Cientistas criam feto humano sintético sem necessidade de óvulo ou esperma

O feto sintético foi criado a partir de células-tronco e não deverá ser usado em um futuro próximo por causa das questões éticas e morais.

Fonte: Guiame, com informações do Jerusalem PostAtualizado: segunda-feira, 19 de junho de 2023 às 15:45
Imagem ilustrativa de um feto. (Foto: Wikimedia Commons)
Imagem ilustrativa de um feto. (Foto: Wikimedia Commons)

Cientistas obtiveram sucesso ao criar fetos humanos sintéticos utilizando células-tronco, contornando assim a necessidade de um óvulo ou esperma nesse processo.

De acordo com os cientistas, esses fetos, que se assemelham a estágios iniciais do desenvolvimento humano, podem ensinar sobre o efeito de distúrbios genéticos e causas biológicas de abortos espontâneos recorrentes. No entanto, a existência desses fetos sintéticos levanta importantes questões éticas e legais, uma vez que a maioria dos países ainda não possui legislação específica para entidades cultivadas em laboratório.

Há que se destacar que os fetos sintéticos criados pelos cientistas não possuem um coração em funcionamento nem o início de um cérebro, mas incluem as células que geralmente criariam a placenta e o próprio bebê.

A professora Magdalena Zernicka-Goetz, da Universidade de Cambridge e do Instituto Tecnológico da Califórnia, apresentou o trabalho durante a reunião anual da Associação Internacional de Pesquisa com Células-Tronco, realizada em Boston, EUA.

No momento, não existe a perspectiva de uso clínico imediato de fetos sintéticos. Implantá-los no útero de um paciente seria ilegal devido à falta de regulamentação e legislação específicas sobre esse assunto. Além disso, ainda não está claro se essas criações têm o potencial de continuar a se desenvolver além dos estágios iniciais.

No passado, a equipe liderada por Zernicka-Goetz demonstrou que é possível estimular células-tronco de camundongos a se agruparem e formar modelos de fetos que incluem sistemas intestinais, estágios iniciais de cérebros e corações pulsantes. Esse avanço despertou o interesse da comunidade científica, resultando em uma corrida para traduzir esse trabalho para modelos humanos e várias equipes conseguiram reproduzir os primeiros estágios de desenvolvimento.

Esse feto se tornará um ser vivo?

A principal pergunta é se existe a perspectiva de que esse feto sintético possa se desenvolver em um ser vivo no futuro.

Segundo os cientistas, as estruturas modelo, originadas de uma única célula-tronco fetal, atingiram o estágio inicial do desenvolvimento conhecido como gastrulação. Nessa fase, o embrião passa de uma folha contínua de células para formar fileiras de células separadas e estabelecer os eixos básicos do corpo. É importante destacar que, nesse estágio, o feto sintético ainda não possui um coração pulsante, sistema intestinal ou mesmo o início de um cérebro. Porém, o modelo demonstrou a presença de células primárias que são precursores do óvulo e do espermatozoide.

“Nosso modelo humano é o primeiro modelo de fetos humanos que especifica fluidos amnióticos e células germinativas, as células precursoras do óvulo e do esperma”, disse Zernicka-Goetz ao The Guardian antes da palestra. "É inteiramente feito de células-tronco fetais."

"O que eles realmente fizeram aqui foi pegar células-tronco fetais sem identidade, que podem ser classificadas em qualquer direção que você queira para, teoricamente, desenvolver qualquer órgão que você queira", explicou o professor Benjamin Dekel, gerente do Sagol Center for Regenerative Medicine em Universidade de Tel Aviv.

"No desenvolvimento de um feto, existem três camadas de germinação. Aqui, eles deram um passo à frente para o estágio em que há realmente uma espécie de feto na placa de Petri. E a cada vez, eles dão mais um passo à frente com consequências de longo alcance."

Ética, moral e Deus

O avanço científico sobre a criação de um feto sintético traz diversas questões éticas e morais que exigem uma consideração cuidadosa por parte da sociedade.

"Se a intenção é que esses modelos sejam muito semelhantes aos fetos normais, então, de alguma forma, eles precisam ser tratados como tal", disseram os pesquisadores. "No momento, eles não estão sendo legislados. As pessoas estão preocupadas com isso."

Para os cristãos, Deus estabeleceu limites para os feitos humanos, tanto na área científica quanto na tecnologia. Porém, o que se vê são cientistas caminhando a passos largos na tentativa de interferir de alguma forma na Criação de Deus.

A “criação de embriões sintéticos” sem espermatozoides ou óvulos, é um desses casos, dizem.

Para a teologia, interferências como essas podem, além de questões éticas, significar querer agir na área divina, uma vez que, de acordo com a Bíblia, é Deus quem dá a vida e a toma, conforme 1 Samuel 2.6.

O escritor e colunista do Guiame, Felipe Morais diz que “há um princípio estabelecido por Deus que ‘aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo’ (Hb 9.27) e, somente o Senhor pode ressuscitar uma pessoa.

“Portanto, a única esperança da ressurreição do corpo está em Cristo”, reforça o pastor da Igreja Batista do Reino.

Citando Isaías 38, que conta a história de Ezequias que recebeu uma sentença de morte de Deus, o pastor Cláudio Modesto deixa claro que até para dar mais tempo de vida a alguém é preciso que isso seja feito por Deus.

“Temos claro aqui que é Deus quem tem o poder da vida e da morte, inclusive de dar mais anos de vida a alguém, como fez com Ezequias que após chorar recebeu 15 anos para colocar sua casa em ordem”, citou.

Feto real?

O professor Dekel, diz que a descobertas traz "alguns problemas". E explica: "O principal problema é quão semelhantes são os tecidos criados fora dos corpos com o feto real. É difícil imitar a natureza, e a questão é se este é um feto real ou células organizadas como um feto. E, claro, existem grandes consequências éticas aqui."

Por outro lado, Dekel disse que "se tivermos fetos sintéticos, podemos aprender mais sobre doenças na vida fetal. Podemos abrir todo um mundo de ensinamentos sobre doenças que se desenvolvem na vida fetal ou defeitos congênitos. Nunca tivemos esses tipos de sistemas modelo, mas, novamente, não sabemos o quão semelhante é à coisa real. Há uma diferença quando você cultiva algo fora do corpo em um tubo e tenta imitar um processo que se desenvolveu ao longo de milhões de anos da evolução. É por isso que há um argumento sobre o quão semelhante é à coisa real."

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