Ilha de Marajó: AGU vai investigar “desinformação” sobre exploração sexual infantil

Entre as denúncias, está o caso de uma bebê de 51 dias que foi estuprada por um abusador de 71 anos.

Fonte: Guiame, com informações do g1Atualizado: segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024 às 14:49
Ilha do Marajó ficou conhecido pelo tráfico humano e abuso sexual de crianças. (Captura de tela: YouTube/Domingo Espetacular)
Ilha do Marajó ficou conhecido pelo tráfico humano e abuso sexual de crianças. (Captura de tela: YouTube/Domingo Espetacular)

O ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, afirmou em suas redes sociais, no sábado (24), que o órgão vai investigar se “redes de desinformação” atuaram para espalhar informações falsas sobre a situação de crianças na Ilha do Marajó, no Pará.

A investigação, segundo o ministro, será coordenada pela Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia (PNDD): “Determinei à PNDD que atue imediatamente na identificação de redes de desinformação, que criam desordem informacional sobre a Ilha de Marajó. Os marajoaras merecem respeito e um tratamento digno de todo o Poder Público”.

Para Jorge Messias, é importante “desarticular redes de tráfico humano e exploração sexual e infantil em todo o território nacional”. Ele disse ainda que as crianças devem ser protegidas “sem a propulsão de notícias falsas”, conforme o G1. 

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também comentou o tema na rede social X (antigo Twitter): “É isso, ministro Jorge Messias. Não vamos permitir a difamação de uma região por oportunistas que se valem de um grave problema nacional como o da proteção de crianças e adolescentes para alavancar interesses políticos ou financeiros”. 

Realidade à tona

Embora a onda de informações sobre a realidade na Ilha do Marajó seja vista como “oportunismo”, há cada vez mais notícias sobre o aumento da violência e da exploração infantil na região.

O grave problema social ganhou destaque após um vídeo que viralizou nas redes sociais, com a apresentação da cantora Aymeê Rocha, no reality show gospel “Dom”, com a canção “Evangelho de Fariseus”. 

Em sua música autoral, a jovem denuncia o abuso e sequestro de menores na ilha paraense. A canção foi discutida no meio cristão e repercutiu na imprensa, com vários artistas seculares se posicionando contra a cultura de exploração sexual na ilha.

“Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, minha terra. E lá tem muito tráfico de órgãos. Lá é normal isso. Tem pedofilia em nível hard”, disse a artista. 

Ao longo da última semana, influencers e artistas passaram a divulgar imagens e informações sobre a situação, mas, segundo o governo, “os materiais são falsos” e alega que há vídeos gravados em outros países e divulgados como se fossem no Brasil.

Vale lembrar também do filme “Som da Liberdade”, que conta a história real de Tim Ballard, um ex-agente federal dos Estados Unidos que largou a carreira para se dedicar ao resgate de crianças sequestradas pelo tráfico sexual. 

Denúncias sobre abuso infantil

A ex-ministra de Direitos Humanos, Damares Alves, foi atacada por sensacionalismo e por espalhar fake news em torno das denúncias feitas sobre o abuso infantil na Ilha do Marajó. 

Na ocasião, em 2020, ela lançou o programa “Abrace o Marajó” para tentar combater o problema. Em 2022, durante um culto, ela chegou a relatar alguns dos casos que recebeu.

“Nós descobrimos que nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. O Marajó faz fronteira com o mundo, Suriname e Guiana. Nós temos imagens de crianças brasileiras, com 3, 4 anos, que, quando cruzam as fronteiras sequestradas, os seus dentinhos são arrancados para não morderem na hora do sexo oral”, disse na época.

‘Menina de 51 dias foi estuprada por abusador de 71 anos’

Recentemente, a deputada federal do Amapá, Sílvia Nobre Waiãpi, disse durante uma Comissão de Combate à Violência Contra Mulher: “Até quando nossa voz vai ecoar apenas para as mulheres da cidade? Até quando nossa voz vai permitir que meninas sejam entregues a ‘casamento’ porque nós precisamos comer?”.

A deputada compartilhou que meninas ribeirinhas e indígenas, entre 10 e 11 anos, engravidam porque são entregues a exploradores sexuais em troca de dinheiro: “Eu trago para vocês os gritos das crianças do Norte que não podem se defender”. 

“O que nós estamos fazendo?”, questionou ao revelar um dos piores casos já vistos na Ilha do Marajó: “Eu trago aqui a dor de uma mãe que viu a filha de 51 dias sendo estuprada por um homem de 71 anos”. 

Igreja em ação

Em setembro do ano passado, em entrevista ao Guiame, o pastor Lucas Hayashi — diretor do Instituto Akachi, uma missão que atua na Ilha de Marajó — disse que a exploração sexual de menores na região é real.

Ele contou que esteve no Marajó várias vezes e que testemunhou uma realidade miserável: “É evidente o abandono por parte dos órgãos públicos locais, que deveriam ser responsáveis por garantir dignidade à população e transformar essa triste realidade”.

“Apesar de esforços anteriores, como o programa ‘Abrace Marajó’, promovido pelo governo Federal, parece que pouco tem mudado ao longo do tempo, e infelizmente o atual governo acaba de revogar este programa”, comentou na ocasião. 

Segundo o pastor, apesar das denúncias, os crimes permanecem ocultos: “Muitas vezes, quando tentamos expor essas situações, os envolvidos preferem manter um véu de silêncio, com receio de expor quem está lucrando com essas práticas ilegais”. 

Mas Hayashi acredita que a Igreja pode desempenhar um papel crucial em defesa das crianças exploradas do Norte do país: “Em primeiro lugar, é fundamental que a Igreja esteja consciente da gravidade do problema, pois sem esse conhecimento, não poderá interceder e agir de forma eficaz”.

“Em seguida, a oração é essencial para pedir a proteção de Deus sobre as crianças e para buscar estratégias ativas de intervenção. Isso inclui o engajamento de pessoas influentes em diversas esferas, como política, negócios e comunicação, para promover uma transformação significativa nessa situação abusiva que afeta as crianças”, concluiu. 

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