As ruas do Sudão foram tomadas por cidadãos, poucas horas depois do golpe militar em 25 de outubro, que mais uma vez mergulha o país africano no caos. Enquanto estavam bloqueando as vias, agitando bandeiras e cantando, para pedir o regresso ao governo civil e uma transição democrática na nação, viram os soldados abrir fogo contra eles.
“Ouvimos falar da morte de manifestantes que protestavam contra o golpe militar”, disse o presidente da Conferência Episcopal do Sudão (SCBC), Tombe Trille, numa entrevista à Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) África, referindo-se ao assassinato daqueles cidadãos.
Além de populares, a CSW diz que recebeu relatos de duas tentativas de assassinato contra indivíduos que trabalhavam para o governo liderado por civis do Sudão. Uma delas ocorreu em 27 de outubro, quando Boutros Badawi, conselheiro cristão do Ministro dos Assuntos Religiosos, foi atacado por volta das 20h, quando caminhava para sua casa em Cartum.
Badawai teria percebido que duas pessoas o seguiam quando uma delas atirou nele, mas errou. Ele escapou de seus agressores procurando refúgio em uma casa próxima e saindo por uma rota secundária. Esta é a segunda vez que ele consegue escapar de um atentado.
Em julho, o conselheiro foi atacado por cinco homens armados que o agrediram e ameaçaram matá-lo se ele continuasse a falar sobre o fracasso do governo em responder adequadamente à questão das propriedades confiscadas pertencentes a igrejas e questões em torno dos comitês da Igreja Evangélica Presbiteriana do Sudão.
Badawi publicou vários posts nas redes sociais detalhando o atraso do governo em resolver injustiças históricas vividas pela comunidade cristã, incluindo a devolução de propriedades, a emissão de certificados de registro para propriedades da igreja e o reconhecimento oficial de comitês legítimos da igreja, o que facilita sua gestão dos assuntos da igreja.
Direitos restringidos
Durante a era al Bashir, o Estado usou seu poder para autorizar comitês que não foram constituídos de acordo com os procedimentos da igreja para agir em nome de uma organização religiosa. Dessa forma, o Estado manteve um controle significativo sobre os processos internos das organizações religiosas e usou esses comitês para restringir ainda mais os direitos dos cristãos.
Fontes locais relatam que muitos prédios de igrejas que foram confiscados pela administração al Bashir ou vendidos por comitês ilegítimos estavam sob o controle de antigos ou atuais membros do Serviço Nacional de Inteligência e Segurança (NISS), e seu sucessor, o Serviço de Inteligência Geral (GIS).
As ameaças feitas contra Badawi são semelhantes às feitas por oficiais do GIS contra Osama Saeed Musa Kodi, presidente de uma organização de jovens cristãos, que foi detido em Wad Madani, no estado de Gezira, no início deste ano.
Os agentes disseram ao Musa Kodi que o cristianismo é mau e alegaram que ele estava tentando fazer uma lavagem cerebral em cidadãos sudaneses. Ele também foi obrigado a interromper quaisquer esforços para reconstruir uma igreja que havia sido destruída em um ataque incendiário, e foi informado de que ele poderia ser morto se não obedecesse.
Transição política é rompida
A transição política no Sudão, após a queda de Omar al Bashir, foi rompida pelo golpe militar. Enquanto comandou o país, a equipe de transição promoveu alguns avanços, como um programa de recuperação dos direitos e liberdades.
Outro foi anunciado em meados de julho, que foi a eliminação da pena de morte para o crime de apostasia. Posteriormente, ainda retirou o Islã como religião oficial do país.
O acordo teve duas fases. O primeiro foi assinado em Juba, capital do Sudão do Sul, no dia 31 de agosto, entre o vice-presidente do Conselho Soberano do Sudão, o governo provisório, Mohamed Hamdan Dagalo, e representantes da Frente Revolucionária do Sudão, aliança que reúne 17 grupos armados das regiões de Darfur e Kordofan do Sul.
Foi nesse período a criação de uma comissão para a liberdade religiosa que passou a garantir os direitos das comunidades cristãs nas regiões do sul do Sudão.
Preocupações
O CEO da CSW, Scot Bower, disse que “estamos seriamente preocupados com essas tentativas de assassinato altamente planejadas visando ex-membros do governo liderado por civis e seus comitês”.
“Os militares detêm a responsabilidade final pelas ações que ocorrem desde o anúncio de um golpe e devem garantir a segurança de todas as pessoas no país neste momento. Instamos os membros da comunidade internacional a se empenharem para garantir a libertação de detidos políticos e proteção para aqueles que trabalham com ou associados ao governo civil.”
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