A missionária metodista Márcia Suzuki, diretora da ONG Atini, disse que entidade luta na justiça para proteger crianças indígenas de sacrifícios. Em entrevista concedida ao portal UOL Paraná ela trouxe “a verdadeira história” da jovem índia Arã, como é chamada Alcilane Arã Oliveira da Silva, que “sofria estupro coletivo e foi resgatada pela ONG fundada por Damares Alves”.
Na noite desta quinta-feira (14), a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) escreveu em seu Twitter: “Amanhã uma tal revista vai publicar mais uma matéria nos acusando de sequestro. O UOL Paraná se antecipou e contou a verdadeira história. Leiam e descubram o que nunca revelamos publicamente”.
Recentemente, Damares e a ONG Atini foram alvo de uma matéria da revista Época, que colocava a ministra como responsável pelo sequestro da jovem Kajutiti Lulu Kamayurá. A matéria foi rechaçada e chamada de mentirosa pelos envolvidos na “denúncia” da revista.
Filha adotiva de Damares desde os 6 anos, a própria Lulu desmentiu a revista gravando um vídeo onde defende sua “mãe”. Dias depois, a família da jovem esteve pessoalmente com a ministra como sinal de que são amigos e confiam na ministra.
Lulu disse que o que houve ela e Damares foi “amor à primeira vista, o resto é mentira”.
Novas denúncias
Desta vez, outra matéria trará a história de Arã, uma jovem indígena do povo Sateré Mawé Arã, que segundo a publicação (cujo nome não foi divulgado pela ministra) também foi sequestrada pela ministra do governo Bolsonaro.
Após escrever no Twiiter, a ministra deixou o link da matéria publicada pelo UOL Paraná, que revela que Arã foi salva pela ONG dirigida por Damares, pois sofria abusos e estupros coletivos. “A reportagem teve acesso com exclusividade a um laudo antropológico finalizado em 2019 que traz uma reviravolta em um caso que tem como pano de fundo práticas culturais nocivas e os invisíveis heróis do infanticídio”.
De acordo com a reportagem do UOL Paraná, “o imbróglio começa quando de um lado, a ATINI, entidade que salvou mais de 50 crianças da prática do infanticídio e de práticas culturais nocivas diz que salvou a menina da situação de risco. Do outro lado o MPF nega que existia estupro coletivo e infanticídio indígena entre o povo Sateré e, portanto, Alcilane e sua filha deveriam ficar na aldeia".
Pais confirmam abusos
Na audiência ocorrida em 19 de setembro de 2016, no Fórum da cidade de Maués (AM), a convite do Ministério Público e da Justiça Federal, o pai da jovem, Zevaldo de Oliveira afirmou que a filha sofreu constantes abusos sexuais e, por este motivo, resolveram deixar a aldeia.
Uma enfermeira e agente da saúde indígena também confirma o crime. Ela compartilhou suas experiências e a triste realidade de abusos que testemunhou, trazendo assim um panorama dramático da situação a que são submetidas algumas das mulheres daquela etnia, sem que possam encontrar apoio ou suporte das autoridades responsáveis até os dias de hoje.
Edilene Sateré, irmã de Alcilane também foi ouvida pela reportagem em vídeo gravado nesta terça-feira (12) e confirmou os abusos sexuais na aldeia, que são escondidos pela justiça. O depoimento desta indígena coloca em xeque a ação do MPF que nega o estupro coletivo na aldeia, mesmo sem ter visitado o local.
De volta
A reportagem diz que quando Arã completou a maioridade, o Ministério Público Federal, mesmo sabendo dos riscos, solicitou o encaminhamento de volta para a aldeia indígena onde ela sofrera abusos em parte de sua infância e adolescência.
O MPF pegou uma adolescente vulnerável, com deficiência, vítima de maus tratos e estupro coletivo, e a reinseriu no ambiente de risco. Antes de ser “devolvida” para aldeia pela justiça, ela foi encaminhada ao abrigo municipal Casa Comunitária, em Duque de Caxias, destinado a adolescentes do sexo feminino.
Isolaram-na num abrigo e não permitiram qualquer contato com os cuidadores e nem mesmo com os parentes da menina. A jovem permaneceu isolada neste abrigo, sem receber visitas, a despeito dos pedidos dos cuidadores e dos parentes indígenas, que queriam cuidar dela. A jovem indígena disse a familiares que se sentia em uma cadeia para menores.
O estudo traz uma reviravolta no caso e mostra que, no início da adolescência, em sua aldeia do povo Sateré Mawé, Alcilane foi submetida a estupro coletivo e abusos com frequência. Conhecido pelos indígenas como “puxirum”, o abuso coletivo, embora não sendo tradicional da cultura Sateré, parece ser uma conduta comum em algumas tribos no Brasil.
Atini
Márcia Suzuki diz que seu desejo é que o Governo Federal ajude-os a proteger essas crianças. Ela conta
Na entrevista ao Agora Paraná, ela informou que desde sua fundação a Atini desenvolveu um programa de apoio ao estudante indígena, no qual “recebíamos estudantes de várias tribos que precisavam de ajuda para concluir seus estudos”.
A ONG aproveitava este programa para conscientizar jovens indígenas sobre os direitos das crianças em situação de vulnerabilidade nas aldeias. Em 2010 receberam Zevaldo Pereira, agente de saúde da tribo Sateré-Mawé, juntamente com sua esposa e quatro filhos, como parte deste programa. Entre os filhos estava a jovem Alcilane (Arã), cujo objetivo era cuidar da saúde dela na chácara e protegê-la dos abusos sexuais, tudo com autorização da FUNAI.
A ONG Atini, que atualmente abriga 12 famílias que recebem mantimentos e cuidados médicos.
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