Há afegãos ligados ao terrorismo entrando na Europa como “refugiados de Cabul”, de acordo com a rede portuguesa de rádio TSF. Por conta do caos e da aglomeração às portas do terminal aéreo, ainda controlado pelos EUA, não é possível fazer a triagem necessária.
Até agora, foi detectado que pelo menos uma pessoa que está na lista negra de extremistas conseguiu entrar no Reino Unido. O indivíduo, que não foi identificado, foi transportado de Cabul para Birmingham, cidade da Inglaterra, num avião militar. Só durante a viagem foi possível identificá-lo.
Apesar de ter sido libertado algumas horas depois da chegada a Birmingham, os analistas disseram que o que aconteceu mostra a dificuldade de identificar, em Cabul, possíveis ameaças. O mesmo se passou na segunda-feira (23), com um grupo de quatro afegãos que viajou para Paris.
Os talibãs sublinharam aos jornalistas em Cabul, nesta terça-feira, que não será dado nem mais um dia para a retirada de cidadãos que desejam sair do país e que a concentração de pessoas junto ao aeroporto vai ser limitada porque a situação é caótica.
Até o momento, ficou definido que a saída de afegãos do país só deve acontecer até o dia 31 de agosto.
Avião militar dos EUA decola com cerca de 640 pessoas do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, em 15 de agosto de 2021. (Foto: Defense One via Reuters)
Facilidade de infiltração de terroristas entre refugiados
Nem sequer é fácil chegar ao congestionamento que leva ao aeroporto. “O Talibã controla não só as vias de acesso ao aeroporto, mas também patrulham as ruas, há controles aleatórios, e as pessoas têm medo de serem abordadas com suas famílias”, informou o El País.
A vantagem dos terroristas, nesse caso, é facilitar o acesso dos militantes ao aeroporto e assim, eles se infiltram entre os refugiados. O presidente russo, Vladimir Putin, pediu à comunidade internacional, nesta sexta-feira (20), que evite o “colapso” do Afeganistão e advertiu que se deve impedir que os terroristas saiam do país.
Por outro lado, ele parece defender o regime do Talibã quando declarou, numa coletiva de imprensa conjunta com a chanceler alemã, Angela Merkel, que “não se deve tentar impor “valores alheios” ao país, devastado por décadas de conflitos.
Putin enfatizou que “tem que acabar essa ‘vontade’ de construir em outros países a democracia com base em modelos estrangeiros, sem levar em conta as particularidades históricas, nacionais, ou religiosas, e ignorando por completo as tradições”, disse o presidente russo.
Já o presidente americano, Joe Biden, disse que “ainda não sabe se pode confiar nos talibãs”, conforme o jornal O Observador. Ele preferiu apostar na sorte: “Vamos ver se o que eles dizem é verdade”.
Após a reunião do G7, que aconteceu na terça-feira (24), para tratar de assuntos relacionados à crise no Afeganistão, Biden disse que os riscos de ataques são reais e os desafios são significativos.
Centenas de pessoas esperam esperam voos no aeroporto de Cabul para poder sair do Afeganistão (WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images)
Falta de segurança e controle
O aeroporto de Cabul, especificamente seu acesso norte, virou um monstruoso gargalo. Diariamente passam por lá milhares de pessoas que tentam pegar um avião qualquer. O calor é asfixiante. Não há sombra. Nem água, nem comida, de acordo com o El País.
Além disso, desde quinta-feira (19), os soldados norte-americanos deixaram o trabalho mais ingrato ― dispersar as pessoas a pauladas quando a situação se torna insustentável ― aos membros do Exército afegão que se refugiaram no aeroporto após serem derrotados pelo Talibã.
Ainda de acordo com o El País, não há listas, nem nenhum meio de controle numérico, nem ninguém que organize nada. Só existe a sorte de chegar numa hora em que surge uma brecha que permita avançar. Ou ganhar o lugar roubando-o dos outros.
Há muitas pessoas que, carregadas de crianças, chegam pela manhã e vão embora à noite sem conseguirem avançar nada. Outros que desistem porque seus filhos pequenos não aguentam mais de fome, de sede e de cansaço.
Nos primeiros dias, segunda e terça-feira, os soldados norte-americanos usavm sinalizadores e foguetes para tentar controlar a multidão, mas o ruído assustava as crianças pequenas, que começavam a chorar.
Desde que o Exército afegão passou a se encarregar do acesso ao portão, ficou ainda pior: utilizam fuzis com balas de verdade, que deixaram vários mortos nos últimos dias.
Crianças aguardam voo de saída do Afeganistão nesta segunda-feira (23), em Cabul (Foto: Getty Images)
Afeganistão nas mãos do Talibã
Os talibãs passaram a controlar Cabul no dia 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições