A Igreja Brasileira precisa passar por um processo de amadurecimento para viver sua plenitude como celeiro de missões e avivamento, de acordo com o evangelista Chileno Vergara.
Vergara é fundador do ministério One Passion, que tem realizado cruzadas evangelísticas em países onde os cristãos são minoria. Em entrevista ao Guiame, ele observa que a Igreja ainda tem dificuldade de ser influente em campos como missões, obras sociais e política.
“Hoje nós temos conferências evangélicas no Brasil com 10 mil pessoas e a cidade nem fica sabendo. Eu falo isso porque, na Igreja de Atos, 120 pessoas colocaram o mundo de cabeça para baixo. Algo está errado”, disse o evangelista. “O Brasil tem 40 milhões de cristãos e a corrupção se espalhou de forma terrível”.
Vergara também acredita que a Igreja Brasileira está colocando parte de seus esforços em cachês. “Não tem problemas que a Igreja honre seus pregadores — mas uma coisa é Deus suprir a necessidade de seus ministros, outra é suprir os luxos. E Deus não nos chamou para suprir os luxos. O problema é que com essa falta de equilíbrio, a Igreja vive gastando com luxo, sendo que deveria ser espalhado entre os mais necessitados”, avalia.
“Isso também tem a ver com missões, de olhar além das quatro paredes. Temos uma grave falta de referências no Brasil. A maioria dos nossos ministros, não todos, são movidos a cachês, a conforto, à comodidades. Nossos profetas hoje estão sendo mortos não por causa da perseguição no Brasil, mas por causa da fama”, continuou.
“Conheço grandes homens de Deus com chamado evangelístico que se perderam no meio de uma agenda, de uma vida de itinerantes, porque é lucrativo, dá dinheiro pregar de igreja em igreja e não prestar contas para ninguém, receber boas ofertas em cada ministração e ter um salário de 30, 50 até 100 mil. A Igreja se perdeu nisso. Até que a Igreja entenda isso e não alimente esse circo, eu ainda não vou acreditar que acordou”, acrescentou o evangelista.
Outro problema observado por Vergara é que muitas igrejas falam sobre avivamento, mas não conseguem manter seus missionários no campo. “A igreja fica legal em uma conferência missionária, em um estádio, mas na segunda-feira não consegue cuidar de seus missionários emocional, espiritual e financeiramente. Queremos viver o momento, mas odiamos o processo”, disse o evangelista.
“Estamos em um processo de maturidade, sem dúvidas. Mas não sou tão ousado, como muitos que estão dizendo que o Brasil já é uma potência missionária e que já estamos acordados. Eu não creio que a Igreja precise de mais momentos ou conferências, a Igreja precisa aprender a amadurecer no meio do processo. Não é o envio de missionários disparado para todos os lugares, porque não há nada pior para o campo missionário do que um missionário despreparado”, completou.
Chileno Vergara, fundador do One Passion, em missão no Oriente Médio. (Foto: Chileno Vergara)
Com sua experiência em países afetados pela perseguição religiosa, Vergara afirma que um missionário mal preparado pode atrapalhar o discipulado e se afastar de Deus. “Você luta conforme seu treino. Missionários mal treinados não lutam no campo; morrem. Agora temos um grupo de milhares de missionários morrendo, decepcionados com a Igreja e decepcionados com missões”.
Para evitar esse tipo de problema, o evangelista acredita que é preciso trabalhar no processo de maturidade e formação de caráter. “Eu creio que a transformação não vem por uma conferência, ela vem no dia a dia e passa por um processo”, destacou.
O verdadeiro avivamento no Brasil
O conceito de avivamento tem sido distorcido, segundo Chileno Vergara. “Todo mundo fala que está vivendo um avivamento. Eu não quero entrar no mérito de julgar se estão vivendo ou não — se eles dizem que é, glória a Deus”, disse.
“Mas temos visto na história que os sinais do avivamento são simples. Quando vemos o grande avivamento no livro de Atos, no qual em um dia houve três mil conversões, a Igreja cresceu, se multiplicou e houve influência; começou a ter agrado no meio das comunidades. Primeiramente conversões, em segundo plantações de igrejas”, esclareceu. “Se avivamento significa lotar um lugar, então qualquer show de sertanejo junta milhares”.
O evangelista aponta que os verdadeiros sintomas de um avivamento são conversões, batismos e plantação de igrejas. “Eu falo de comunidades, não de prédios nem placas de igrejas”, esclarece. “Todo avivamento tem um fruto, e o fruto é a Igreja de Cristo. Uma igreja que está vivendo um avivamento e não está tendo salvação, batismos e não está gerando igrejas, é tudo menos um avivamento”.
“O avivamento é mais do que ficar sapateando e falando em línguas todos os dias. Se minha espiritualidade não transforma e não salva o meu próximo, a minha espiritualidade está errada. Avivamento é trazer o Céu para a Terra, trazer o Reino de Deus para todos os cantos, entre os mais necessitados e inalcançados”, completou.
O evangelista acredita que o Brasil ainda não está necessariamente vivendo um avivamento. “Temos grandes igrejas, mas até esse conceito [está errado] — uma grande igreja não se mede por quantas cadeiras ela tem. Mas grandes igrejas se medem por cumprir o propósito de Deus, o envio”, explicou.
“Eu conheço igrejas com 100 membros que já tem 10, 12 igrejas plantadas em outros países, como Cuba e África. E conheço igrejas com 5 mil membros que não conseguem manter uma, que ficam só na manutenção da estrutura, sem alcançar o perdido. Eu creio que o Brasil vai viver um grande avivamento, vai acordar de fato para viver missões, mas eu creio que ainda não. Precisamos amadurecer como Igreja”, finalizou.
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