Os alunos da Escola de Estudos Interculturais do Seminário Teológico de Fuller se levantaram para aplaudir de pé a oradora da turma, Linda Barkman. Aos 65 anos, acaba de ser formar após ter passado três décadas presa, acusada de cumplicidade pelo assassinato da filha Amy, de 2 anos, cometido pelo seu namorado em 1979.
Linda foi considerada culpada por crime de abuso infantil por não proteger sua criança do namorado violento, bem como de assassinato em segundo grau. Segundo a promotoria, a mulher deveria saber o que o namorado poderia fazer com sua filha.
“Eu era uma mulher de 26 anos, muito confusa e assustada que tomava algumas decisões realmente ruins. [Isso] custou a vida de milha filha de dois anos de idade”, conta.
Linda perdeu a custódia de sua outra filha e começou a cumprir sua longa sentença de 30 anos de prisão.
Procurando Deus
Foi na cadeia que Linda reacendeu sua fé em Cristo. Ela conta que cresceu sem igreja, mas quando sua filha era de colo conheceu Jesus. Porém, como estava morando com um homem sem ser casada com ele, acabou cortada dos ensinos bíblicos que aconteciam em sua casa assim que a situação foi descoberta.
“Isso me afastou da igreja. Eu já estava grávida do meu segundo filho naquele momento e acabei deixando meu companheiro, porque ele era abusador, alcoólatra e viciado em drogas, mas encontrei alguém pior que ele”, conta.
Um dia pediu a Deus para ajudá-la a fazer as coisas certas em sua vida, pois reconhecia seus erros e era muito infeliz. Foi no final desse dia que o homem com quem ela passou a morar bateu em sua filha até a morte.
Linda diz que desejou morrer, mas que Deus disse a ela que não. “Eu estava tão zangada com Ele. Lembro-me de gritar: ‘Você diz que pode fazer de mim uma nova criação, então você tem que me transformar em alguém com quem eu mesma possa viver. Eu simplesmente não sei o que fazer”, relembra.
Encontro com Deus e perdão
O encontro real de Linda com Deus aconteceu na prisão. “Deus começou a me mostrar que ele poderia me usar se eu permitisse, se eu parasse de lutar. Comecei a ver Jesus, seu amor e misericórdia nas coisas do dia-a-dia”, conta.
O desejo de uma nova vida fez com que Linda, assim que chegou à prisão, comessasse a ajudar nos cultos da igreja que aconteciam na unidade psiquiátrica. “Durante 28 dos 30 anos que fiquei encarcerada, eu fui pastora leiga daquela unidade prisional”, conta. “A prisão é um bom seminário”, completa.
Linda conta que na prisão desenvolveu um forte senso de comunidade e irmandade. “No California Institute for Women, ou CIW, se você quiser passar sua vida na igreja da prisão, se você é novo e vulnerável, os veteranos que estiveram lá o levarão sob suas asas e o discipularão”, explica.
Na igreja da prisão, os serviços são sete dias por semana, duas ou três vezes por dia. “Há sempre alguém em um raio de 30 metros que entende todos os seus problemas que está disposto a orar com você”, diz.
Linda aprender a ajudar e a ser ajudada. Com isso, uma nova criatura se fez de verdade. Ela conta que o homem que matou sua filha morreu na prisão em 2009, mas que acredita que todas as pessoas podem ser perdoadas.
“Eu sou a mãe da vítima e tive que lidar com o que sentia por ele. As pessoas perguntam: ‘E se você encontrá-lo no céu? Como você vai se sentir?’ Bem, eu oro para que ele seja redimido. Se eu o encontrar no céu, significa que ele é uma nova criação, transformada na imagem de Cristo e não no que Satanás, o mundo e o mal o transformaram”.
Laços de amizade
Linda contou com outras mulheres na prisão e uma ajudou a outra a viver em fé. “Nos meus primeiros anos, conheci Marge. Ela e eu éramos melhores amigas e parceiras do ministério por 20 anos antes de ela morrer na prisão, basicamente por assistência médica precária. Quando ela morreu, nós fizemos um culto fúnebre para ela tão grande que eles tiveram que usar o auditório”.
Outra amiga importante foi Martina de Oaxaca, do México, uma indígena. “Ensinei-a a falar inglês e, quando minha colega de quarto saiu, pedi permissão para que Martina se mudasse para lá. Fomos colegas de quarto por 13 anos”, conta Linda. “Enquanto ela estava na prisão, ela era uma das matriarcas da comunidade cristã de língua espanhola”.
Martina mora agora em Tijuana e está envolvida em duas igrejas diferentes. “Meu marido e eu vamos visitá-la uma vez por mês. Nos últimos dois meses em que fomos, éramos pregadores convidados nas igrejas das quais ela é afiliada. Ela faz coisas como levar burritos para os pobres que vivem debaixo da ponte na fronteira”, testemunha.
Prisão e salvação
Usando o exemplo de personagens bíblicos encarcerados e que cometeram graves pecados, como Davi, Linda diz: “Deus tem um lugar especial para os prisioneiros e pode nos usar por causa do nosso quebrantamento”.
Você não vai oferecer integração aos prisioneiros, a menos que você realmente acredite na redenção - que Jesus morreu por cada pessoa. Isso não significa que todos aceitem a redenção e sejam redimidos, mas você tem que acreditar que é uma possibilidade para cada pessoa na prisão.
Linda conheceu seu marido John em uma sala de aula do seminário. “Ele é um menonita, um pacifista maravilhoso.” Ela disse que certa vez ele respondeu à pergunta de um pastor: “O que você realmente quer ser na vida?” John disse: “Marido de pastora”.
“Ele diz que seu ministério é dirigir o carro. Isso significa que ele me leva para onde preciso ir e me traz de volta. Ele é um homem incrível, brilhante, bondoso e atencioso, que diz que esperou até que tivesse 62 anos para conhecer seu chamado e a mulher de sua vida. Nós dois recentemente tivemos nossos PhDs, então agora somos os doutrores Barkman”.
Linda obteve seu diploma de graduação em psicologia e deixou a prisão a apenas cinco créditos de um mestrado em teologia. Hoje, ela tem seu doutorado em estudos interculturais.
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