Os moradores da Coreia do Norte, que vivem próximos à fronteira com a China, estão vendendo suas casas a preços baixíssimos para arrecadar dinheiro para alimentos, enquanto o país se prepara para a chegada do inverno em meio a pior escassez desde a fome dos anos 1990.
Grande parte da economia da Coreia do Norte depende do comércio com a China. Com a pandemia, a fronteira entre os dois países fechou, privando a indústria de matérias-primas e os comerciantes de mercadorias para vender.
Além de prejudicar a economia, o fechamento também interrompeu a importação de alimentos da China, que supria a lacuna entre a produção e a demanda alimentar da Coreia do Norte. Assim, o preço dos poucos alimentos disponíveis no país dispararam.
Na cidade de Sinuiju, na fronteira noroeste, toda a população, exceto os mais ricos, estão vendendo suas residências para poder comprar comida neste inverno.
“Estranhas transações imobiliárias estão aumentando com a queda repentina da temperatura. Moradores pobres, que estão sofrendo dificuldades, estão vendendo suas casas para comprar comida, enquanto os ricos aproveitam a oportunidade para comprar imóveis a preços baixos”, relatou um morador à Rádio Free Asia, no dia 2 de novembro.
Até mesmo apartamentos de luxo de Sinuiju estão se desvalorizando no mercado imobiliário e sendo vendidos. “À medida que aumenta o número de casas à venda neste inverno, os preços das unidades no luxuoso prédio de apartamentos de formato circular ao longo do rio Yalu também estão despencando. É um dos melhores apartamentos de Sinuiju”, afirmou o morador, que se manteve anônimo por questões de segurança.
Os norte-coreanos que compraram um apartamento com vista para o rio no prédio luxuoso pagaram 30.000 yuans (4.698 dólares) e hoje estão vendendo o imóvel por metade desse valor, devido à crise econômica causada pela pandemia do Covid-19.
Um apartamento no luxuoso prédio em forma de círculo costumava ser o desejo das elites da cidade, mas a situação mudou.
“No passado, moradores ricos competiam para comprar um apartamento ali. A maioria deles ganhou muito dinheiro com o comércio com a China. Os residentes agora estão lutando para sobreviver, já que o comércio entre a Coreia do Norte e a China foi bloqueado por quase dois anos devido à crise do coronavírus”, disse o morador.
A propriedade privada de imóveis é tecnicamente ilegal na Coreia do Norte. Segundo a constituição, todas as propriedades são do estado, e o governo concede residências aos cidadãos por períodos de tempo.
Segundo a Rádio Asia Free, os norte-coreanos desesperados por dinheiro para se alimentar venderão suas autorizações de moradia para residentes mais ricos e comprarão casas mais baratas na área rural.
“Agora é difícil conseguir comida suficiente na cidade. No inverno, os moradores têm que preparar comida e lenha”, disse uma segunda fonte, a Rádio Asia Free. “Encontrar água potável em uma longa distância às vezes exige a venda de uma casa de dois cômodos, que foi comprada economizando muito dinheiro suado, por apenas mil yuans (156 dóalres)”.
Durante a crise econômica e fome que assola o país comunista, a vida urbana se tornou cara para a maioria da população e, por isso, muitos estão migrando para áreas rurais o mais rápido que conseguem.
“Eles estão deixando suas casas vazias e se mudando para o campo, mesmo que suas casas não vendam”, disse a segunda fonte.
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