Ao falar sobre o feriado de Carnaval e sua origem, o arqueólogo e teólogo Rodrigo Silva comentou sobre a participação direta ou indireta dos cristãos na chamada “festa da carne”, como ele lembrou.
Durante uma entrevista ao “Positivamente Podcast” com a apresentadora Karina Bacchi, em fevereiro de 2022, ele fez uma comparação: “É óbvio que um vestido de noiva branquinho vai ficar sujo num lamaçal”.
“Até que ponto eu posso ir sem negar a minha fé e a minha identidade?”, questionou ao falar sobre a relação do crente com o mundo.
‘Cristianizaram as festas pagãs’
Rodrigo cita a história da Igreja e a época em que o mundo foi cristianizado, não por conversão, mas por um decreto imperial: “As religiões pagãs continuaram existindo, mas perderam espaço público”.
Constantino se tornou cristão, então a sociedade da época foi obrigada a ser cristã, pelo menos no título. “Ou fazia isso ou perdia pontos com o imperador. Como muitos se vendiam, se tornaram cristãos não por conversão, mas por conveniência”,
De acordo com Rodrigo, os pagãos chegaram ao cristianismo com suas práticas antigas: “Foi aí que o diabo ganhou um ponto em relação ao povo de Deus e nós temos que chorar por isso”, disse ao esclarecer que o cristianismo se corrompeu.
“Quando o cristianismo se vendeu, ele começou a pagar o preço”, observou ao apontar que os líderes da época ficaram de olho nas festas dos pagãos por causa do alto lucro financeiro.
“Aquele dinheiro virava quermesse e dava sustento às igrejas. Foi assim que cristianizaram as festas pagãs”, explicou.
Festas pagãs atreladas ao calendário eclesiástico
“Atrelaram o carnaval à festa de Baco e adicionaram ao calendário eclesiástico como uma forma de ter todas as pessoas ali”, disse Rodrigo sobre a manipulação da igreja na época para dominar o povo.
A “Festa de Baco” também conhecida como “bacanal” era uma celebração da Grécia Antiga que acabou sendo incorporada pelos romanos. Era uma homenagem ao Deus Baco, também chamado de Dionísio para os gregos.
Dionísio era o “Deus do vinho e dos excessos”, principalmente sexuais. Ele representava os prazeres mundanos e segundo a mitologia greco romana, quando alguém utilizava-se de bastante vinho, Baco ou Dionísio possuía seu corpo e tomava responsabilidade por suas ações.
Ao misturar as festas cristãs às pagãs, o resultado foi desastroso. Ao explicar sobre o sentido original das festas de carnaval, o teólogo resumiu: “A pessoa podia pecar à vontade no carnaval, mas depois de 40 dias viria a semana santa e a pessoa teria que se penitenciar. O perdão seria dado através de uma indulgência da igreja”.
“Essa era uma forma de domínio da religião sobre as mentes. No século 16, por exemplo, essa indulgência se tornou algo que era vendido mesmo. As pessoas poderiam comprar o perdão de um pecado que nem haviam cometido ainda”, apontou.
A quaresma representava os 40 dias que Jesus passou no deserto e a quarta-feira de cinzas era uma reflexão para lembrar que todo ser humano é pó e ao pó retornará.
E assim, as religiões se misturaram. Os pagãos aprenderam a pedir perdão após seus pecados e os cristãos se contaminaram completamente ao participar de suas festas, perdendo o verdadeiro sentido das festas bíblicas.
“Cada festa tem seu motivo e participar é o mesmo que endossar”, diz Rodrigo Silva (Foto representativa: Piqsels)
“E se eu me vestir de borboleta e jogar confetes?”
Karina Bacchi perguntou ao teólogo se é errado um cristão somente participar das brincadeiras de carnaval, se vestindo de borboleta, por exemplo, e jogando confetes. Ou ainda ligar a TV e assistir aos desfiles durante o feriado.
“É possível fazer um show de humor num funeral? Tem como ir com um vestido de noiva branquinho para um lugar cheio de lama?”, ele respondeu com outras perguntas.
Karina e Rodrigo concordaram que “cada festa tem seu motivo” e participar é o mesmo que endossar.
“É óbvio que uma pessoa com um vestido branco vai sair toda suja de lama, ainda que ela insista que não vai participar e só vai assistir”, completou e ao finalizar, Rodrigo lembrou das palavras de Jesus, na oração do “Pai Nosso”.
“Não vos deixeis cair em tentação. No original grego do NT, a expressão é ainda mais clara: ‘Não permita que eu vá para a tentação’. Ou seja, não busque a tentação, não se coloque numa situação difícil. Além disso, participando, que imagem você dará às crianças e aos jovens?”, questionou ao concluir.
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