"Tudo o que queremos é adorar a Deus em liberdade", diz esposa de pastor preso na África

Ruth conta como tem sido difícil cuidar de si e de seus três filhos sozinha, após a prisão de seu marido.

Fonte: Guiame, com informações do World Watch MonitorAtualizado: sexta-feira, 15 de setembro de 2017 às 13:35
"Criar um filho neste clima de repressão estatal é um desafio", afirma Ruth. (Foto: World Watch Monitor).
"Criar um filho neste clima de repressão estatal é um desafio", afirma Ruth. (Foto: World Watch Monitor).

O portal Guiame informou há um mês sobre Fikadu Debesay, uma mãe de três filhos que não resistiu e morreu em um acampamento no deserto onde ela havia sido presa junto com seu marido. Seu crime? Pertencer a uma igreja não registrada, na Eritreia. Agora, um caso semelhante. Assim como Debesay, Ruth é uma mulher de 30 anos que cuida de seus três filhos.

Apesar dela não ter sido presa, seu marido, líder de uma igreja local, foi. Ela contou ao World Watch Monitor sobre como tem sido difícil viver sozinha com os filhos, sendo cristã no estado mais repressivo de África. Inicialmente, ela teve dificuldades para falar abertamente. As palavras são hesitantes, cuidadosamente consideradas. Mas então, depois de se sentir mais confortável ela se mostra ansiosa para falar sobre coisas mantidas há tanto tempo.

"Eu nasci em uma família cristã e, quando cheguei à adolescência, em 1994, decidi que queria assumir a responsabilidade pessoal pela minha fé. Desde então, experimentei o que é adorar a Deus em liberdade e agora em segredo", diz ela.

Rute tornou-se cristã em uma igreja que gozava de liberdade, mas oito anos depois, em 2002, uma lei foi aprovada na Eritreia, proibindo a prática cristã fora das denominações registradas, de modo que os membros das igrejas ilegais agora se encontram em segredo em casas particulares.

“Insuportável”

Um ano depois de sua igreja estar oficialmente fechada, Ruth se casou com seu marido, que era um líder cristão na época. Eles tiveram três filhos, mas o governo o aprisionou. Ruth diz que, desde então, a vida tornou-se extremamente difícil: "Eu sempre me preocupo e me pergunto como ele está. Também acho insuportável ver como meus três filhos pequenos sentem falta dele. Eles sempre choram pelo pai. Às vezes, eles ficam com dificuldade na escola porque sentem falta. É tão difícil cuidar sozinho de mim mesma", contou.

Criar um filho neste clima de repressão estatal é um desafio. Ela diz: "Quando um bebê nasce na Eritreia, os documentos mais importantes são os certificados de nascimento e vacinação. Mas isso não significa nada sem um certificado de batismo de uma das igrejas registradas. Em outras palavras, as crianças só podem ser matriculadas na escola se os pais forem membros de uma das igrejas reconhecidas pelo Estado. O mesmo se aplica à obtenção de cupons de alimentos e ao acesso a outros serviços públicos”, diz Ruth. Esta é a maneira do governo de identificar membros de grupos religiosos não registrados.

Pressão de todos os lados

A repressão do governo aos grupos religiosos, e especialmente às igrejas, também corroeu a unidade entre os eritreus. Enquanto eles lutam juntos pela independência da Etiópia, o controle do Estado conduziu uma cunha entre diferentes religiões e denominações. Os pentecostais, por exemplo, são vistos como agentes do imperialismo ocidental e aqueles que odeiam a pátria. Ruth diz que está triste com isso: "Como cristãos eritreus, amamos nosso país e não temos nenhuma agenda política. Somos amantes da paz e tudo o que queremos é adorar a Deus em liberdade", finalizou.

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