“Enquanto isso, no Marajó”: Exploração de crianças denunciada por Damares volta ao debate

Quando era ministra de Direitos Humanos, Damares já havia denunciado a exploração e o tráfico sexual de menores, mas foi criticada e acusada de fake news.

Fonte: GuiameAtualizado: sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024 às 13:43
Ilha de Marajó. (Foto: Imagem ilustrativa/Instagram/Instituto Akachi).
Ilha de Marajó. (Foto: Imagem ilustrativa/Instagram/Instituto Akachi).

Nos últimos dias, a exploração sexual de crianças na Ilha do Marajó (PA) se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais e chocou muitas pessoas.

A discussão do grave problema social iniciou após um vídeo da apresentação da cantora Aymeê Rocha no reality show gospel “Dom” viralizar. 

Em sua música autoral, a jovem denuncia o abuso e sequestro de menores na ilha paraense: “Enquanto isso no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara”.

A canção foi discutida no meio cristão e repercutiu na imprensa, com vários artistas seculares se posicionando contra a cultura de exploração sexual na ilha.

Denúncias anteriores

Denúncias sobre a exploração de menores na Ilha de Marajó já haviam sido feitas por Damares, quando era ministra de Direitos Humanos no governo de Bolsonaro.

Em 2020, a então ministra lançou o programa “Abrace o Marajó” para combater o problema na região. Durante um culto em 2022, Damares relatou alguns dos casos que recebeu.

“Nós descobrimos que nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. O Marajó faz fronteira com o mundo, Suriname, Guiana. Nós temos imagens de crianças brasileiras, com 3, 4 anos, que, quando cruzam as fronteiras sequestradas, os seus dentinhos são arrancados para não morderem na hora do sexo oral”, disse.

Na época, Damares se tornou chacota devido às denúncias que fez e foi acusada de espalhar fake news. Figuras públicas, como Xuxa Meneghel e Patrícia Pillar, chegaram a pedir a cassação do seu mandato.

Após a repercussão da música de Aymeê, o atual Ministério dos Direitos Humanos se manifestou, afirmando que tem adotado ações no Marajó para combater o abuso e a exploração de crianças e adolescentes.

“A realidade de exploração sexual na região sabe-se preocupante e histórica, mas não autoriza sua utilização de forma irresponsável e descontextualizada. Isso apenas serve ao estigma das populações e ao agravamento de riscos sociais”, declarou o ministério em nota.

Realidade que choca

Em entrevista ao Guiame, o pastor Lucas Hayashi, que é diretor do Instituto Akachi (uma missão que atua na Ilha de Marajó), contou que a exploração sexual de menores na região é real.

Um dos líderes da Zion Church, Lucas diz que esteve no Marajó várias vezes, onde pode testemunhar uma realidade marcada pela falta de desenvolvimento, educação, saúde e, consequentemente, muita miséria.

“É evidente o abandono por parte dos órgãos públicos locais, que deveriam ser responsáveis por garantir dignidade à população e transformar essa triste realidade”, esclarece.

“Apesar de esforços anteriores, como o programa ‘Abrace Marajó’, promovido pelo governo Federal, parece que pouco tem mudado ao longo do tempo, e infelizmente o atual governo acaba de revogar este programa”, relata.

‘O véu do silêncio’

Questionado sobre as denúncias de comercialização de órgãos de adultos e crianças, que vez ou outra surgem, e da negação de que esse crime aconteça no Brasil, o pastor disse que é alarmante pensar que muitas ocorrências permanecem ocultas no país.

“Muitas vezes, quando tentamos expor essas situações, os envolvidos preferem manter um véu de silêncio, com receio de expor quem está lucrando com essas práticas ilegais. Por isso, é vital encorajar as denúncias”.

E alerta: “No entanto, é crucial que os canais de denúncia sejam conduzidos por pessoas íntegras e justas, capazes de levar adiante essas informações para uma investigação séria e, consequentemente, uma punição conforme a lei”.

Para Lucas, isso tem uma razão de ser: “Infelizmente, vemos casos em que denúncias e provas são apagadas por indivíduos e instituições que deveriam promover a justiça, mas acabam encobrindo os fatos, favorecendo o comércio ilícito e perpetuando a problemática dos abusos e tráfico humano”.

O papel da Igreja

Casado com Jackeline Hayashi, pai de Matheus de 15 anos e Bianca de 11 anos, Lucas diz que a Igreja pode desempenhar um papel crucial na luta contra os abusos e crimes envolvendo crianças no Brasil.

E explica: “Em primeiro lugar, é fundamental que a igreja esteja consciente da gravidade do problema, pois sem esse conhecimento, não poderá interceder e agir de forma eficaz”.

E continua: “Em seguida, a oração é essencial para pedir a proteção de Deus sobre as crianças e para buscar estratégias ativas de intervenção. Isso inclui o engajamento de pessoas influentes em diversas esferas, como política, negócios e comunicação, para promover uma transformação significativa nessa situação abusiva que afeta as crianças”.

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