O escritor e conferencista Daniel Mastral usou seu canal no YouTube na tarde de Natal para contar sua dor pela morte do filho Mikhael, que se suicidou no dia 22 de dezembro em uma plataforma de trem. Fruto do casamento de Daniel com a médica e escritora Isabela Mastral, o rapaz estava com 15 anos.
Com semblante visivelmente emocionado e abatido, Daniel Mastral começou a relatar sua difícil experiência sobre a morte do filho, diagnosticado anos antes com depressão e Síndrome de Borderline (transtorno de personalidade). No vídeo disse que dividir o peso o torna mais leve. “Precisamos uns dos outros e Deus quer que se sejamos um grupo de Cristo unido pelo amor”, disse antes de iniciar os relatos sobre a morte do filho. Para ele, o vídeo era também uma forma de trazer conforto para pais que perderam filhos tragicamente.
Mikhael Mastral vivia sob vigília dos pais, devido o grave quadro depressivo que atravessava. Daniel e Isabela se revezavam para cuidar do filho, inclusive nos períodos noturnos, por causa das crises que muitas vezes o tiravam de casa. O rapaz já havia tentado suicídio antes, chegando a ficar internado em uma Unidade de Terapia Intesiva (UTI).
Daniel disse que na manhã do dia 22 de dezembro acordou e não viu o filho. O menino havia saído, deixando celular e documentos em casa. Preocupado, Daniel não disse nada à esposa e saiu para procurar o menino com ajuda de parentes. Assim, embrenharam-se por uma área de mata perto de sua casa e nada de encontrarem o rapaz.
Tempos depois, Daniel Mastral, que é criador do Ministério Guerreiros da Luz e conhecido por realizar palestras sobre batalha espiritual, usou o Facebook de Mikhael falando sobre seu desaparecimento e pedindo informações para amigos do rapaz. Com a ajuda de um irmão policial registrou boletim de ocorrência e foram para um hospital, onde soube que uma pessoa havia recebido atendimento na psiquiatria por ter sido testemunha de um suicídio horas antes na plataforma de um trem.
Com essa informação foram até o Instituto Médico Legal (IML) onde Mikhael foi reconhecido por seu pai. Daniel Mastral ficou chocado com o que viu e disse que desejou cremar o corpo do filho para livrar-se logo da dor. Mas em caso de suicídio o corpo precisa, obrigatoriamente, ser sepultado. O corpo do menino foi colocado em caixão lacrado e enterrado no dia 23 de dezembro.
Isabela Mastral não participou do enterro do filho. “Eu vou orar por você, para que Deus te dê forças, porque eu não tenho”, disse ao marido. “Eu quero guardar as boas lembranças dele”, justificou.
Lágrimas em pérolas
Daniel contou que assim que chegou em casa chorou muito e abraçou a esposa. “Oramos por ele, clamamos por ele e pedimos força”, contou o escritor. Disse ainda que “até o presente momento temos procurado transformar todas as nossas experiências em propósitos, lágrimas em pérolas”.
Diante do drama da perda abrupta e trágica do filho, Daniel disse que questionou Deus e obteve resposta. “Por que o Senhor o tirou da gente? Era o filho da promessa... A primeira coisa que Deus me disse foi que ele deixou um legado”, contou mostrando um diário – um caderno de capa amarela – do filho onde registrava, desde o início e em inglês, como era passar pela depressão. Daniel fala que naquele diário o filho escreveu sobre como ele se sentia, como via o mundo ao seu redor, e que Mikhael se via como um peso para sua família.
Daniel conta que o filho era muito inteligente e tinha o QI (Quociente de Inteligência) acima da média, segundo aferição feita por um neuropsicólogo. “Existem registros que ele escreveu muito bem, escreveu frases que eu não teria capacidade de formular e que rementem à profundidade da dor de quem passa por uma situação como essa ou de quem chega a pensar em suicídio. Eu creio que isso é um dos legados que ele vai deixar, é uma das sementes que ele está deixando na terra. Nós vamos traduzir para o português e eu vou lançar um livro em homenagem a ele”, disse.
Daniel conta que o filho não deixou nenhum bilhete de despedida porque ele sabia que não é uma despedida. “Ele sabe que haverá um novo encontro. É um até breve. E eu sei que a cada dia da minha vida vai ser um dia que eu estou mais próximo dele. Quando minha missão terminar e Deus me levar, eu irei revê-lo novamente. mas ele já está lá morando na mansão celestial. Deus é amor. Ele vê o que você não vê. Ele consegue enxergar a dor da pessoa que não quer morrer, mas que quer se livrar da dor, do medo, da incapacidade”.
Daniel finaliza o vídeo com a leitura de um texto de Santo Agostinho, pausado em alguns momentos pela voz embargada. Ele pede oração pela sua família e compreensão aos seus seguidores, caso não consiga gravar vídeos com a mesma frequência com que os faz ou para responder as mensagens que tem recebido desde que tornou seu drama público. “Eu não tenho cabeça [para isso] nesse momento”, disse.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições