Muçulmanos lutam pelo direito de matar suas esposas e filhas, no Paquistão

Líderes extremistas consideram a lei de proteção a mulher é "anti-islâmica", alegando que ela contradiz os versos do Alcorão.

Fonte: Guiame, com informações de New York PostAtualizado: quarta-feira, 6 de abril de 2016 às 18:59
Naila Farhat, de 22 anos, é uma paquistanesa sobrevivente a um ataque com ácido. A jovem segura uma foto que mostra seu rosto antes do ataque. (Foto: AP)
Naila Farhat, de 22 anos, é uma paquistanesa sobrevivente a um ataque com ácido. A jovem segura uma foto que mostra seu rosto antes do ataque. (Foto: AP)

Extremistas islâmicos se uniram em um protesto no Paquistão para recuperar o direito de abusar e matar suas esposas e filhas.

A controvérsia começou quando o governo paquistanês introduziu lei proteção às mulheres, que criminaliza a violência contra as mulheres em Punjab, região mais populosa do país.

Antes de a lei ser promulgada no dia 1º de março, extremistas tentaram bloquear a legislação, alegando que a decisão iria "destruir o sistema familiar no Paquistão" e "seria acrescentado às misérias das mulheres."

O projeto de lei foi elaborado no ano passado pelo partido do primeiro-ministro, Nawaz Sharif. A ideia surpreendeu a população, já que o partido era conhecido por favorecer os grupos extremistas religiosos.

A violência contra as mulheres é uma questão social característica do Paquistão. Esposas e filhas ainda são, muitas vezes, tratadas como propriedade doméstica. Crimes de honra, ataques com ácidos, queimaduras, casamentos de crianças e abuso sexual são comuns no país.

De acordo com a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, cerca de 1.100 mulheres foram mortas por parentes apenas no ano passado. Na maioria destes casos, a vítima geralmente é assassinada por um membro da família do sexo masculino.

Líderes islâmicos reuniram grandes esforços para bloquear a nova legislação. Eles consideram o projeto de lei "anti-islâmico", alegando que ele contradiz os versos do Alcorão.

"As leis entram em conflito com o Santo Alcorão, a vida de Maomé, a Constituição do Paquistão e os valores do nosso país", disse Maulan Fazlur Rehman, chefe do partido Jamiat Ulema-e-Islam-Fazl. "Marido e mulher são considerados parceiros no Ocidente, mas não é o caso do Paquistão".

Mohammed Hanif resumiu ao New York Times como funciona a lógica de crimes distorcida pelas leis do Paquistão. "Se você bater em uma pessoa na rua, isso é considerado uma agressão criminosa. Se você bater alguém em seu quarto, você está protegido pela santidade de sua casa. Se você matar um estranho, é assassinato. Se você atirar em sua própria irmã, você está defendendo a sua honra.”

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