Neste 31 de outubro, os cristãos comemoram 505 anos da Reforma Protestante. Será que o movimento reformista, que ficou conhecido a partir de Martinho Lutero, ainda queima no coração da Igreja?
O evento desencadeou a convulsão religiosa, política, intelectual e cultural do século XVI, que fragmentou a Europa católica, estabelecendo as estruturas e crenças que definiriam o continente na era moderna.
Como lembra um artigo do History: “No norte e centro da Europa, reformadores como Martinho Lutero, João Calvino e Henrique VIII desafiaram a autoridade papal e questionaram a capacidade da Igreja Católica de definir a prática cristã”.
A ruptura desencadeou guerras, perseguições e a chamada Contra-Reforma — reação da Igreja Católica ao avanço do protestantismo — por meio da catequização de pessoas através de jesuítas, da reativação do tribunal da Inquisição e da proibição de certos livros.
‘Purificação da Igreja’
Historiadores costumam datar o início da Reforma Protestante em 1517, quando Martinho Lutero pregou suas 95 teses na porta da capela de Wittemberg, na Alemanha.
As principais ideias da Reforma giravam em torno da “purificação da Igreja” e do acesso dos fiéis à Bíblia, para que a palavra de Deus e não a tradição fosse a única fonte de autoridade espiritual.
Para disseminar essa ideia, Lutero e os outros reformadores usaram o poder da imprensa. Entre 1518 e 1525, ele publicou mais obras do que a soma que os 17 reformadores seguintes publicaram.
“Não foi uma inovação, mas uma volta às Escrituras”
De acordo com o pastor Hernandes Dias Lopes, o movimento da Reforma Protestante “rompeu com os desmandos do papado e com os desvios doutrinários da igreja”.
“A Reforma não foi uma inovação da igreja, mas uma volta às Escrituras. Seu propósito foi fazer uma correção de rota e seguir pelas mesmas pegadas trilhadas pelos apóstolos”, disse através de uma publicação em seu Facebook.
“A reforma colocou a igreja de volta nos trilhos da verdade. A verdade de que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática e devemos rejeitar decisivamente todas as doutrinas que não estiveram amparadas pelas Escrituras”, escreveu.
“A verdade de que a salvação é pela fé e não pelas obras. Não somos salvos pelas obras que fazemos para Deus, mas pela obra que Cristo fez por nós na cruz. A verdade de que somos salvos pela graça de Deus e não pelos méritos humanos (...) A verdade de que a Deus pertence o poder, honra e a glória, agora e pelos séculos eternos”, ele resumiu.
Sobre Martinho Lutero
O monge agostiniano e professor universitário em Wittenberg, Martinho Lutero (1483-1546) compôs suas “95 teses”, que protestavam contra a venda de indultos de penitência ou indulgências, por parte do papa.
Ele esperava estimular a renovação dentro da igreja, em 1521, quando foi convocado perante a “Dieta de Worms” e foi excomungado. A palavra “dieta” vem do latim díaita e significa “modo de viver”.
Logo, a assembleia política e administrativa tinha como foco ditar as regras de Worms que, na época, era uma cidade livre do império. Este tipo de assembleia era um órgão deliberativo formal e suas decisões valiam para todo o império.
Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e continuou sua produção de panfletos. Quando os camponeses alemães, inspirados em parte pelo “sacerdócio de todos os crentes” de Lutero, se revoltaram em 1524, Lutero ficou do lado dos príncipes da Alemanha.
No final da Reforma, o luteranismo tornou-se a religião do estado em grande parte da Alemanha, Escandinávia e Báltico.
Lutero e a pregação das 95 teses na porta da capela de Wittemberg. (Imagem: Ferdinand Pauwels / Domínio Público)
Suíça e o Calvinismo
A Reforma Suíça começou em 1519 com os sermões de Ulrich Zwingli, cujos ensinamentos em grande parte se assemelhavam aos de Lutero.
Em 1541, João Calvino, um protestante francês que havia passado a década anterior no exílio escrevendo suas “Institutas da Religião Cristã”, foi convidado a se estabelecer em Genebra e colocar em prática sua doutrina reformada.
A base dessa doutrina enfatizava o poder de Deus e o destino predestinado da humanidade. O resultado foi um regime teocrático de moralidade imposta e austera.
A Genebra de Calvino tornou-se um viveiro para exilados protestantes e suas doutrinas rapidamente se espalharam para a Escócia, França, Transilvânia e Países Baixos, onde o calvinismo holandês se tornou uma força religiosa e econômica pelos próximos 400 anos.
A Reforma na Inglaterra
Em 1534, o rei da Inglaterra, Henrique VIII, declarou que somente ele deveria ser a autoridade final em assuntos relacionados à igreja inglesa.
Ele dissolveu os mosteiros da Inglaterra para confiscar suas riquezas e trabalhou para colocar a Bíblia nas mãos do povo. A partir de 1536, todas as paróquias eram obrigadas a ter uma cópia.
Após a morte de Henrique, a Inglaterra se inclinou para o protestantismo de influência calvinista, durante o reinado de seis anos de Eduardo VI, e depois suportou cinco anos de catolicismo reacionário sob Maria I.
Em 1559 , Elizabeth I assumiu o trono e, durante seu reinado de 44 anos, colocou a Igreja da Inglaterra como um “caminho do meio” entre o calvinismo e o catolicismo.
A Contra-Reforma
A Igreja Católica demorou a responder sistematicamente às inovações teológicas e publicitárias de Lutero e de outros reformadores.
O Concílio de Trento, que se reuniu de 1545 a 1563, articulou a resposta da Igreja aos problemas que desencadearam a Reforma e aos próprios reformadores.
A Igreja Católica da era da Contra-Reforma tornou-se mais espiritual, mais alfabetizada e mais educada. Havia também novas ordens religiosas.
Os jesuítas combinavam espiritualidade rigorosa com um intelectualismo de mentalidade global. Enquanto isso, místicos como Teresa de Ávila injetavam nova paixão nas ordens mais antigas.
As inquisições, tanto na Espanha quanto em Roma, foram reorganizadas para combater a ameaça da heresia protestante.
Mudanças duradouras
Junto com as consequências religiosas da Reforma e da Contra-Reforma vieram mudanças políticas profundas e duradouras.
As novas liberdades religiosas e políticas do norte da Europa tiveram um grande custo, com décadas de rebeliões, guerras e perseguições sangrentas.
Só a Guerra dos Trinta Anos pode ter custado à Alemanha 40% de sua população. Mas as repercussões positivas da Reforma podem ser vistas no florescimento intelectual e cultural que ela inspira até os dias de hoje.
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