Chefe da ONU alerta que países se preparam com armas nucleares 'apocalípticas’

António Guterres disse que o mundo está a um passo da aniquilação nuclear.

Fonte: Guiame, com informações da AP NewsAtualizado: terça-feira, 2 de agosto de 2022 às 15:47
António Guterres, secretário-geral da ONU. (Foto: UNclimatechange/Flickr)
António Guterres, secretário-geral da ONU. (Foto: UNclimatechange/Flickr)

O chefe das Nações Unidas alertou nesta segunda-feira (1) que “a humanidade está a apenas um mal-entendido, um erro de cálculo da aniquilação nuclear”, citando a guerra na Ucrânia e as ameaças nucleares na Ásia e no Oriente Médio.

O alerta foi feito na sede da ONU, em Nova York, pelo secretário-geral António Guterres, na abertura de uma conferência que revisa o tratado histórico de 50 anos para a disseminação de armas nucleares.

Guterres destacou que o mundo tem um arsenal de quase 13.000 armas nucleares, que “estão atingindo novos patamares”. Ele disse ainda que países estão gastando centenas de bilhões de dólares em “armas apocalípticas”.

Falando a ministros e diplomatas na 10ª Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, Guterres disse que a reunião acontece “em um momento de perigo nuclear não visto desde o auge da Guerra Fria”.

O risco de uma catástrofe nuclear também foi pontuado pelos Estados Unidos, Japão e Alemanha.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, analisou o quadro geral: a Coreia do Norte está se preparando para realizar seu 7° teste nuclear, o Irã “não está disposto” a aceitar os termos para retornar ao acordo nuclear e a Rússia está em “imprudentes e perigosas demonstrações de força nucleares” na Ucrânia.

Ele citou o aviso do presidente russo, Vladimir Putin, após sua invasão em 24 de fevereiro, de que qualquer interferência levaria a “consequências nunca vistas antes”, enfatizando que a Rússia é “uma das maiores potências nucleares”.

O que diz a Rússia?

Em uma carta à conferência, publicada em seu site, Vladimir Putin afirmou que “não pode haver vencedores em uma guerra nuclear”, em um tom mais ameno.

“Acreditamos que uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada, e defendemos uma segurança igual e indivisível para todos os membros da comunidade mundial”, disse o presidente russo.

Em discurso recente, Blinken disse que a Rússia apreendeu a maior usina nuclear da Europa em Zaporizhzhya, na Ucrânia, e a está usando como base militar para disparar contra ucranianos. 

“[Os russos] que eles não podem e não vão atirar de volta, porque podem acidentalmente atingir um reator nuclear ou resíduos radioativos que estão armazenados”, observou, notando que há um “escudo humano”.

Na segunda, a delegação da Rússia emitiu um comunicado negando as afirmações de Blinken, explicando que um número limitado de militares está em Zaporizhzhya “para garantir a segurança na usina”.

Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, disse que a situação na usina nuclear de Zaporizhzhya “está se tornando mais perigosa a cada dia” e pediu ajuda a todos os países para enviarem especialistas em segurança ao local.

Sobre o tratado em pauta na ONU

Em vigor desde 1970, o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, conhecido como TNP, tem 191 países membros, sendo a maior adesão de qualquer acordo de controle de armas.

De acordo com suas premissas, as cinco potências nucleares originais — Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha e França — concordaram em negociar para eliminar seus arsenais e nações sem armas nucleares prometeram não adquiri-las.

A Índia e o Paquistão, que não aderiram ao TNP, prosseguiram para obter a bomba. O mesmo aconteceu com a Coreia do Norte, que ratificou o pacto, mas depois anunciou que estava se retirando. 

Acredita-se que Israel (que não é membro do tratado) tenha um arsenal nuclear, mas o país não confirma e nem nega. 

A reunião, que termina em 26 de agosto, visa gerar um consenso sobre os próximos passos, mas as expectativas são baixas para um acordo significativo. 

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