Descoberta médica israelense elimina 70% dos tumores cancerígenos

Em fase de testes clínicos, tecnologia inovadora promete tratar qualquer tipo de tumor sólido.

Fonte: Guiame, com informações do Israel21cAtualizado: quarta-feira, 9 de janeiro de 2019 às 12:58
Imagem ilustrativa de órgão em tratamento. (Foto: Divulgação/Alfa Tau)
Imagem ilustrativa de órgão em tratamento. (Foto: Divulgação/Alfa Tau)

Quinze anos atrás, os professores Yona Keisari e Itzhak Kelson, da Universidade de Tel Aviv, descobriram uma maneira de usar a radiação alfa para eliminar tumores. De acordo com os pesquisadores, a tecnologia inovadora elimina tumores cancerígenos sólidos em 70% dos pacientes.

Os cientistas dizem que a abordagem se mostrou revolucionária, pois a “radiação alfa é tão poderosa que pode romper os dois filamentos do DNA de uma célula cancerosa sem prejudicar o tecido saudável ao redor”, como fazem outros tipos de radiação.

Os cientistas dizem que a demora na aplicação da técnica ocorreu porque os trabalhos ficaram “perdidos” na burocracia e na política universitária.

Com a juda de empresas investidoras, as pesquisas puderam finalmente chegar ao estágio de testes clínicos. A promessa é de que o tratamento ajude a tratar diferentes tipos de tumores sólidos.

A longa jornada das pesquisas 

Os cientistas dizem que o trabalho ficou todos esses anos “perdido” na burocracia e na política universitária.

Os professores e a Universidade de Tel Aviv patentearam a tecnologia em 2003. Novas pesquisas foram conduzidas e 12 artigos revisados ​​por outros pesquisadores foram publicados. Mas as disputas entre as várias partes interessadas sobre a propriedade intelectual mantiveram seu avanço no limbo até 2015, quando Uzi Sofer foi recrutado para resolver as coisas. 

Sofer tinha um histórico impressionante em tecnologia médica. Foi cofundador e atuou como CEO da Brainsway, que desenvolve tratamentos usando estimulação magnética transcraniana (TMS) para depressão, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e outras desordens e vícios do cérebro.

Percebendo o que os professores tinham, Sofer formou uma nova empresa – Alpha Tau (o “Tau” significa Universidade de Tel Aviv) – para desenvolver ainda mais a tecnologia. No início deste ano, a Alpha Tau arrecadou 29 milhões de dólares como aporte para a continuidade dos trabalhos.  

Com a parceria, a tecnologia foi denominada Alpha DaRT (“Difusão de Radiação em Emulsões Alfa-Radio”). 

Estímulo ao sistema imunológico 

A Alpha Tau é a única empresa a usar radiação alfa para tumores (DaRT). Terapias conhecidas usam radiação beta ou gama. Sofer explica que as existentes “não são tão focadas e os resultados causam muitos efeitos colaterais com destruição de tecidos saudáveis”. Já a radiação alfa “só causa uma ruptura de fita única no DNA, da qual a célula pode se recuperar”, explica. 

Quando o tecido saudável ao redor do tumor não é destruído junto com o câncer, o sistema imunológico é estimulado a reconhecer e atacar os mesmos tipos de tumores em outras partes do corpo. Esses tipos de metástases são a causa da morte em 85% dos pacientes com câncer. 

“Acreditamos que a tecnologia DaRT tem um enorme valor clínico não apenas na destruição do tumor, mas também na prevenção do câncer se espalhar para outros órgãos”, diz Sofer. 

Testes clínicos 

Os pesquisadores contam que milhares de estudos com animais já foram realizados com a Alpha DaRT. Os primeiros testes em seres humanos com a tecnologia foram realizados em Israel e na Itália para os tumores de carcinoma de células escamosas (CCE), uma forma de câncer de pele e bucal; e em Israel, Itália, Nova York e Montreal para nevo melanocítico congênito (NMC) – pequenas manchas marrons regulares na pele. 

Os ensaios clínicos do DaRT planejados para 2019 serão realizados na França (NMC), Montreal e Nova York (câncer pancreático e de próstata), Rússia (câncer de mama) e Israel (câncer de próstata). Testes adicionais serão iniciados mais tarde por mais de 20 outras indicações – como câncer vulvar, cervical, renal e de cólon – em centros médicos em mais de 25 países. 

“Podemos tratar qualquer tipo de tumor sólido”, disse Sofer em entrevista à ISRAEL21c, “incluindo cânceres onde não há outra chance e esta é a última chance de um paciente viver”. 

O câncer de pâncreas, por exemplo, hoje não tem cura; os pacientes geralmente morrem dentro de cinco anos após o diagnóstico. As “sementes” do DaRT da Alpha Tau podem ser capazes de mudar esse prognóstico. 

Sofer afirma que nos estudos das células com carcinoma, conseguiram eliminar mais de 70% dos tumores e causar o encolhimento de 100% deles. “Encorajados por esses resultados promissores, esperamos eliminar também os tumores pancreáticos ou encolhê-los para que seja possível removê-los cirurgicamente”. 

Kits Personalizados de Tratamento 

Apesar do poder da radiação alfa, ela é mais segura do que os tratamentos convencionais beta ou gama.  

“Você não precisa de muita radioatividade para obter o mesmo efeito”, explica Sofer. “Podemos enviar nosso kit de tratamento para hospitais quase em caixas normais. Os pacientes podem ser tratados em um ambiente ambulatorial sem proteção radioativa”. 

Após menos de uma semana, 50% da radiação alfa já terá desaparecido do corpo. Em duas semanas, não haverá mais radioatividade. 

Perecível 

Ao ser montado, o kit do DaRT deve ser enviado para a instalação de tratamento rapidamente. “Se por algum motivo um paciente não chegar na hora, no dia seguinte você precisará colocar o kit inteiro no lixo”, diz Sofer. 

Devido à rápida decadência do DaRT, o Alpha Tau precisará construir instalações de produção próximas aos principais centros de tratamento. O primeiro já está sendo feito em Israel. A empresa recebeu aprovação para construir uma instalação em Massachusetts. O terceiro será no Japão, com um quarto na Europa, diz Sofer. 

Sob a liderança de Sofer, o Alpha Tau agora tem 26 funcionários em Israel, incluindo os professores que inventaram a tecnologia principal. Após testes clínicos, Sofer espera que o Alpha DaRT receba a aprovação da União Europeia em 2020 e dos os EUA e o Japão em 2022. 

“Já estamos salvando vidas nos testes”, diz ele. “É incrível ver pacientes que disseram que sua expectativa de vida de semanas receber tratamento sob anestesia local e, após 60 dias, eles são claros, não têm evidência de nenhum tumor”.

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