Durante os esforços para combater as gangues no Haiti, o presidente do Quênia, William Ruto, recrutou pastores evangélicos que servirão de canal entre ele e as comunidades haitianas.
O trabalho dos pastores antes da missão de paz, que deverá começar no final deste mês, incluíram reuniões com haitianos nos Estados Unidos, bem como com parceiros evangélicos, funcionários do governo americano e até mesmo com um líder de uma gangue do Haiti, Jimmy “Barbecue” Cherizier.
“Acreditamos que somos uma ferramenta que Deus usará para ajudar”, afirmou Serge Musasilwa, um pastor no Quênia envolvido na ação.
Musasilwa é sociólogo e trabalhou na resolução de conflitos em sua terra natal, a República Democrática do Congo, e em vários outros países africanos.
As pessoas envolvidas na iniciativa relatam que as relações estabelecidas com as comunidades haitianas ajudarão a força multinacional liderada pelo Quênia a evitar os erros das intervenções estrangeiras no Haiti dos últimos anos.
'Diplomacia da Fé'
Enquanto envolvem líderes evangélicos em questões de Estado, Ruto e sua esposa, Rachel, demonstram sua fé publicamente.
Através do programa de “diplomacia da fé” da Primeira Dama, eles recrutam líderes religiosos para apoiar iniciativas sociais.
Em março, Rachel explicou que o grupo estava trabalhando por uma “solução espiritual” para o Haiti.
“Não podemos permitir que a nossa polícia vá ao Haiti sem orar”, disse ela, segundo um vídeo publicado pelo jornal queniano The Star.
O envolvimento dos pastores na política do Haiti destaca o compromisso do presidente Ruto com a missão, que permaneceu inabalável apesar dos repetidos atrasos e da oposição de muitos quenianos proeminentes.
Por anos, muitos cristãos se interessam pelo Haiti devido à magnitude da sua crise humanitária e às preocupações com as crenças tradicionais do Vodu.
Segundo a ONU, o Haiti é o país menos desenvolvido do Hemisfério Ocidental, e enfrenta uma violência crescente de gangues que matou mais de 1.500 pessoas nos primeiros três meses deste ano.
“Acho que, antes de mais nada, é uma expressão de sua fé”, disse Pete Inman, empresário americano e evangélico próximo aos Rutos.
Ele acrescentou que também havia uma motivação estratégica para a missão porque reforçou os laços com os EUA, o principal financiador do projeto.
Inman disse que conectou Musasilwa com Fred Eppright, que lidera o braço da Missão Batista Haiti nos EUA, depois que Ruto anunciou a missão.
Musasilwa visitou Eppright em Austin, Texas, no final do ano passado e depois o convidou a Nairobi, com outros colegas, em março.
Lá, durante quatro dias no Weston Hotel, Jean-Louis, Eppright e dois outros evangélicos americanos oraram e planejaram estratégias com quatro pastores quenianos antes de se juntarem a Rachel.
“Foi um mergulho profundo de quatro dias sobre como eles fariam o envolvimento”, disse Eppright.
O grupo elaborou um documento que Rachel apresentou ao marido alguns dias depois, com propostas que abordam quatro temas: lei e ordem, situação humanitária, liderança política e uma componente espiritual.
No mês seguinte, a primeira dama e três dos pastores viajaram para Austin e Miami, onde se encontraram com evangélicos, membros da diáspora haitiana e líderes de departamentos de polícia.
“Os membros da diáspora haitiana fizeram propostas a serem transmitidas ao presidente Ruto, abrangendo tudo, desde a autoridade legal para a missão até a sua duração”, disse Jean-Louis.
Gangues no Haiti. (Foto: Reprodução/Reuters)
‘Problemas Espirituais’
Enquanto estavam nos EUA, os pastores quenianos realizaram uma reunião online com líderes de gangues haitianas, incluindo Barbecue, um ex-policial que afirma liderar uma aliança de grandes gangues chamada “Viv Ansanm”.
Musasilwa, que liderou a conversa, se recusou a entrar em detalhes, mas está com esperança de que o conflito possa ser resolvido pacificamente.
“Esse cara pode ser um demônio, mas há algo em que podemos construir”, disse Musasilwa.
Musasilwa contou que também se reuniu com funcionários do Departamento de Estado dos EUA. Apesar do foco nos aspectos práticos do envio, Musasilwa e outro pastor, Julius Suubi, declararam estar convencidos de que os problemas do Haiti eram principalmente espirituais.
Segundo dados do governo, cerca de 2% dos haitianos se identificam como adeptos do Vodu, que combina a crença num único deus com a adoração de espíritos.
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