem no quarto, em secreto. Jesus usa a palavra grega Tamieion, que significa “casa de armazenamento” ou “depósito” e se referia ao “quarto dos suprimentos”.

Nas casas dos agricultores da Palestina, era o lugar mais íntimo, porque os suprimentos precisavam ficar escondido dos ladrões e dos animais selvagens. Este lugar, normalmente, era a única parte da casa com tranca. Ele também não possuía janelas. Por isso mesmo, é duplamente apropriado para ilustrar o que Jesus quis ensinar. Nele, ninguém podia entrar e nem olhar para dentro. Era um lugar onde se tem privacidade.

No quarto em secreto, não existe platéia, não existem pessoas para aplaudir e parabenizar. Que ator gosta de atuar no quarto em secreto? Atores não gostam do quarto, mas é ali que o discípulo de Cristo deve buscá-lo. E por quê? Porque o alvo da nossa oração não é o homem, mas Deus. Oração é relacionamento. Trata-se de uma experiência do coração. Você tem orado a teu Pai? Faça isso. Sozinho. Você e Ele. Jesus diz que ele nos vê e nos “recompensará”. A palavra grega tem o sentido de “devolver o que recebeu” ou “saldar uma dívida”. A ideia é que Deus reconhece o fato de reservarmos um tempo em nosso corre e corre, para estar com ele. Apesar de não estarmos atrás de recompensas, à sua maneira, segundo o texto, Deus nos recompensará por isso.

O segundo princípio está nos versículos 7-8 de Mateus 6, e é o seguinte:

Oração não é falatório irrefletido, é demostração de dependência com Deus. Você sabia que oração é muito mais do que falar? Sabia que, na verdade, Deus, se assim quisesse, nem precisaria das nossas palavras? Jesus disse que, quando orarmos, não devemos usar de repetições inúteis. Não é pelo muito falar que somos ouvidos? O que ele está querendo mostrar?

Jesus, na verdade, não está combatendo apenas a repetição, mas a falta de reflexão. Ele está combatendo o orar de forma irrefletida. É mais que falar de modo repetitivo, é falar sem sentido. Falar sem meditar no que se fala. É falar por falar. O Senhor combate a oração vazia, verborrágica e supersticiosa. Afinal, não é pelo muito falar que seremos atendidos. A questão principal não é ficar duas horas orando.

Qual a razão para ficar duas horas orando? Cada palavra destas duas horas de oração passou pelo coração? É sincera? É refletida? Não pense que, com muitas palavras, Deus será constrangido a ceder os nossos desejos quando orarmos. Por outro lado, ele não está querendo proibir orações longas, persistentes e confiantes, afinal, temos na Palavra de Deus a ordem “Orai sem cessar”.

Contudo, o que devemos saber quando estivermos orando? Que Deus o nosso Pai “conhece o que necessitamos, antes mesmo de pedirmos a ele”. Deus não depende das nossas palavras! Mas, por que então, mesmo já sabendo de tudo o que nós precisamos, Deus, o Pai, quer lhe confidenciemos e falemos com as nossas próprias palavras? É simples: falar a Deus o que queremos, em oração, demonstra nossa confiança e dependência dele. Quando você reserva um momento para parar e “falar” com Deus, com este gesto, demonstra o quanto ele é importante para você.

Quando oramos, mostramos que somos submissos a Deus e que a nossa confiança está posta nele. Não oramos para liquidar todos os nossos problemas de forma mágica, mas para demonstrar a Deus que confiamos nele, e dependemos de sua ajuda para nossa vida cotidiana. Às vezes ele não transforma as circunstâncias adversas que nos cercam, mas nós somos transformados e, conseguimos enxerga-las de outra maneira.

Lembre-se: toda vez que você ora, com sinceridade, está fazendo muito mais do que reproduzir palavras, está mostrando a Deus que depende dele.  

Termino lembrando que, todos aqueles que foram justificados não são mais inimigos de Deus. Tem paz com ele e podem desenvolver esta relação de amizade paternal. John Drescher, em seu livro Se eu começasse meu ministério de novo, disse que alguém certa vez foi interrogado sobre se Deus tinha preferidos.

A pessoa respondeu: “Preferidos não, mas ele tem amigos mais íntimos”. Você é um destes amigos? Reserve momentos para estar com ele. E lembre-se: orar não é desenvolver um ritual artístico e nem verbalizar falatórios irrefletidos, é antes, relacionamento de proximidade e dependência de Deus. Oremos sempre! Que Deus nos abençõe.   

Por: Eleilton Freitas

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