Como os pastores preparam suas igrejas para eventual guerra na Europa

Atual secretário-geral da OTAN pediu aos europeus que adotem uma “mentalidade de guerra”.

Fonte: Guiame, com informações do CNEAtualizado: terça-feira, 8 de abril de 2025 às 12:08
Tanque de guerra. (Foto ilustrativa: Pexels/Art Guzman)
Tanque de guerra. (Foto ilustrativa: Pexels/Art Guzman)

Com a guerra na Ucrânia entrando em seu terceiro ano, diversos líderes da UE têm alertado o continente para a necessidade de se preparar frente à possibilidade de novos confrontos.

Em março, a Presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, declarou: “Se a Europa quer evitar a guerra, a Europa deve se preparar para a guerra”.

Nesse contexto, como os líderes cristãos europeus estão se preparando para enfrentar uma possível crise?

Mark Rutte, ex-primeiro-ministro holandês e atual secretário-geral da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), pediu aos europeus que adotem uma “mentalidade de guerra”. Segundo ele, muitos países membros da União Europeia ainda não estão devidamente preparados para enfrentar uma ameaça direta da Rússia ou de outra potência.

Além dos alertas sobre uma possível guerra, o governo holandês orientou seus cidadãos a montar um kit de emergência para 72 horas e recomendou manter uma reserva de dinheiro, como precaução contra possíveis quedas nos serviços bancários digitais causadas por ataques cibernéticos.

Outros países da União Europeia também sugeriram iniciativas semelhantes.

Com as ameaças iminentes, como os líderes cristãos estão respondendo a esses rumores de guerra e como esses possíveis perigos impactam seus ministérios? A Bíblia, em Mateus 24:6, alerta: "Haverá guerras e rumores de guerras, mas ainda não será o fim, pois é necessário que tais coisas aconteçam."

Com base nesse versículo, o CNE convocou líderes cristãos de toda a Europa a oferecerem respostas diante de um futuro incerto e turbulento para o continente.

Desde o início da guerra na Ucrânia, o Conselho de Igrejas Europeias (CEC) lançou a iniciativa Pathways to Peace (Caminhos para a Paz), com o objetivo de unir líderes cristãos europeus e suas igrejas para promover a construção da paz na Ucrânia, além de proteger locais religiosos danificados no país.

Recentemente, o vídeo do CEC trouxe uma reflexão sobre a questão essencial: "O que significa ser uma igreja em tempos de guerra?" Além disso, destacou exemplos concretos das iniciativas realizadas como parte de seu projeto na Ucrânia.

Alemanha

Frank Heinrich, ex-copresidente da Aliança Evangélica na Alemanha, afirmou que, enquanto alguns líderes alemães tranquilizam os cidadãos sobre a falta de ameaças diretas ao país, o temor relacionado à guerra na Ucrânia ainda persiste.

"O medo é uma infecção do nosso tempo. E o medo é algo que funciona muito bem", acrescenta o ex-membro do Bundestag, o parlamento alemão. Embora ele explique que é importante recorrer ao Estado em tempos de crise ou guerra, o que não está sendo discutido é a guerra que chega à igreja.

Pastor Frank Heinrich, da Alemanha. (Foto: Arquivo pessoal)

Também colíder da Evangelical Alliance, Heinrich exemplificou sua declaração ao lembrar da pandemia da Covid, quando igrejas foram fechadas e o mundo enfrentou meses de lockdown. Segundo ele, o medo e o pânico daquele período ultrapassaram questões políticas, criando uma demanda maior por aconselhamento, enquanto muitos, incluindo cristãos, perderam o foco em servir aos outros e passaram a temer o futuro.

Mesmo após o período pós-Covid, Heinrich afirma que o Evangelho e sua prática são essenciais para superar o medo e a tristeza. Ele destaca que, em tempos de crise, a igreja deve reforçar os valores do Evangelho, como dedicar tempo e recursos para ajudar os outros.

O ex-pastor do Exército de Salvação afirma que ajudar os mais vulneráveis não implica julgá-los, mas sim agir de maneira que a igreja reflita a vida de Jesus. Por meio de nossas ações, devemos exemplificar o mesmo espírito de entrega e amor que Ele demonstrou por nós. "Isso é o que constitui a essência de uma igreja", conclui Heinrich.

Itália

Ao ser questionado sobre discussões relacionadas a guerra e calamidade na Itália, Leonardo de Chirico, teólogo e pastor de Breccia di Roma, afirmou que o tema está presente no debate público.

Porém, ele ressalta que não há conhecimento de ameaças imediatas. Ainda assim, alerta que, caso a guerra aconteça, a preparação geracional seria insuficiente.

"Não estamos preparados para lidar com esse medo, pois não faz parte do nosso horizonte. O desafio seria aprender a enfrentá-lo. Pelo menos três gerações não passaram por uma guerra. É um ponto cego."

Pastor Leonardo de Chirico, da Itália. (Foto: Arquivo pessoal)

Além da falta de preparo, o plano de aumentar os gastos de defesa da UE enfrentou forte resistência na Itália. De Chirico explica que, desde a derrota italiana na Segunda Guerra Mundial, há críticas recorrentes ao investimento em política militar ou externa.

Ele ressalta que muitos italianos enxergam o país como a "parte vulnerável do bloco ocidental" e consideram os apelos para o rearmamento da Europa como "loucos".

"Queremos paz, mas não estamos envolvidos no processo de manutenção da paz."

E se a guerra chegasse à Itália? De Chirico observa que, embora as ameaças de calamidade sejam discutidas teoricamente, faltam ações práticas. Ele enfatiza que líderes cristãos devem promover resiliência e lembrar que a verdadeira esperança está além desta vida terrena.

"Sabemos que esta vida é passageira, e é importante manter nossos pensamentos voltados para os lugares celestiais. A certeza que temos em Cristo e em Seus propósitos é algo que frequentemente tomamos como garantido", ele afirma.

Suécia

Jonas Ahlforn von Beetzen, pastor da Igreja da Suécia em Örebro, é também autor do livro sobre preparação para desastres intitulado "O livro de preparação do pastor preparador – Como sobreviver, fazer o bem e espalhar esperança." Disponível apenas em sueco, o livro já vendeu mais de 2000 cópias.

Em 2013, após um ataque de teste russo na Suécia, o pastor Jonas Ahlforn von Beetzen começou a se dedicar à preparação para crises, ministrando cursos pela Agência de Defesa Sueca.

Com a guerra na Ucrânia em 2022, ele intensificou seus esforços para destacar a perspectiva cristã na preparação para desastres.

Jonas Ahlforn von Beetzen, da Suécia. (Foto: Arquivo pessoal)

Seu livro aborda duas áreas principais: a sobrevivência prática, destacando cinco elementos essenciais – comida, água, calor, informação e sono; e os aspectos espirituais, explorando como líderes e igrejas podem se mobilizar durante crises para apoiar a comunidade cristã e ajudar os necessitados.

Além do livro, Jonas Ahlforn von Beetzen ministra cursos para líderes cristãos que buscam preparar suas igrejas para agir de forma adequada em situações de crise. Ele destaca a importância de a igreja reconhecer o sofrimento das pessoas durante desastres e reflete: "Como podemos capacitar os outros para que tomem suas próprias decisões éticas?"

Embora a vida cotidiana na Suécia seja marcada por uma visão individualista, ele defende que a igreja deve ser uma exceção, promovendo a colaboração tanto antes quanto durante períodos de calamidade.

Ele destaca que muitos cristãos precisam cumprir com mais clareza a Grande Comissão de Jesus, rejeitando os padrões do mundo, como o individualismo e o humanismo, que frequentemente ignoram a necessidade de um Salvador, dificultando o discernimento teológico em tempos de guerra.

“Precisamos de uma visão pastoral que possa lidar com a escuridão do homem também.”

Ahlforn von Beetzen ressalta que, diante de uma crise, muitos tendem a politizá-la e tomar posições específicas. Porém, ele enfatiza que a Igreja Cristã deve adotar uma visão ampla e unir esforços quando desafios atingem a Europa.

Independentemente de a guerra atingir ou não a Suécia, Ahlforn von Beetzen afirma: "A humanidade, em diferentes momentos, sempre esteve em guerra e continuará assim até o retorno de Cristo."

"Podemos sofrer nesta vida, mas é apenas um vislumbre", em comparação à eternidade com Deus, ele afirma. "O que realmente importa é como você caminha com o Senhor."

Letônia

Martins Martinsons, pastor principal da Reformātu Pārdaugavas Draudze em Riga, Letônia, reconhece que a possibilidade de guerra está no horizonte. Apesar disso, a ideia de um conflito direto com a Rússia permanece como uma preocupação distante para muitas pessoas.

Ele afirma que não realizou "mudanças diretas" em seu ministério recentemente, mas mantém-se preparado para situações inesperadas. "Estamos prontos para reunir a congregação caso algo ruim aconteça", destaca.

Martinsons destaca que, em sua congregação, as decisões importantes são sempre tomadas em conjunto, como uma família da igreja. "Da mesma forma agiríamos diante da realidade da guerra, buscando ter uma visão ampla e integrada da família da igreja", afirma.

Martins Martinsons, da Letônia. (Foto: Arquivo pessoal)

Ele ressaltou a importância de a igreja oferecer sustento espiritual durante períodos de tribulação, complementando, quando necessário, com a distribuição de suprimentos essenciais aos mais necessitados.

A congregação de Martinsons ofereceu suporte durante uma crise próxima, unindo esforços para auxiliar na guerra na Ucrânia. Sua comunidade eclesiástica colaborou na entrega de medicamentos, no envio de apoio financeiro e na distribuição de capacetes para capelães que atuam na linha de frente.

Apesar da má publicidade recente sobre o auxílio à Ucrânia por parte de alguns partidos políticos e países, Martinsons defende que os líderes devem evitar politizar a crise e agir de forma proativa quando os desafios surgirem.

"Há espaço para desafiar aqueles que permanecem neutros," ele diz sobre a guerra na Ucrânia. "Precisamos ser graciosos. E todos somos irmãos e irmãs em Cristo."

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