Um grupo de estudantes cristãos foi impedido de realizar um culto no pátio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pela segunda vez, em Porto Alegre.
Um encontro evangelístico, organizado pela missão "Aviva Universitário”, havia sido barrado pela universidade em agosto.
Na segunda-feira (22), o REDE, um grupo de universitários cristãos da UFRGS, planejou um momento de adoração em um local externo do Campus Centro, às 19h.
Porém, ao chegarem ao local, os estudantes foram impedidos por guardas terceirizados e pela Polícia Universitária Federal.
“Eu cheguei lá pelas 17h15 e já tinha alguns guardas posicionados exatamente no local onde tínhamos planejado fazer o culto”, contou Bruno Franzoso, líder do REDE, em entrevista ao Guiame.
Bruno, que é estudante de História na UFRGS, afirmou que ele e outro estudante, Jean de Moraes, foram até os guardas terceirizados e perguntaram o que estava acontecendo.
“Perguntamos: ‘Vocês estão aqui para fazer a segurança do culto?’. E eles responderam: ‘Não, viemos aqui para barrar, porque vocês não têm autorização’. Eu perguntei se eles tinham algum documento que traga essa ordem e eles disseram: ‘Vocês não podem fazer porque não tem autorização, e assim que os policiais federais chegarem podem conversar com eles’”, disse Franzoso.
Logo depois, os seguranças da Polícia Universitária Federal chegaram no local. “Perguntei pros federais qual era o motivo de não poder fazer o culto ali, um deles disse: ‘É porque a universidade não é local de culto e de política. Eu confrontei ele dizendo que a universidade tem várias ações políticas e cultos acontecendo”, afirmou Bruno.
“Chegou uma terceira pessoa, que era o responsável pelos guardas federais da universidade e me disse que a gente não poderia fazer o culto porque nós não tínhamos autorização para isso. Ele bateu nessa tecla durante 25 minutos”, acrescentou.
“Nos sentimos como bandidos”
O estudante observou que, em agosto, ele e a liderança da Missão Aviva Universitário enviaram um documento formal à Reitoria, pedindo autorização para a realização do culto evangelístico no Campus do Vale, porém o pedido foi negado sem justificativa.
“Achei isso bem complicado, porque quando pedimos autorização para fazer o culto do Aviva, a Reitora negou”, comentou.
Dessa vez, os alunos não solicitaram autorização da universidade por que o culto não seria feito com som alto, apenas com violão, e teria poucos participantes. A REDE divulgou o encontro apenas para seus membros.
“Foi bem frustrante. Nós nos sentimos como bandidos, estávamos conversando com eles e os carros da polícia da universidade com as luzes da viatura ligadas, o pessoal passando”, confessou Bruno.
“Os guardas garantiram que toda festa, toda ação que tem dentro da UFRGS tem pedido de autorização para ver se não vai ter som alto. Mas sabemos como as coisas são lá dentro, tem muitas festas que a música atrapalha a aula, tem menor que consome bebida e droga, e os guardas não fazem nada”, criticou.
Após a conversa com o segurança, os estudantes saíram do campus e realizaram o culto em uma praça, em frente à UFRGS. Nesse momento, os guardas ajudaram a fazer a segurança da reunião, posicionando os carros próximo ao parque.
“Laicidade não significa a ausência da manifestação religiosa”
Para o estudante de Nutrição da UFRGS, Jean de Moraes, que estava presente quando a proibição ocorreu, a Reitoria não mantém uma atitude igualitária ao permitir alguns eventos e barrar outros.
“O primeiro argumento que sempre é usado contra nós é o de que a universidade é laica, entretanto sabemos que laicidade não significa a ausência da manifestação religiosa, mas pelo contrário, a liberdade para toda e qualquer manifestação religiosa”, declarou ele, em entrevista ao Guiame.
“É ainda mais frustrante quando pensamos que outras manifestações de cunho religioso são permitidas livremente na UFRGS, mas quando o objetivo é adorar o nome de Jesus, há arbitrariedade”, condenou.
Jean contou que se sente frustrado ao ser proibido de manifestar sua fé na universidade. “Eu acredito que haja uma certa medida de preconceito religioso contra os cristãos dentro da UFRGS, especialmente por parte da Reitoria”, avaliou.
“Mas há também um fator espiritual que não pode ser desconsiderado. Há um peso espiritual no ambiente universitário e sabemos que quando nós, cristãos, nos reunimos para adorar o nome do Senhor, batalhas são travadas no mundo espiritual”.
E enfatizou: “Estamos dispostos a seguir travando essas batalhas, até que o nome de Jesus seja exaltado acima de qualquer outro nome dentro da UFRGS”.
Em vídeo compartilhado no Instagram na última quarta-feira (24), a vereadora de Porto Alegre, Mariana Lescano, condenou a proibição do culto da REDE e denunciou a realização do evento "Acampamento da 1ª Jornada de Lutas pela Palestina", que iniciou no mesmo dia e local em que o culto aconteceria.
“Estou aqui na UFRGS, onde está tendo o acampamento a favor da Palestina, que a gente sabe que é a favor do grupo terrorista Hamas e contra o Estado de Israel. A gente vê aqui uma faixa onde eles dizem ‘Vamos romper com o sionismo’. Olha o ódio que eles têm dos judeus”, disse a parlamentar.
“Ontem mesmo se tentou fazer mais um culto aqui dentro e foi negado. Ou seja, um culto de uma hora dentro da universidade não pode. Mas essa gente aqui, toda acampada, usando espaço público, pode?”, questionou.
Acampamento da 1ª Jornada de Lutas pela Palestina na UFRGS. (Foto: Arquivo pessoal).
Mariana Lescano informou que denunciou o acampamento no campus central da UFRGS ao Ministério Público e o considerou antissemita.
“Mais uma vez, denunciamos ao Ministério Público Federal para entender o que esse acampamento está fazendo aqui dentro e cobrar as responsabilizações”, afirmou.
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Em nota, o grupo de universitários cristãos da UFRGS REDE declarou que as proibições dos cultos por parte da Reitoria são ações discriminatórias contra cristãos.
“Quando tentamos realizar o culto no Campus no Vale, no dia 12/8, pedimos autorização para a reitoria, mas sem qualquer justificativa, nossa solicitação foi negada. Apenas quando o culto frustrado saiu nos grandes veículos da imprensa é que a reitora se posicionou, afirmando que a UFRGS é laica, então não deve ser lugar de religião”, afirmou.
“Entretanto, sabemos que a única religião que não tem espaço na UFRGS é a religião cristã. Cultos de outras manifestações religiosas ocorrem no Campus do Vale, da mesma forma palestras de diversas figuras políticas, e inúmeras festas nos campi. Até quando a UFRGS continuará com seu preconceito contra os cristãos?”.
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O grupo ainda informou que, com o apoio do Instituto Brasileiro de Direito Religioso (IBDR), tentará uma reunião nas próximas semanas com a reitora da universidade para defender o direito dos estudantes cristãos.
Em nota enviada ao Guiame, a UFRGS esclareceu que todas as atividades coletivas realizadas nos espaços da universidade precisam de autorização prévia, conforme as normas institucionais.
“O grupo de estudantes que pretendia realizar uma reunião religiosa não havia solicitado essa autorização, tampouco a autorização para uso do estacionamento, cuja ocupação exige comunicação à Prefeitura do Campus, em razão do impacto no espaço e no número de vagas”, afirmou.
“No diálogo com a equipe de segurança, a situação foi conduzida de forma amistosa. Os estudantes optaram por realizar sua atividade em outro local, nas proximidades do Instituto de Educação, e solicitaram acompanhamento da Coordenadoria de Segurança, que esteve presente durante a realização”, acrescentou.
A UFRGS declarou que garante a liberdade de culto e manifestação, “desde que os trâmites regulares sejam respeitados, assegurando a todas as iniciativas da comunidade acadêmica tratamento igualitário”.
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