O aumento do número de evangélicos está em pauta no Sínodo da Amazônia, que começou neste domingo (6) e ocorre até o final do mês no Vaticano. Na série de reuniões convocadas pelo Papa Francisco, a Igreja Católica discute como se adaptar à realidade amazônica.
Segundo a pesquisa nacional do Datafolha realizada no fim de agosto, o número de evangélicos (46%) superou o de católicos (45%) em 2019 no Norte brasileiro. É um quadro completamente diferente de cinco anos atrás — a população nortista era 56% católica e 38% evangélica em 2014.
O mesmo fenômeno pode ser visto no cenário geral do Brasil. Enquanto a população em 1994 era 75% católica, apenas 14% se declarava evangélica. Em 2019, os membros da Igreja Católica continuam sendo maioria, mas em uma proporção menor: 51% dos brasileiros são católicos enquanto 32% são evangélicos.
De acordo com uma reportagem da Folha de S. Paulo, uma das dificuldades da Igreja Católica na região é marcar presença nas áreas remotas devido à sua estrutura hierárquica e proibição de presbíteros casados e mulheres diaconisas, por exemplo.
Por outro lado, sem um comando verticalizado, as igrejas evangélicas conseguem se multiplicar com mais facilidade. Um dos exemplos é a Assembleia de Deus, inaugurada em Belém (PA), 118 anos atrás, por missionários sueco-americanos.
A Assembleia de Deus tem uma “linguagem muito aclimatada a qualquer ambiente”, disse à Folha o pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder do Ministério do Belém. “Não há um QG, é eficiente exatamente por não ser centralizada. Sob o selo da Assembleia, há movimentos autóctones, nativos quase”.
Uma das dificuldades para o evangelismo na região é o difícil acesso. Segundo o pastor Samuel Câmara, líder da igreja Assembleia de Deus em Belém do Pará, pode-se gastar até um mês para chegar a vilarejos mais isolados “quando o rio está seco” — viagem que, com um avião de pequeno porte, leva duas horas.
O pastor disse ainda que homens de sua igreja já remaram por 90 dias para alcançar um desses pontos.
Unidade da Assembleia de Deus na aldeia Potkro, dos xicrin, na Terra Indígena Trincheira-Bacajá, no Pará. (Foto: Arquivo Pessoal)
De acordo com a antropóloga francesa Véronique Boyer, com 30 anos de pesquisa de campo na região, a Igreja Católica “não levou a sério o crescimento evangélico”. Ela disse à Folha que os primeiros missionários estrangeiros já atuavam onde padres não iam.
“E os evangelistas da segunda parte do século 20 não pareciam adversários poderosos: pobres, sem apoio, sem estudos”, observou. “Não sei se a gente pode falar em uma certa arrogância da igreja, mas se parece um pouco com isto. É claro que padres e bispos estão agora muito preocupados”.
Dom Teodoro Tavares, bispo de Ponta de Pedras (PA), reconhece que se preocupa com “o número de sacerdotes para atender a milhares de comunidades”.
Em 2018, uma projeção feita pelo Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais), órgão da CNBB (Conferência Nacional de Bispos do Brasil), apontou 27,3 mil padres no país — um para cada 7.802 habitantes. O índice no Norte não foi informado pela instituição.
Tavares, no entanto, questiona os números do Datafolha. O bispo acredita que é errado dizer que evangélicos superam católicos no Norte e alega que, só em Rondônia, a igreja evangélica teria perdido a liderança (questionado, não explica quais seriam, de que ano ou qual metodologia foi usada no levantamento do Vaticano, informa a Folha).
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